Por tabata.uchoa

Rio - Sempre tive o prazer de ter muitos amigos, uns diferentes dos outros, de lugares e universos distintos. Na minha infância o afeto era demonstrado em forma de brincadeira. Por exemplo, queria os meus camaradinhas no meu time de futebol, no polícia e ladrão, até nos trabalhos da escola. Tinha dois amigos tão próximos, Maurício e Felipe, que as nossas mães, todas recém-separadas, também tornaram-se amigas. Além das afinidades, havia a comodidade. A cada final de semana, uma tomava conta do trio. Até hoje, somos amigos. Elas também.

Amigo é quem te faz rir%2C quem te transmite alegria quando achamos que tudo está ruimAgência O Dia


Já na minha adolescência, as relações de amizade vieram em forma de palavras bobas, de amores platônicos, de cartinhas nunca enviadas, do início do entendimento das coisas. Já não eram dois os melhores amigos, eram vários. E as meninas já podiam entrar nesse rol. Acreditávamos realmente que o mundo era bom, que as pessoas eram boas, que a maldade era coisa de bruxa de conto de fadas. Ah, o primeiro beijo...

Aí veio o começo da vida adulta. O carro, o sexo, o pensar mais profundamente, se é que isso foi possível, na vida. A primeira namorada à vera e as preocupações dos pais. Fui para Manaus, deixei alguns amigos. Voltei para o Rio e minha turma mudou. No científico, que eu não sei mais como se chama hoje, éramos quatro amigos. Candé virou ator e mora em São Paulo, Zé Ricardo é músico e curador do Rock in Rio, Quinha se perdeu da minha vista. Inseparáveis nas rodas de violão, nas viagens, até de namoradas trocamos.

Na faculdade, ou seria no bar da esquina?, novos laços, a cabeça explodindo em ideias, em sonhos. Ah, mudar o mundo, tomar o poder, revolucionar. O último passo antes de seguir uma carreira, definir caminhos, rever conceitos.

A vida adulta é dura, é cruel. Ela chega para nos mostrar que nem tudo o que nossos avós e pais nos ensinam vestem tão bem assim o mundo. Nem todo mundo é legal, nem todo mundo é amigo, e a justiça é apenas um conceito.

Outro dia, meu compadre Fábio me dizia que acreditava que tinha muitos amigos, mas que andava decepcionado com muita gente. Descobriu que muitos que o cercavam faziam parte não de um círculo de amizades, mas de uma rede de trabalho. Achei curiosa sua constatação. Não soube o que responder. Sou cara de sorte neste quesito. Tenho ótimos amigos, como o próprio compadre, gente que pintou por caminhos diversos. Amigos de infância, de pelada, de praia, de música, de profissão. Presentes que a vida foi me dando pelo caminho. Sim, porque ela tira, mas também dá.

Em determinado momento da vida pensei que amigo era aquela pessoa que morreria por você, que te acrescentaria coisas importantes. Não penso mais assim. A coisa é mais simples. Amigo é quem te faz rir, quem te transmite alegria quando achamos que tudo está ruim. É quem simplesmente nos tem amizade.

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