A ociosidade e a precariedade do sistema aéreo comercial brasileiro preocupa não somente o Governo Federal, mas também as administrações estaduais e municipais. Isso porque a vulnerabilidade não prejudica somente o turismo, mas a economia em geral que pode ser estagnada por problemas logísticos. Enquanto a cúpula federal desembarcava no Rio de Janeiro para tentar uma solução para o Aeroporto Antônio Carlos Jobim, autoridades regionais aproveitam o segundo maior evento do ramo, que acontece em Madri, para tentar atrair as companhias internacionais para seus terminais locais.
Crise do Galeão
Além da ociosidade, a devolução do Aeroporto Internacional Tom Jobim preocupa o Governo Lula. Pela lei de licitação, a concessionária só pode encerrar sua administração quando houver nova licitação e a entrada em operação da substituta. No entanto, estuda-se a possibilidade dele voltar para a União até chegar-se a uma solução definitiva.
O receio da gestão Lula é de que a atual concessionária, que anunciou a devolução, não consiga administrar o aumento da demanda de verão culminando com o carnaval. A justificativa para o rompimento foi terem admitido a "incapacidade de cumprimento das obrigações originárias do contrato". O medo da administração federal é que os atuais responsáveis não consigam gerir uma crise. E o setor de aviação funciona de forma interligada. Qualquer colapso regional pode se estender não somente ao país, mas impactar globalmente. Outra alternativa estudada é oferecer contrapartidas para que o consórcio desista da devolução. No entanto, dependendo do que for oferecido a Rio Galeão pode gerar reivindicações parecidas pelas outras administradoras privadas de terminais.
Estados disputam voos estrangeiros em Madri
Não apenas as autoridades do Rio que estão preocupadas com a pouca oferta na malha aeroviária no Brasil. Os voos que já vinham sendo customizados pelas companhias, sofreram grande redução com a pandemia. E agora, com a vota das atividades, não retornaram na proporção anterior. Além dos preços altos, as reduções dos percursos diretos fazem com que os destinos para as praças regionais obriguem os visitantes a fazerem conexões e escalas. Isso, além de ser mais cansativo e demorado, impacta ainda mais nos valores cobrados e nas despesas por parte dos viajantes.
Sedução entre os estados
As negociações e os lobbys entre administrações estaduais e as companhias aéreas estrangeiras voam alto na Feira Internacional de Turismo, em Madri. O diretor de marketing da empresa estadual de turismo de Recife, Diogo Beltrão comemora que deverá ser retomada a rota para Orlando em fevereiro e que negocia um acordo com a Air Europe. Pelo Aeroporto de Guararapes aterrissavam 16 voos do exterior, estando hoje reduzido a três: Buenos Aires, Montevideu e Lisboa. “A previsão é de que as operações aéreas sejam retomadas nesse primeiro semestre”.
A atração de novas companhias também está na pauta de trabalho da Bahia. Rodadas de conversa estão sendo desenvolvidas no estante montado em Madri pela Secretaria de Turismo do Estado onde já anunciam boas novas. Uma delas é a aproximação com a Arajet, da República Dominicana, que tem interesse em abrir linhas de Salvador para destinos no Caribe. O CEO caribenho, Víctor Méndez, se reuniu com o titular da Setur-BA, Maurício Bacelar, para alinhavar a parceria com o governo baiano que facilite a abertura da nova rota. “A companhia dominicana está bem informada sobre as potencialidades da Bahia para receber investimentos da aviação. Retribuímos o interesse, mostramos as parcerias que já temos com outras empresas aéreas e vamos dar continuidade às negociações, após a feira, apostando na confirmação do voo do Caribe para Salvador”, explicou o secretário Bacelar. Em visita ao estande da Setur-BA, o gerente de Marketing e Negócios do Salvador Bahia Airport (Rede Vinci), Marcus Campos, ressaltou o trabalho conjunto que a empresa mantém com a secretaria, para ampliar a malha aérea baiana.
“Estamos juntos nesse propósito de atrair mais voos internacionais para o aeroporto de Salvador, principalmente da Europa e das Américas. Entendemos que o turismo é uma vocação da Bahia, com efeitos multiplicadores que alcançam vários segmentos da economia”.
Já o governo de São Paulo, que concentra a maior quantidade de chegadas e partidas do Brasil, não quer perder espaço para os outros estados. Por isso, acena com a redução de ICMS para combustível de aviação. O próximo passo pode ser a redução da alíquota para a indústria náutica a fim de fomentar os cruzeiros no Porto de Santos.
O presdiente da estatal Amazonastur, Gustravo de Araújo Sampaio fechou 2022 com expressiva expansão da malha interna alavancada pelos inventivos oferecidos, entre eles a desoneração do ICMS no querosene e gasolina de avião. Com isso, Amazonas anuncia a retomada de voos para Flórida através da Azul e para Miami pela Gol e a panamenha Copa Airlines. “Ampliamos ligação com a américa do Norte que tem muito interesse pela natureza e a pesca e toda a diversidade da Amazônia”.
Nessa luta de titãs, entra até o município fluminense de Maricá, que também investiu em um estante exclusivo na feira madrilenha. Nesse espaço, estão sendo negociadas a possibilidade de atrair mais rotas e investidores para ampliar e otimizar o Aeroporto de Maricá que tem capacidade atual instalada para mil passageiros por dia em voos offshore.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.