Por daniela.lima
Luis Pimentel%3A Antônio Maria%2C Ary Barroso%2C Lamartine%2C Suetônio%2C Rachel...Divulgação

Rio - ‘Dorme, menino grande, que eu estou perto de ti/Sonha o que bem quiseres, que eu não sairei daqui”.
O autor desse acalanto é Antônio Maria. Ele morreu em 1964 (dia 15 de outubro, há exatos 50 anos). Como se sabe, esse foi um ano complicado, em que, em meio a tanta coisa que não merece mais registro, registram­se também as mortes de Ary Barroso (no dia 9 de fevereiro, em pleno Carnaval, pouquinho antes de a Escola de Samba Império Serrano entrar na Avenida com samba-enredo em sua homenagem) e de Lamartine Babo (no dia 16 junho).

O compositor, cronista, jornalista, locutor esportivo e diretor de shows e programas de rádio Antônio Maria compôs e escreveu intensamente, comeu e bebeu desbragadamente e amou com fúria. “Foi o único homem que vi morrer de amor”, escreveu Chico Anysio, em suas memórias (‘Sou Francisco’). Jogou a vida e a inspiração no colo de uma paixão fracassada e bombardeou o coração imenso, em plena madrugada de boemia, na porta da boate que costumava frequentar.

Também são seus esses versos: “Ninguém me ama, ninguém me quer/(...)/Vim pela noite tão longa, de fracasso em fracasso/Cansaço da vida, cansaço de mim...” E esses: “Vento do mar no meu rosto e o sol a queimar, queimar/Calçada cheia de gente a passar e a me ver passar/Rio de Janeiro, gosto do você...”
E também essas três sentenças, publicadas em colunas de jornal: “É muito melhor estar mal acompanhado do que só. A única vantagem da solidão é poder entrar no banheiro e deixar a porta aberta.”
“Dificilmente uma mulher engana o marido às seis da manhã. O homem só deve inquietar­se quando sua mulher começar a ir à missa às três da tarde.”

“Quando fiz 15 anos, ganhei um relógio de pulso de 5 mil réis. Olhei os ponteiros, vi que era hora de fazer uma besteira e entrei no botequim.”

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Lamartine Babo ganhou da Funarte, em 1981, uma biografia brilhante e definitiva, escrita por um pesquisador dos mais sérios que a música brasileira fez por merecer, Suetônio Soares Valença (meu saudoso amigo e parceiro, juntamente com Luiz Fernando Vieira, em biografia de Geraldo Pereira). O título é lindo e singelo, ‘Trá­la­lá’, foi reeditado em 1989 e agora recebe nova roupagem, completa e luxuosa, no ano em que o bom Lalá faria 110 anos de idade. A revisão e ampliação da obra ficaram por conta de Rachel Teixeira Valença, escritora e pesquisadora das mais sérias que temos, parceira de Suetônio em um livro bonito sobre o Império Serrano e mãe de seus filhos. Rachel contou ainda com a colaboração dos jornalistas Alexandre Medeiros e Pedro Paulo Malta, esse último também cantor dos bons, uma das estrelas do belo musical ‘Sassaricando’, e fã de Lamartine.

Tra­la­lemos, pois. E corram atrás, porque esse é realmente um livro raro.

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