Consciência Negra:

Falta muito para que o Dia da Consciência Negra seja uma data de referência histórica. Cada vez mais essa efeméride se afasta disso, sendo maculada pelo racismo atual, que mostra-se longe de atenuar seu tom.
A implantação do feriado foi uma iniciativa do Rio de Janeiro, depois repetido por outros estados. O mais incoerente é que o Rio juntamente com a Bahia é o que possui maior quantitativo de população negra e onde ocorre, proporcionalmente, a maior quantidade de mortes de pretos e pardos.

Segundo o boletim “Pele Alvo: a bala não erra o negro”, os agentes de segurança do Rio de Janeiro mataram 1.042 pessoas pretas em 2022, o que representa 86,98% dos casos com informações completas de cor e raça. O número corresponde a um negro morto a cada oito horas e 24 minutos em decorrência de intervenção do Estado. 

O boletim da Rede de Observatórios analisa os dados de oito estados: Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Entre 2021 e 2022, o Rio de Janeiro caiu da primeira para a segunda posição no ranking das unidades federativas com maior número de mortes por agentes de segurança. A mudança de posição só ocorreu devido a escalada da violência na Bahia, que agora ocupa o primeiro lugar.
Entre as vítimas no território fluminense, a maioria é de jovens negros, com idade entre 12 e 29 anos, representando 40% dos casos. Depois da capital, os municípios de São Gonçalo, com 131 mortes, e de Duque de Caxias, com 121, completam o ranking das três cidades com maiores números de violência de agentes de segurança.

“O fato de 87% dos mortos em decorrência de intervenção do Estado serem negros é uma espécie de autoexplicação de uma realidade que se impõe às favelas e periferias e reafirma que no coração das políticas de confronto está assentado um racismo secular, profundo e determinado. Os números do Rio expressam uma política pública de segurança que só piora ano após ano. Não existem resultados efetivos do ponto de vista de segurança e seguem exterminando jovens negros”, afirma Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios.
“Policiais, em nome do Estado, suspeitam, indiciam, julgam e executam”, completa.

Educação e Mercado de Trabalho
Segundo outra pesquisa, esta  do Ipec, 96% dos brasileiros percebem as pessoas pretas como principais alvos de discriminação racial, seguidos por indígenas (86%) e imigrantes de países africanos (38%). No entanto, muitos têm dificuldade em reconhecer e admitir a influência do racismo em suas atitudes e na estrutura social.
Esse tipo de discriminação se manifesta em vários setores da sociedade, como na educação, no mercado de trabalho além da segurança pública. Já dados do Instituto Ethos apontam que o Brasil tem apenas 4,7% de pessoas negras no quadro executivo das 500 maiores empresas do país.

Segundo o estudo Jovens Negros e o Mercado de Trabalho (2022), ocupam 60% dos empregos informais no Brasil. Em relação à educação, quase 72% dos 10 milhões de brasileiros que não finalizaram o ensino básico são negros ou pardos segundo estatística do IBGE.

Diante desse cenário, algumas iniciativas buscam promover a educação e a valorização da cultura afro-brasileira. Uma delas é o Guia Antirracista Empodera, lançado de maneira totalmente gratuita pela empresa de consultoria em diversidade e inclusão. O material visa estimular a reflexão e incentivar transformações na cultura organizacional das instituições.
“É muito comum a afirmação de que somos todos humanos e que no trabalho basta se dedicar para obter reconhecimento e promoção. Isso sem mencionar a ausência de consciência sobre o uso de expressões cotidianas que derivam da discriminação racial e do período da escravidão”, aponta Leizer Pereira, fundador e CEO da Empodera.

“Também é dever dos líderes e das empresas estimular essa discussão entre os colaboradores sem varrer para debaixo do tapete. A gente precisa fomentar ambientes de trabalho seguros e respeitosos”, complementa.

Visibilidade
Apesar de nadar contra a corrente, através da resistência e da perseverança, pessoas pretas começam a quebrar o bloqueio perpetuado veículos de comunicação tradicionais. Basta ver o elenco de uma novela ou o cast de apresentadores de uma emissora de televisão. Agora, buscaram como alternativa para as portas fechadas na mídia, a independência das redes sociais. Rival do Tic-Toc, o Kwai percebeu essa potencialidade e vem investindo no semento.

A plataforma de vídeos curtos colocou no ar uma página alusiva a esse mês. O espaço é dividido em quatro grandes temas que abordam a luta contra o racismo, a música, a gastronomia e o mundo da moda a partir do olhar e representatividade desta comunidade. São conteúdos exclusivos e informativos preparados por criadores da plataforma e por artistas referência na música brasileira, com ilustrações produzidas especialmente para o projeto pelos artistas visuais e irmãos Jesus Credo e Izzy Credo.

“Procuramos retratar a diversidade dentro da própria comunidade negra. Acreditamos ser importante pensar que somos indivíduos plurais, por isso, tentamos fechar as categorias voz, música, moda e gastronomia com pessoas muito diferentes, celebrando e fazendo o que gostam”, comenta Jesus Credo.

Essas iniciativas são um convite para confrontar estereótipos e preconceitos arraigados e uma oportunidade de valorizar e preservar a rica herança cultural afro-brasileira, como música, moda e culinária. O Dia da Consciência Negra é uma data para celebrar a resistência, a perseverança e o empenho dos movimentos.

Contatos do Colunista Luiz André Ferreira
e-mail: pautasresponsaveis@gmail.com 
Twitter: https://twitter.com/ColunaLuiz 
Instagram: https://www.instagram.com/luiz_andre_ferreira/ 
Linkedin: https://www.linkedin.com/in/luiz-andr%C3%A9-ferreira-1-perfil-lotado-