Preocupados com a taxa de juros nacional que desaconselha os crediários, fizemos uma reunião emergencial do Conselho do Principado de Água Santa para discutir a Black Friday como solução para os presentes de Natal. Hora difícil e cara. Reunidos ao redor do computador, e munidos, inicialmente, de uma xícara de café e algumas ideias, fizemos uma ronda pelas lojas de departamentos virtuais, já que o comércio físico está aos poucos desaparecendo.
O vizinho de boreste, um dos mais antigos do grupo, lembrou das opções boas e baratas do passado:
- Que tal uma agenda de papel com o calendário de 2026?
- Amigo, ninguém mais usa!
- E um disco ou CD?
- A música agora é baixada de uma nuvem qualquer.
- Três meias para os meninos, uma camiseta regata para as meninas, apelou o vizinho.
E aí, o rosário das antigas lembranças natalinas disparou: bibelôs de louça, chaveiros, potes de pó de arroz, o primeiro sutiã da filha ou sobrinha, aqueles baldinhos de plástico, que vinham com pá, garfo e formas de peixe e estrela. Para a garotada que, como eu, morava no subúrbio, longe da praia, o jeito de inaugurar o brinquedo era esburacando o jardim do quintal de casa.
No meio do devaneio, alguém lembrou que, bom mesmo, era nos velhos tempos do cartão de natal - tava resolvido o problema. E tinha de todo tipo: com temas religiosos, tipo Jesus na manjedoura e os três reis magos; e temas mais natalinos, como Papai Noel com o saco de presentes ou de carona com as renas.
Cartões luxuosos, feitos em papel cartolina e brilhantes, e escritos com tintas douradas!! Alguns, tinham até musiquinha quando a gente abria.
Hoje, mesmo que você invente de dar um cartão desses antigos, fica faltando o carteiro para entregar o mimo.
Júlio lembrou da tia que todo ano trazia para ele um guarda-chuva novinho, que era devidamente embrulhado e repassado para outro familiar que aparecesse de surpresa no almoço após a ceia de véspera.
Lembrei do LP do Roberto. Minha avó comprava e distribuía uns cinco ou seis.
Bira decidiu dar uma zapeada nos presentes que estão no top 10 das promoções do Black Friday. Claro, os smartphones lideram a lista dos mais pedidos. Mas não tem promoção que dessalgue os preços desses aparelhos. Fred, então, sugeriu dar celulares velhos, aqueles já descartados:
O nome disso é Vintage – disse, sobre essa moda de chamar coisa velha de clássico. – E fora o fato que são excelentes para enganar ladrão – justificou.
Pra aguçar as ideias, a patroa trouxe umas rabanadas e biscoitos amanteigados, que chegaram fumegantes!
Alertei aos amigos que nem toda Black Friday é séria. Muitos comerciantes gulosos aumentam bem os preços de alguns produtos dias antes, pra parecer que os descontos são “imperdíveis”! É bom anotar os preços do presente desejado no mês anterior pra não se deixar enganar.
Depois de três rabanadas, dois cafés e muito zapear, Ibiapina propôs uma solução à moda antiga:
– E se fôssemos in loco verificar a Black Friday das lojas que já nasceram na promoção? Mercadão de Madureira ou Mercado Popular da Uruguaiana?
E quando chega dezembro, os preços disparam. Do jeito que a coisa anda, até mesmo a alimentação das renas está pela hora da morte. É capaz do Papai Noel esse ano vir de moto táxi!