Rio - “A capa tem que dar a personalidade do álbum, mostrar o que as músicas devem trazer. E isso acontecia mais ainda há alguns anos, quando ainda existiam lojas de discos”, lembra, saudoso, o roqueiro Roberto Frejat. O guitarrista do Barão Vermelho foi um dos primeiros artistas a dar depoimento para o especial ‘Arte na Capa’, que o Canal Brasil leva ao ar a partir de setembro em interprogramas de 2 a 4 minutos.
Contrastando com a era do streaming e do MP3, a atração foca nas histórias por trás das capas de discos brasileiros icônicos. Entre elas, dois do Barão Vermelho, ‘Maior Abandonado’ (1984) e ‘Carne Crua’ (1994), ambas feitas pelo designer Felipe Taborda.
“No ‘Carne Crua’, lembro do Felipe fazendo suspense com a imagem coberta e tirando bem devagar o que cobria”, conta Frejat. “Adoramos aquilo. O peixe indefeso, prestes a ser triturado em um liquidificador. Uma certa urgência, a coisa da vida dura. Todos éramos aquele peixe de alguma forma. E, no ‘Maior Abandonado’, fizemos a foto na Lapa, de madrugada, na porta de um hotel fuleiro que existe até hoje.”
Entre os capistas entrevistados estão Muti Randolph (autor de capas do Planet Hemp), Cafi (‘Clube da Esquina’, de Milton Nascimento e Lô Borges, de 1972) e Olivier Perroy (do coletivo ‘Tropicália’, de 1968). As artes do selo Elenco, criadas pelo artista gráfico César Villela, estão também lá. Felipe Taborda, claro, fala das suas criações, e lembra do boom das capas de disco no Brasil, pós-1982.
“A primeira capa realmente marcante, acho, foi a do ‘Clube da Esquina’, ainda nos anos 70. Mas, com raras exceções, as primeiras produções brasileiras ainda eram muito precárias”, analisa. Taborda começou em 83, fazendo o layout de ‘As Quatro Fases do Amor’, álbum da Cor do Som. “Foi essa geração que marcou a qualidade da capa de disco no Brasil. Eu sempre fui apaixonado por isso. Eu e meu irmão comprávamos LPs importados por causa das capas.”
O diretor João Felipe Freitas inclui 26 capas na primeira temporada. “Entrevistei profissionais que eu já respeitava, como César Villela, Elifas Andreato, Tunga e Gringo Cardia. Gostaria de ter um episódio sobre o disco ‘Sinal Fechado’ (1974), de Chico Buarque, mas ainda não conseguimos contactar o autor, Aldo Luiz”, diz. O diretor se considera mais um ‘voyeur’ musical do que um grande entendedor do assunto.
“Meu interesse era observacional: gostava de entender o que o outro ouvia. Minha curiosidade me faz querer saber mais. A capa é a identidade visual do artista. Mesmo que o formato disco desapareça, ele vai precisar de uma imagem.”