Rio - O tempo é a coisa mais determinante para os seres vivos que um dia morrem. O tempo individualiza, nos faz sermos diferentes sempre: o tempo que nascemos é único e o que morremos também. O tempo cria idades e tribos. Transforma beleza, sabedoria e maturidade. O tempo aproxima e afasta, alimenta e provoca. O tempo determina temporadas e encarnações. É ele que criou o jovem e também a velhice.
E é esse mesmo tempo, dependendo de como fazemos uso dele, que liga as diferentes gerações. As gerações sempre se comunicaram com ruídos. Os mais jovens (muitas vezes condescendentes e até debochados) entendendo a fala dos mais velhos como algo ultrapassado e os mais velhos julgando com certa pretensão os jovens mais tolos e despreparados. Afinal, a experiência é culturalmente contada em quantidade de tempo, certo? Mas não deveria.
Existem experiências de uma vida inteira e outras de algumas horas — onde está escrito que a primeira tem um valor maior? O tempo é relativo e as experiências também. A troca entre gerações deve ser um caminho de mão dupla. Não só o trainee aprender com o chefe ou o filho aprender com o pai, mas o contrário também.
Um amigo me disse algo que não havia pensado antes: a geração dos anos 90 e 2000 hoje tem um expertise único nas mãos — o domínio natural e absoluto das tecnologias existentes e ao alcance de todos — o smartphone, uma configuração, um streaming, uma hashtag, um download, uma edição. E, pela primeira vez desde muito tempo, as gerações maduras precisam da garotada pra ensinar. Isso tem um significado enorme na relação das gerações com seus tempos.
O diretor de uma empresa pode precisar da orientação de seu estagiário e a mãe certamente pedirá socorro ao filho no mundo tecnológico digital. Talvez isso quebre tabus e nos faça ver que a ação do tempo não tem coerência, pode ser aleatória: ‘coroas’ ligados e conectados e ‘garotos’ pouco familiarizados com as tecnologias e redes sociais. Não há regra pro tempo que passa e deixa marcas.
Me surpreendi com a observação do meu amigo e concordei, claro, mas acho que o mais novo sempre ensinou ao mais velho. Se assim não fosse, como teríamos velhos tão jovens pelo mundo afora? Encerro com George Bernard Shaw: “Tudo o que os jovens podem fazer pelos velhos é escandalizá-los e mantê-los atualizados.” Boa velhice. Boa juventude. Bom tempo pra vocês.