Você já parou para pensar nas condições em que são criados e abatidos os animais que garantem a sua proteína alimentar?
Certamente essa conscientização é um dos principais motivos que fazem elevar as taxas de adesões de vegetarianos e veganos. Mesmo para os que não eliminaram a proteína animal de sua dieta, a exigência de processos menos sofridos é uma cada vez maior.
No Parlamento Europeu estão em curso revisões das leis. De acordo com a pesquisa do Eurobarômetro, 93% dos cidadãos da UE desejam que os produtos importados respeitem os mesmos padrões de bem-estar aplicados na Europa. No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha a pedido do Fórum Nacional de Defesa e Proteção Animal indicou que 88% dos consumidores brasileiros se importam com as condições dos animais.
Vital para exportação
Entre os europeus, essa conscientização é bem maior. E justamente para esse público que é destinada grande parte da produção da América Latina. Portanto, a adequação dos processos com menor sofrimento não é apenas uma questão de compaixão, mas sim de sobrevivência dos negócios neste segmento.
“A inclusão do bem-estar animal no Protocolo Adicional é um passo crucial, e uma oportunidade única, para estabelecer padrões mais elevados nos países do Mercosul. Se a sociedade civil organizada for ouvida, será possível estabelecer um sistema de produção de alimentos mais sustentável nos países do Mercosul e espelhar as condições de bem-estar animal praticadas no mercado europeu”, afirma Carla Lettieri - diretora Executiva da Animal Equality Brasil.
Mais de 50 entidades da sociedade civil enviaram cartas ao Parlamento Europeu e ao Governo Brasileiro e de países do Mercosul exigindo a inclusão de cláusulas de bem-estar no protocolo do tratado de negociação entre os blocos econômicos. O objetivo é condicionar os contratos comerciais internacionais a um processo menos doloroso em todas as etapas desde a fecundação, passando pela alimentação, criação e o abate. Eles consideram que no atual processo comercial, as cláusulas de bem-estar continuam negligenciadas.
“O Tratado entre a União Europeia e o Mercosul foi idealizado há mais de 20 anos, portanto precisa ser atualizado. Em tratados recentes entre a União Europeia com o Chile e a Nova Zelândia, por exemplo, pontos de bem-estar animal foram incluídos. Neste último, excluiu-se das cotas tarifárias a carne bovina de animais criados em sistemas de confinamento" defende Daniel Pérez Vega - do Eurogroup For Animals.
Impactos ambientais e na saúde humana
O aumento exponencial das exportações para os países europeus resulta em impactos ambientais nos biomas e na saúde pública dos países do Mercosul. Ao garantir condições adequadas de criação e abate dos animais destinados ao consumo humano reduz-se automaticamente a disseminação de doenças zoonóticas, que podem ser transmitidas para os seres humanos. Portanto, a inclusão de cláusulas de bem-estar animal e proteção ambiental no tratado é fundamental não apenas para promover o respeito aos animais, mas também para resguardar a saúde dos consumidores dos dois blocos.
A união das organizações que assinaram essa carta também representa uma resposta direta às preocupações relacionadas ao desmatamento e às queimadas ocorridas na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado, que têm sido conduzidas para a expansão de pastagens e plantações de grãos, como a soja, utilizados na alimentação dos animais.
Ação Europeia
Essa mobilização teve início em abril de 2022, quando a Animal Equality e o Eurogroup for Animals organizaram a conferência intitulada “Discutindo o Acordo entre a União Europeia e o Mercosul: o papel do bem-estar animal na promoção da proteção ambiental”. Este evento reuniu renomados especialistas, bem como representantes do Parlamento Europeu e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Desde então, reuniões estratégicas são realizadas no Parlamento Europeu, bem como no Brasil para debater essas questões com as organizações da sociedade civil.
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