As ararinhas passam duas vezes ao dia aproveitando o excesso de frutas aqui da Pitangueira. E fazem uma verdadeira algazarra. Aliás, duas: uma, no início da manhã, e outra, no fim da tarde. Dá gosto ver a felicidade delas. Então, os amigos aqui organizaram a vigília da chegada das aves pra acompanhar de perto esse pequeno espetáculo da natureza. É uma festa.
Pontualidade britânica. Às seis em ponto, vem um bando. Às 17h, outro. Tentamos até contar o número de aves, mas mesmo dividindo a tarefa entre os veteranos daqui do Principado de Água Santa, foi impossível contabilizar. Elas se misturam e se alinham, numa espécie de balé sincronizado... Gozado, como, mesmo tão próximas, não batem suas asas umas nas outras.
Aliás, é interessante que, mesmo sem o domínio das horas e do tempo, os animais não humanos são costumeiramente mais pontuais que nós, que contamos com a ajuda de relógios, alarmes e agendas, até mesmo pra lembrar dos compromissos mais rotineiros, como por exemplo, o de acordar cedo pra trabalhar no mesmo horário, todos os dias, ao longo de décadas. Será que não dá, mesmo, pro corpo da gente se lembrar disso sozinho?
Pois é, no segundo dia de vigília, o vizinho de boreste que mora aqui ao pé de mim, se atrasou.
_ Como pode? A baleia Jubarte atravessa cerca de 4.500 quilômetros a nado pra vir da Antártica até Abrolhos, na Bahia, pra procriar em águas quentes todos os anos e não se atrasa? E o vizinho se atrasa?
_ Como pode? A baleia Jubarte atravessa cerca de 4.500 quilômetros a nado pra vir da Antártica até Abrolhos, na Bahia, pra procriar em águas quentes todos os anos e não se atrasa? E o vizinho se atrasa?
Mas, o espetáculo das aves fez os mais velhos mudarem os horários das nossas reuniões: quem pode, chega antes das 6h. Já os mais atarefados, ou costumeiramente atrasados, chegam só para o bailar da tarde. Assim, a caverna fica movimentada o dia inteiro... E a churrasqueira também.
E como uma ideia sempre chama outra, os anciões resolveram estabelecer os horários e trajetos de outras aves, pra checar, se são todas assim tão pontuais. O Nelson criou até mesmo uma tabela, onde constam, além das ararinhas, sabiás, bem-te-vis, e até um beija-flor que adora o néctar do hibisco que a patroa plantou aqui tem já quase seis meses: tiro e queda pra atrair o passaredo!
E, assim, ocupamos o dia inteiro com as visitas das pequenas maravilhas aladas. Só sentimos falta das rolinhas que sumiram. Extinção? Ou serão as mudanças do clima? Não sei dizer, mas desconfio que essa passarada toda, que agora vem aqui, antes procurava alimentos em outros pousos da Floresta da Tijuca.
Enquanto enchia mais um copo de cerveja, Ibiapina, nostálgico acrescentou:
— Pra fechar o ciclo do dia, que tal “uma sinfonia de Pardais anunciando o anoitecer?”
— Boa , então enquanto os pardais não chegam que tal ouvir a música “Ave Maria no morro” do Herivelto Martins?
Só espero que, as maritacas, sabemos, tão falantes, não espalhem por aí, que a caverna agora é restaurante 24h. E nem atraiam para cá, os políticos que nessa época começam a pulular por aí, atrás de outro alimento: o voto popular!
Só espero que, as maritacas, sabemos, tão falantes, não espalhem por aí, que a caverna agora é restaurante 24h. E nem atraiam para cá, os políticos que nessa época começam a pulular por aí, atrás de outro alimento: o voto popular!

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