Ethel Maciel, consultora da Secretaria de Estado de SaúdeDivulgação
Ethel Maciel, consultora da Secretaria de Estado de Saúde para tuberculose, foi secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde de 2023 a 2025, com foco em temas relacionados à vigilância em saúde e ambiente, com ênfase em tuberculose e outras doenças infecciosas. É enfermeira, epidemiologista e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo. Atualmente, preside o Grupo de Trabalho sobre tuberculose da Organização Mundial da Saúde, atuando em redes de pesquisa no Brasil e no exterior.
SIDNEY: Por que a tuberculose ainda atinge tantas pessoas?
ETHEL MACIEL: A tuberculose ainda é um grande desafio de saúde pública, principalmente por questões sociais. É uma doença que está muito relacionada com as condições que perpetuam a pobreza, a falta de acesso a serviços de saúde, da desnutrição, de moradias inadequadas. Além disso, muitas vezes há atraso no diagnóstico e interrupção do tratamento, o que mantém a transmissão da doença ativa na comunidade. Então não é só uma questão de saúde, é social também.
Quais os principais sintomas da doença?
Os sintomas mais comuns são tosse persistente por mais de três semanas, febre baixa — principalmente à tarde —, suor noturno, cansaço e perda de peso. Mas atenção: qualquer tosse prolongada já deve ser investigada. Tuberculose tem cura, mas para isso a gente precisa diagnosticar o mais rapidamente possível e fazer o tratamento até o fim. Por isso, foi criado o "Agosto Laranja", mês dedicado à conscientização, mobilização e combate à tuberculose no estado.
Quais os benefícios sociais que o doente com tuberculose tem direito?
O governo federal ainda não tem um benefício exclusivo para pessoas com Tuberculose. Quem está em tratamento pode ter acesso ao auxílio-doença, ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), em casos de extrema vulnerabilidade social com avaliação dos serviços de assistência social. Alguns estados e municípios no Brasil possuem, além destes, benefício de cestas básicas, vale-transporte e outros apoios. No entanto, o Estado do Rio foi pioneiro no Brasil ao criar um benefício exclusivo para pessoas com tuberculose, que é o cartão-alimentação. Durante o tratamento, a pessoa recebe R$ 250 por mês para compra de alimentos. Essa iniciativa, além de inovadora, tem o potencial de contribuir para que as pessoas consigam concluir o tratamento até o final, diminuindo assim a transmissão da doença, o desenvolvimento de cepas resistentes ao tratamento e impactando também o número de óbitos por essa causa. Eu considero a iniciativa a mais inovadora visando a eliminação da doença como um problema de saúde pública. Segundo o Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado de Saúde, o estado apresenta uma das mais altas taxas de incidência da doença no país, com cerca de 18 mil casos por ano, concentrados principalmente em áreas de grande vulnerabilidade social.
Diante das altas taxas no estado, como está a expansão da rede laboratorial do Rio de Janeiro?
O estado tem investido bastante em sua rede laboratorial. A descentralização dos testes e implementação do Teste Rápido Molecular (TRM), que é muito mais eficaz e rápido, foram ações importantes. O fortalecimento de parcerias com laboratórios de referência e capacitação das equipes também foram responsáveis para que o estado pudesse aumentar a confirmação laboratorial entre casos novos de 63,3% em 2021 para 78,4% em 2024. Se considerarmos a população privada de liberdade, esse aumento foi de 32,3% em 2021 para 90,8% em 2024.
Como funciona a unidade móvel "TB sobre Rodas"?
A unidade leva orientação para as áreas prioritárias do estado com maior número de casos. Informa os sintomas, tratamento e o acesso ao cartão-alimentação durante o tratamento da doença. Há uma parceria com outros programas de saúde, como infecções sexualmente transmissíveis e hepatites, para a realização de testes rápidos. A ideia é ir aonde as pessoas estão. É o Sistema Único de Saúde (SUS) ativo, indo atrás da população.
Há um programa específico para os municípios do interior?
Sim, o estado do Rio de Janeiro tem implementado ações específicas para o interior, com foco em capacitação de profissionais, fortalecimento e da rede laboratorial, além de parcerias com secretarias municipais. A ideia é garantir que todos, independentemente de onde vivem, tenham acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado. Ainda há muito a ser feito, mas a estruturação dessas estratégias me parece o caminho certo. Integrar as ações, principalmente da saúde e da assistência social, focar em populações que concentram muitos casos de doenças, como a população privada de liberdade e pessoas em situação de rua são ações fundamentais para eliminar essa doença que há anos tem impactado a vida de tantas pessoas aqui no estado do Rio.
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