Roberto Rodrigues, reitor da UFRRJMiriam Braz/Comunicação UFFRJ

As universidades do Rio estão em movimento. Quem está liderando é o reitor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, professor Roberto Rodrigues, presidente do Fórum de Reitores das Instituições Públicas de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Friperj), composto por Cefet-RJ, CPII, IFF, IFRJ, UENF, UERJ, UNIRIO, UFF, UFRJ e UFRRJ. Em entrevista ao Informe, Rodrigues contou sobre o Prêmio IPP/FAPERJ/FRIPERJ, que teve edital aberto este mês. No âmbito da agricultura familiar, foram anunciadas novidades. A Fazendinha é um exemplo. “Ela se consolidou com um modelo para unidades de produção familiares no Estado do Rio de Janeiro sendo produzidas hortaliças, frutas, leite e ovos orgânicos tornando-se referência nacional e internacional em agricultura orgânica em ambientes tropicais”, explica o reitor.
Uma das reivindicações das Universidades é que o Rio tenha um programa de Pesquisa permanente no Estado. É possível?
O Fórum de Reitores foi criado no final do ano de 2022 e conta com quatro universidades federais (UFF, UFRJ, UFRRJ e UNIRIO), as duas universidades estaduais (UERJ e UENF), os institutos federais (IFF e IFRJ), o CEFET e o CPII. Os ataques ideológicos que as universidades sofreram nos últimos anos, associados aos diversos cortes orçamentários, levaram essas instituições a se unirem buscando seu fortalecimento e a defesa da educação pública e de qualidade. O Fórum deve ser um ambiente de formação de pautas políticas pensadas a partir da academia. As 10 instituições formam a cada ano milhares de alunas e alunos de graduação e pós-graduação. Praticamos ensino, pesquisa e extensão diariamente. Formamos os nossos jovens. E historicamente nos constituímos um patrimônio nacional que sempre ajudou a pensar e propor o desenvolvimento do país. Por que não juntarmos esses esforços de forma sistematizada para pautar políticas públicas? E por que não para políticas que ajudem a debater o desenvolvimento do nosso Estado? O Rio de Janeiro vem, décadas atrás de décadas, perdendo relevância econômica e política no Brasil. Deixamos de ser a terceira economia. Temos índices elevadíssimos de violência, temos alguns dos piores indicadores socioeconômicos do país. Mas continuamos formando mestres e doutores nas diversas áreas de conhecimento com trabalhos inovadores. Sistematizar essas produções e utilizá-las de forma a criar propostas de pontos de políticas para o nosso Estado é um dos principais objetivos do Fórum. Para que isso ocorra, abrimos diálogo com diversas instituições de nosso estado, dentre elas, a Faperj e o Instituto Pereira Passos. Lançamos um prêmio para trabalhos acadêmicos de dissertação de Mestrado voltados para o Estado do Rio de Janeiro. Esse prêmio será chamado Prêmio IPP/FAPERJ/FRIPERJ. O edital já está aberto. Abrimos diálogo com a coordenação da bancada da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para levarmos a proposta de uma emenda de bancada para 2024 voltada para criação de um programa permanente de pesquisa do Estado. Outra ação foi a reunião com as diversas instituições de pesquisas do Estado, dentre elas, Faperj, FINEP, Fiocruz, IPP, ICTIM - Maricá, CNEM, além da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Município do Rio de Janeiro e da presidência da Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj, para discutirmos a ciência em nosso estado..
Não seria a hora de se criar estímulos de carreira e salário?
Sim. A ciência foi e está sendo muito perseguida. Os pesquisadores foram atacados de forma direta, sem meio termo. Levantar problemáticas, sistematizar pensamentos, dar causalidades teóricas e correlacionar com estudos empíricos em anos de estudos foram trocados por informações rápidas de dois, três minutos multiplicados e compartilhados por redes sociais. Grupos ideológicos de extrema direita vêm fazendo esses ataques à ciência e aos pesquisadores e conseguindo obter êxito ao propagar pelo senso comum essas ideias. Nos cabe perguntar por que isso aconteceu e como devemos agir para que isso não se repita.
No Brasil este tipo de ataque ocorreu também contra as instituições de pesquisa e, principalmente, as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Cortes no orçamento das universidades e institutos federais, nos recursos para agências de fomento, exemplos desses ataques. Os nossos salários e de todos os servidores públicos ficaram sem reajustes, Editais de fomento às pesquisas, bolsas de estudos, auxílio ao pesquisador foram reduzidos significativamente.
Para se recuperar desses ataques, é necessária uma política de recriar os incentivos à pesquisa. A iniciativa do FRIPERJ em parceria com o IPP e a FAPERJ com o prêmio IPP/FAPERJ/FRIPERJ, relatado anteriormente, será um grande incentivo aos pesquisadores do Estado. Por outro lado, é importante destacar a necessidade de estabelecer uma política de recomposição dos salários dos servidores e de um plano de carreira diferenciada para os técnicos administrativos das instituições de ensino.
Foi criado um curso de graduação esse ano de Licenciatura em Educação Especial. O que é isso?
