Após pandemia, turistas buscam por roteiros mais sustentáveisarte da coluna

A Covid-19 foi devastadora para o setor de turismo. No entanto, baixada a poeira, também deixa um rastro positivo. Com a reabertura do setor, os viajantes estão mais responsáveis em relação ao impacto de seus passeios, procurando entidades comprometidas com a sustentabilidade e buscando roteiros mais conectados com a natureza.

Outra parcela, num estágio ainda maior de conscientização, adere ao movimento em torno do “Turismo Regenerativo” que tem por missão deixar um legado positivo aos lugares visitados. E muitos estão  dispostos a gastar mais em suas férias em prol do meio ambiente. Tanto que 55% dos brasileiros revelaram em pesquisa da plataforma Booking que podem pagar mais por opções menos impactantes.
Urgência Climática
Essa linha de comportamento é um reflexo desse período de Urgência Climática com a necessidade da sociedade em reduzir a pagada ambiental da sociedade atual. A relação entre turismo e sustentabilidade nunca esteve tão em alta. Três anos após o início de uma pandemia que mudou completamente a relação das pessoas com o meio ambiente, os impactos resultantes do “estilo” de desenvolvimento global sobre o meio natural e social, a economia e, acima de tudo, sobre o clima do planeta ganha destaque nas empresas de todos os setores aderindo a Agenda ESG, inclusive as do segmento turístico.

"A sustentabilidade da vida no planeta está seriamente ameaçada. É necessário agir agora para evitar que o aquecimento global atinja níveis insuportáveis num futuro próximo. Diante deste quadro, nos confrontamos hoje com a demanda por “Ação Climática”, termo que busca enfatizar a devida urgência em atuar para a reversão das práticas impactantes do meio ambiente ainda correntes em diversos setores econômicos, incluindo o Turismo" - alerta Luiz Penna, diretor de Meio Ambiente da Roteiros de Charme.

Campanha institucional
Dedicada há 30 anos a implementar, no setor de hospedagem, um código de ética e conduta ambiental que leva, inclusive, a chancela da ONU, a Associação Roteiros de Charme lança a campanha institucional “Viajante Consciente prioriza Hotéis Sustentáveis”, que busca chamar atenção para a urgência da sociedade de abraçar a pauta da Ação climática para a sustentabilidade e bem-estar da humanidade.

“Propomos com a campanha, sensibilizar o viajante para que ele priorize destinos e meios de hospedagem que estão comprometidos com o bem-estar de sua comunidade e a preservação do ambiente natural, cultural, histórico onde estão inseridos”, explica Luiz Penna.

Iniciativa pioneira no Brasil
A Roteiros de Charme foi fundada em 1992, sob inspiração da Conferência Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO 92. A associação teve uma iniciativa pioneira no Brasil ao criar, em 1999, seu Código de Ética e Conduta Ambiental, desenvolvido em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), organismo da ONU responsável por Meio Ambiente.

“O enfrentamento da crise climática em que estamos mergulhados só será viável a partir de ações urgentes e efetivas dos governos e empresas tendo a cooperação e comprometimento da sociedade. Roteiros de Charme faz um chamamento a todos os seus associados, hóspedes, visitantes, colaboradores, parceiros e comunidades locais para o engajamento em ação climática nos nossos destinos. Nossos hotéis são importantes exemplos de sustentabilidade. Eles podem e devem atuar como multiplicadores desta causa, e levar esta mensagem para seus hóspedes. Viajante Consciente prioriza Hotéis Sustentáveis!”, defende Helenio Waddington, presidente da Associação.
Turismo Sustentável
De acordo com o Relatório de Viagens Sustentáveis, esse tipo de experiência tem cada vez mais a preferência. Além de todas as facilidades, e de ser uma atividade prazerosa e transformadora; está em conformidade com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que destaca a promoção do turismo sustentável, a criação de empregos decentes (ODS 8.9) e incentiva práticas que respeitem e promovam a cultura. Ao adotar essas diretrizes, contribui para o crescimento econômico inclusivo e a preservação da cultura e dos recursos naturais.
Um outro estudo realizado pelo Google aponta que a geração Z vem impulsionando a busca por viagens mais curtas, utilizando transporte terrestre - menos impactante e valorizando experiências como: ecoturismo, cultura local, gastronomia regional além de juntar no pacote a oportunidade de doação pessoal através de ações de voluntariado.

“Toda viagem tem o potencial de ser sustentável. Estamos mostrando que é possível ter um contato muito profundo com a natureza mesmo em experiências curtas, próximas de grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte”, destaca Daniel Cabrera, cofundador da Vivalá, pioneira em Turismo Socioambiental no Brasil.

Turismo diferente no Rio
A cidade maravilhosa é muito associada ao Cristo Redentor, Maracanã e Museu do Amanhã, mas há muito mais a se conhecer na capital fluminense. Ainda existem lugares extremamente conservados e pouco visitados, ou até escondidos na região.
É possível fazer uma trilha na maior floresta urbana replantada do mundo, nadar nas praias selvagens preservadas fora do circuito urbano, adentrar em grutas escondidas nos maciços rochosos e desbravar o pico mais desafiador do Rio: a Pedra da Gávea. Alguns dos roteiros podem ser realizados dentro do Parque Nacional da Tijuca. As trilhas também são divididas por esforço físico, sendo necessário observar a indicação, além de todos os passeios contarem com equipamentos necessários - para ser sustentável, o turismo também deve ser seguro.

Pequena África
O Little Africa Walking Tour é um roteiro desenvolvido pela Vivalá em busca do resgate da herança Afro-Negra no Rio de Janeiro. As áreas da Zona Portuária visitadas possuem uma grande presença de afrodescentes como o Morro da Conceição, Igreja São Francisco da Prainha e Cais do Valongo. Apesar dos horrores ocorridos na época, é necessário destacar alguns pontos, entre eles a memória da luta e resistência do povo negro no Brasil.
O roteiro contempla aspectos culturais, históricos, arqueológicos, turísticos e geográficos, explora figuras pouco faladas na cultura brasileira. A região recebeu o nome de "pequena África" do sambista Heitor dos Prazeres. O antigo porto é classificado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como um sítio arqueológico, sendo Património Mundial. 
Turismo Indígena
Acompanhar e viver a rotina dos nossos povos ancestrais é uma tendência que também vem crescendo dentro do segmento ambiental. Apesar de vários roteiros desenvolvidos nas Regiões do Amazonas e Pantanal, não é preciso viajar a esses lugares mais distantes para esse tipo de imersão em um período de tempo menor. 
Como opção, a experiência de dois dias na Aldeia Tapirema, localizada dentro da Terra Indígena Piaçaguera, em Peruíbe (SP), é repleta de conhecimento dos povos indígenas sobre a mata em seu entorno. Durante a estadia na aldeia é possível conhecer seus cantos, ensinados pelo cacique, rezas, se deliciar com um chá feito pela anciã da aldeia e aprender sobre ervas e costumes.
Na vivência, Catarina Nimbopyruá, Simone Takuá e as famílias da Aldeia Tapirema compartilham seus conhecimentos, para que os viajantes consigam sentir a floresta e a cultura dos povos originários.
Oficinas de preparação de chá e pinturas, atividades como caminhar pelo território e conhecer as ervas, rodas de conversa, banho de ervas, fogueira cultural com a iniciação do Petynguá, um instrumento sagrado para os indígenas, e muitos outros itens estão no pacote de imersão. Ao final dos dois dias, é realizado um encerramento cultural, com o canto de até breve e entrega de certificado.
Contatos do Colunista Luiz André Ferreira