Por felipe.martins

Rio - As atrações musicais do Rock in Rio tiveram um grande concorrente na tarde de ontem. Mais que as bandas Project 46 e John Wayne e Haleston, que abriram o palco Sunset, as poucas sombras da Cidade do Rock eram o objeto de desejo de quem resistia dentro de um figurino preto, sob um calor de 40º. “Depois que entrei aqui, emagreci 3kg só de suor”, exagerou o estudante carioca Gustavo Machado, de 17 anos. De noite, já com temperatura agradável, os fãs foram ao delírio no Palco Mundo com o ator Johnny Depp, guitarrista da Hollywood Vampires, banda que reúne Alice Cooper e velhos amigos roqueiros.

Mais de 200 pessoas passaram mal ontem com o calor na Cidade do Rock. Festival aumentou bebedouros Ernesto Carriço / Agência O Dia

Durante a tarde, mais de 200 pessoas passaram mal com o calor e foram atendidas no posto médico. Para minimizar os efeitos das altas temperaturas, os organizadores aumentaram em 50% o número de bebedouros — agora são 104 em toda a cidade do Rock. Água mineral foi distribuída na fila de acesso ao festival e os bombeiros foram acionados para jogar água nas pessoas que aguardavam no local. Guarda-chuvas, antes proibidos, também tiveram sua entrada liberada até às 17h — não que houvesse qualquer sinal de água vindo do céu, mas já ajudava a amenizar os raios solares. Outro item liberado foi o protetor solar e garrafas com líquidos, desde que não tivessem tampa.

“Trouxe muita água, boné e protetor solar e, mesmo assim, não esperava encontrar um sol tão intenso”, desabafou a estudante Milena Rocha, de 17 anos, que encara seu Rock in Rio. Para amenizar a sensação de rock no deserto, o público usou a criatividade. As lixeiras se tornaram bloqueadores solares concorridos. “Rodamos muito até achar essa sombra (atrás de uma das lixeiras). Decidimos ficar aqui para nos proteger do sol até o clima melhorar”, explica Sheila Vieira.

Uma das estratégias de refresco foi o banho no chafariz da entrada. “Nem adianta muito, porque logo a água evapora e vem o calor de novo. O jeito é revezar entre o chafariz, a sombra das lixeiras e beber muito líquido”, disse Karine Seixas, após encharcar os cabelos na fonte.

Transporte melhor e sem tumulto

Na Cidade do Rock, calor podia ser motivo de reclamação, mas quem ainda estava a caminho do festival, ia fresquinho e sem problemas. Nesse primeiro dia da segunda semana de shows, a maior parte do público elogiou o esquema de transporte. “Eu vim em 2011 e comparando, realmente o sistema de transportes pra cá está melhor. Mais organizado, ar condicionado funcionando direitinho e sem lotação. Realmente, a galera mandou bem”, elogia a estudante Cíntia Nascimento.

Para o engenheiro Cristiano Xavier, alguns fatores podem melhorar. “Hoje eu peguei o ônibus no Galeão e o motorista se perdeu na linha amarela. No sábado, quando saí do show foi um pouco caótico. Fizeram uma espécie de curral aqui na entrada e as pessoas andavam em zig-zag. Foi realmente irritante.”


‘ESTÁ TUDO MAIS CONTROLADO’, DIZ ROBERTA MEDINA , VICE-PRESIDENTE DO ROCK IN RIO

Mesmo com os inúmeros desafios pela frente, Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio, comemora o sucesso da primeira semana do festival e faz um balanço da 30º edição da festa.

O que você achou da primeira semana do Rock In Rio?

"Vimos que 86% das pessoas que estiveram na primeira semana na Cidade do Rock pretendem voltar em 2017%2C afirma Roberta MedinaJoão Laet / Agência O Dia

—Foram três dias super bonitos e todas as operações deram certo. Tivemos um gargalo só no primeiro dia, além de dificuldades por causa das obras. Falamos com a Fetranspor e aumentaram de três para trinta catracas no festival. As pessoas saíam da Cidade do Rock em menos de uma hora. Vimos que 86% das pessoas que estiveram na primeira semana na Cidade do Rock pretendem voltar em 2017.

Com o aplicativo da Bloom, você acredita que o problema das filas nos brinquedos foi resolvido?

—Sim. Muita gente reclamou que chegava mais tarde e não conseguia agendar. Quem chega mais cedo tem o privilégio de agendar.

Muita gente reclamou das filas para banheiro, bebedouro e compra de alimentos. Há algo que possa ser feito para resolver isso?

—Vamos mobilizar os bebedouros para fora da linha da entrada do banheiro, para não haver confusão de filas. Mas são shows com 86 mil pessoas de público, lógico que não podemos fazer milagre. Com um pouco de paciência, as pessoas chegam lá. Enquanto o show está rolando, a pessoa pode ir ao banheiro, comprar um sanduíche, e só perder uma música. Temos que resolver um problema do banheiro feminino, que é com as mulheres que jogam absorventes íntimos no vaso. Mas temos uma equipe exclusiva de desentupimento que vai entrar nesta semana para trabalhar nisso. Com os mictórios individuais no banheiro masculino, resolvemos o xixi no chão.

Houve 160 ocorrências policiais no primeiro fim de semana, boa parte delas por furtos. Acredita que estão diminuindo?

—Sem dúvida. Lembra do Rock In Rio de 2011 ou do de 2013? Tínhamos mais de mil ocorrências em 2011 e no festival seguinte variava de 600 a 800. Chegarmos a 160 é um luxo.

Enquanto aconteciam os shows da tarde de domingo no Rock In Rio, Ipanema e Copacabana sofriam com arrastões. Acredita que isso afete o festival?

—Afeta porque afeta a imagem do Rio e a do Brasil. O turista passa a ter medo de vir aqui. Como cidadãos, ficamos cúmplices de uma sociedade desequilibrada. É uma questão de educação. Precisamos trabalhar por melhores condições para todo mundo. Existe gente ruim, mas existe gente que vai ficando ruim por ser maltratada.

Você teve tempo de assistir a algum show?

—Só assisti ao de abertura e ao Queen, e isso porque consegui fugir! São mil tarefas ao mesmo tempo. Faz parte do trabalho não conseguir ver nada.

Ricardo Schott


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