O complemento do Ensino, pesquisa e extensão da universidade Rural se deu com os municípios do Estado Rio de Janeiro, principalmente da região Fluminense. O início das aulas aconteceu no primeiro semestre letivo de 2023. E será o primeiro no Estado do Rio de Janeiro. Ao todo, serão oferecidas 400 vagas anuais em cinco polos: Seropédica, Nova Iguaçu, Três Rios, Av. Presidente Vargas (centro do Rio de Janeiro) e Campos dos Goytacazes.
A nova graduação semipresencial surgiu a partir das discussões realizadas no Fórum Permanente de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva da Baixada e Sul Fluminense e no Fórum Intermunicipal de Gestores em Educação Especial com a participação de mais de 40 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Também apoiaram a criação do Curso a Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/Niterói e a Associação de Famílias Vítimas da Síndrome Congênita do Vírus da Zika e Outras (Associação Lótus).
O curso tem como foco a acessibilidade e suas diferentes dimensões, sobretudo curricular/pedagógica considerando o desenho universal aplicado na aprendizagem e o uso de recursos de Tecnologia Assistiva. O Curso também apresenta uma importante formação no campo da interseccionalidade (raça, gênero, decência e questões sociais) e intersetorialidade entre setores como Educação, Saúde e Assistência Social na promoção integral do desenvolvimento da pessoa com deficiência.
A formação de docentes nessa área do ensino é uma demanda grande dos municípios que tem entendido e defendido a inclusão total dos alunos PCDs. Temos a certeza de que é uma revolução na formação desses alunos e na percepção desses municípios e a Universidade Rural tem se tornado referência no Estado e no Brasil nessa área. Este é um grande exemplo que destacamos da importância da relação dos municípios e do Estado com as nossas instituições Públicas de Ensino superior do Rio de Janeiro
O que tem sido feito de mais inovador na área da agricultura familiar?
A origem de nossa universidade é na área das agrárias com as escolas de Agronomia e Veterinária, onde já somos reconhecidamente formadores de alunas e alunos. Esse ano a nossa Fazendinha completou 30 anos de existência.
O Sistema Integrado de Produção Agroecológica (SIPA-Fazendinha), seguindo a inspiração da Dra. Johanna Döbereiner, pesquisadora da Embrapa – Agrobiologia e do Programa de Pós-Graduação em Solos da UFRRJ, foi criado em iniciativa conjunta da UFRRJ, Embrapa Agrobiologia, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio) e Colégio Técnico da UFRRJ (CTUR). A Fazendinha desenvolve projetos de agroecologia ancorados principalmente no Programa de Pós Graduação em Agricultura Orgânica (Mestrado Profissional - PPGAO). Ela se consolidou com um modelo para unidades de produção familiares no Estado do Rio de Janeiro sendo produzidas hortaliças, frutas, leite e ovos orgânicos tornando-se referência nacional e internacional em agricultura orgânica em ambientes tropicais. Hoje a Fazendinha é a maior fazenda de produção orgânica em ambiente institucional do país e provavelmente uma das maiores do mundo com cerca de 80 ha.
Além disso, fazemos parte da RIDESA (Rede interuniversitária para o desenvolvimento do setor sucroenergético), onde temos uma parceria científica com nove outras Instituições de Ensino Superior do país. A rede produziu 75 cultivares de cana de açúcar desde 1990, o que corresponde a 68% da área total de cultivo com essa planta no Brasil. Seu custeio é financiado pelas usinas, destilarias e fornecedores de cana, são 313 empresas com contratos de parceria com as Universidades, representando cerca de 75% das entidades brasileiras produtoras de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade. Seu impacto no setor sucroenergético é imenso, em especial na região norte do Estado.
Essas são linhas de pesquisas e ações já consolidadas, mas estamos avançando em pelo menos outras três, a saber: 1) a criação e aprovação pelo conselho universitário do Polo Ecotecnológico, onde teremos parcerias de pesquisas com empresas voltadas para geração de tecnologia na área da bioenergia. Uma das ações neste polo já em execução é o projeto do Biogás cuja expectativa é a valorização de resíduos agroindustriais para a produção de biogás e coprodutos na UFRRJ com a DATAHORT – CEASA; 2) O segundo projeto em formação, já aprovado pelo conselho superior, é a Produção de Biomassa Florestal Incorporando Pesquisa e Inovação Tecnológica. A expectativa do projeto é desenvolver ações de inovação na área de biomassa florestal, consorciando com a agricultura e pecuária para subsidiar modelos agrossilvipastoris para implementação em pequenas e médias propriedades do Estado do Rio de Janeiro e, por fim, 3) o projeto, ainda em fase de diálogo com a prefeitura, é o Centro Tecnológico de Maricá, uma parceria da Universidade com a CODEMAR/BIOTEC - COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO DE MARICÁ, cujo objetivo é promover o desenvolvimento econômico e social com base na agroecologia do município por meio de arranjos produtivos locais de plantas medicinais, de produtos naturais e de fitoterápicos e serviços relacionados para a promoção da saúde por meio da ampliação do acesso aos produtos tradicionais fitoterápicos com segurança, eficácia e qualidade, em consonância com as diretrizes da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS.