Por daniela.lima

Rio - Raramente filmes em cartaz conseguem exibir trabalhos de uma mesma, e grande, atriz simultaneamente. É o que ocorre no momento, quando dois longas, bem distintos entre si, oferecem a oportunidade ao espectador de conferir duas ótimas atuações de Julianne Moore, em ‘Mapas Para as Estrelas’, de David Cronenberg, e ‘Para Sempre Alice’, de Richard Glatzer.

A atriz Julianne Moore em cena do longa ‘Mapas Para as Estrelas’Divulgação


Em ‘Mapas Para as Estrelas’, um devastador retrato da Hollywood contemporânea, Moore é Havana Segrand, uma atriz decadente que luta com todas as armas para conseguir o papel numa refilmagem da qual sua mãe fora protagonista décadas atrás. Seu personagem é, como todos os outros, uma espécie de catarse da loucura que permeia os egos em busca da fama a qualquer preço na capital mundial da produção audiovisual. Sua busca pela permanência no hall das celebridades não possui escrúpulos.

Moore compõe sua Havana de forma expansiva. Em meio a terapias e barbitúricos, ela comanda sua batalha pessoal de forma verbal, mas sobretudo física. A atriz usa o potencial corporal para expressar uma personagem em permanente agonia e à beira de um ataque de nervos, que a qualquer momento pode explodir e incendiar tudo ao redor. Seu corpo é a caixa de ressonância de alguém que quer sempre ser mais do que é, mesmo quando o que se é não é grande coisa. Algo que os inúmeros ‘Big Brothers’ nos ensinaram a entender sem grande esforço.

Já em ‘Para Sempre Alice’, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz deste ano, o viés é introspectivo. Moore esforça-se para colocar o espectador no centro de um drama que infelizmente a cada dia se torna mais próximo. Alice é a linguista, de altíssima formação intelectual, que, aos 50 anos, apresenta um diagnóstico precoce de Alzheimer. Aqui, sua composição é intimista. Cabe à atriz transmitir o drama particular da professora que conscientemente perde seu maior patrimônio: a memória. E ela o faz com minimalismo, trazendo sua confusão mental para o centro da trama e conscientizando o público para esta batalha que espalha sofrimento por familiares e amigos, mas que precisa ser cada vez mais enfrentada com maturidade.

Resumindo: em dois filmes em cartaz, Julianne Moore, de extensa e consagrada carreira, comprova por que já é um clássico do cinema contemporâneo.

AÇÃO!

* O Festival Dois pontos exibe de sexta a domingo, no Teatro Ipanema, ‘Cia Provisória # 5 — Madrigal em Filmagem’. O filme, de 40 minutos, registra o trabalho ‘Madrigal em Processo’, realizado em 2008, que reunia teatro, performance, música e fotografia, inspirado nas obras de Antonioni, Cortázar e Bioy Casares. A direção é do argentino Pablo Ramos Grad. Sexta e sábado às 20h30 e domingo às 20h.

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