Rio - Ao olhar para o passado, Marivaldo dos Santos — um soteropolitano de 42 anos e torcedor fanático do Esporte Clube Bahia — pensa no quanto por pouco, por muito pouco mesmo, não deixou de integrar um dos espetáculos musicais mais bem-sucedidos do mundo. Essa memória o acompanha mesmo hoje, quando já é um integrante fixo do grupo inglês Stomp há 19 anos e se prepara para passar pelo Rio de Janeiro pela quarta vez — a montagem poderá ser vista de hoje até domingo no Teatro Bradesco, na Barra da Tijuca. Ele se lembra bem do quanto passou perto de se sabotar.
“Olha, sendo bem sincero, eu não queria ir àquele teste. Era 1996 e eu já vivia nos Estados Unidos há quatro anos. Fui morar lá para acompanhar minha irmã, que é coreógrafa e já trabalhava na cidade. Depois de alguns meses, comecei a tocar percussão e acompanhar artistas bastante prestigiados, como Sting e Lauryn Hill. Isso fez com que eu viajasse muito pelos Estados Unidos, algo que, depois de um tempo, eu não queria mais. Tinha vontade de me estabelecer em Nova York e parar de rodar por aí. E, por mais estranho que pareça, foi nesse momento que soube da audição para o Stomp. Quando me disseram que o grupo viajava muito pelo mundo, o que faria com que eu tivesse que passar muito tempo fora, resolvi desistir, mas mudei de ideia a poucos minutos do início da seleção. Para minha surpresa, acabei aprovado e estou com eles até hoje”, relembra Marivaldo.
Um dos espetáculos mais longevos da indústria do entretenimento — sempre apresentando uma combinação de percussão, movimentos vigorosos, uma dose de comédia visual e tendo como marca registrada a utilização de objetos do cotidiano, como latas de lixo, vassouras e carrinhos de supermercado —, o Stomp foi criado em Brighton, na Inglaterra, durante o verão de 1991, como resultado de uma colaboração de dez anos que já existia entre os criadores Luke Cresswell e Steve McNicholas.
Atualmente, o grupo é composto por quatro equipes: duas são fixas — baseadas em Londres e Nova York — e outras duas se dividem em turnês internacionais. Cada formação do Stomp é constituída por pelo menos 30 integrantes. No entanto, apenas oito intérpretes trabalham em cada apresentação — a ideia é que não haja desgaste entre os artistas. Com um cenário que remete a uma rua, o espetáculo não tem trilha sonora pré-gravada, todos os sons e ritmos são criados ao vivo e complementam as coreografias. Para Marivaldo, esses elementos jogam a favor tanto do elenco quanto do próprio público.
“A base da apresentação é a mesma, mas a cada noite sempre encontramos espaço para criarmos novas formas. É como se tivéssemos uma fórmula que se renova de forma constante”.