Por gabriela.mattos
Susana Vieira só faz questão de grife em carro%2C alto e blindado%2C gasta todo salário da Globo e se acha sortuda de nascença por ter carisma Marcelo Fidalgo / TV Globo

Rio - O ano é 1970, no Rio de Janeiro. A busca pela liberdade contra a repressão da ditadura é o pano de fundo para a supersérie ‘Os Dias Eram Assim’, de Angela Chaves e Alessandra Poggi, que estreia amanhã, às 23h, na Globo. “Essa era a época do Morro da Gal — point de encontro no Píer de Ipanema entre intelectuais, artistas, jornalistas e escritores —, de Caetano Veloso começando. A gente levava os filhos da gente pra praia, Leila Diniz barriguda. Tivemos filhos todas na mesma época, Tarcísio e Regina Duarte. E não tinha essa historinha de ter que tomar sol até oito horas não, meu amor! A gente ia até as cinco, não tinha câncer de pele”, dispara Susana Vieira, a Cora, antagonista da trama.

Cenas quentes

Aos 74 anos, a atriz continua com o pique jovial de sempre. “Faço uma mulher que beija na boca dois homens nessa novela”, diverte-se. Além disso, ela ainda conta que não tem pudor nas cenas quentes que protagonizará com o personagem Marcos (Júlio Machado), gerente de apostas do jóquei clube para quem Cora deve dinheiro. “A Cora o seduz para ele não cobrar a divida dela. Eu falei: ‘Gente, não tenho mais idade’. TV não tem photoshop”, brinca a atriz, sobre uma cena com os personagens pelados.

Quase perfeita

Susana mostra que sua irreverência e sinceridade extrema são alguns segredos da sua fórmula de sucesso. “O que podem esperar de mim nesse trabalho? Uma maravilha! Podem esperar que eu me supere como atriz”, promete. Tudo isso porque ela viverá mais uma vilã em sua extensa carreira. Algo quase aos moldes de Branca Letícia, da novela ‘Por Amor’, em 1997. “A Cora lembra a Branca Letícia por ser aquela mulher chique que fala absurdos. Para os outros, ela tem um comportamento mais social”, compara.

Com 54 anos de carreira, a atriz avalia que encontrar a essência do personagem não é uma tarefa das mais fáceis. “Não sei se ainda estou perfeita. Costumo ficar perfeita depois de um mês ou dois no personagem. Foi assustador porque é outra época (1970). Se fosse uma vilã de hoje, eu queria fazer diferente daquela Branca Letícia. Mas de época eu não posso gesticular ou falar alto. Então, falei: ‘Chama outra atriz’”, completa.

Trama da supersérie

Mas não demorou nada para a atriz encontrar o tom de sua Cora. Na história, a vilã é herdeira de tradicionais fazendeiros da época de ouro do café e viu sua fortuna minguar com o passar do tempo. Ela vive do sobrenome e do salário do filho, Vitor (Daniel de Oliveira), mas nem de longe consegue manter o padrão de vida ao qual esteve acostumada. “A Cora tem o vício de jogar nos cavalos e eventualmente ganha. Ela até rouba a amiga Kiki (Nathalia do Vale)”, lembra a atriz. A relação com o filho é fria. Eles não se chamam de mãe e filho, e ela é a principal aliada dele, confidente, e o manipula para casar com Alice (Sophie) e assim reaver o estilo de vida confortável que tanto estava acostumada.

Susana Vieira e Daniel Oliveira estão no elenco da supersérie da TV GloboDivulgação

Carro blindado

Já Susana Vieira não é nada de luxo. É o que ela garante. “Não sou mulher de grife, não uso Dolce & Gabbana, Valentino. Fico encantada como essas atrizes conseguem comprar todas essas marcas que custam 30 mil ou 40 mil dólares. Não tenho menor interesse em usar grife. A única grife que faço questão é carro, porque tem que ser bom para me proteger, alto e com motorista. E infelizmente, nunca pensei na minha vida, que por causa da violência teria que gastar R$ 60 mil para blindar o carro. Isso é a maior tristeza”, lamenta.

Nome verdadeiro

Batizada como Sônia Maria, Susana conta que só lembra do nome de registro quando tem que assinar ou olhar algum documento. Durante o resto do dia é seu nome artístico que reina absoluto. “Sou Susana Vieira quando estou de pijaminha, fazendo comida, andando na feira. Amo uma feira. Devo ser Sonia lá dentro, no íntimo”, frisa.

Xô, modéstia

Conhecida por sempre se posicionar, Susana conta que não suporta hipocrisia, mentira, falsa moral e modéstia. “Modéstia não existe na nossa carreira. A gente é vaiodoso, egocêntrico. Então, essa palavra modéstia que vá morar no Tibet”, fala com humor.

Considerada uma das grandes atrizes brasileiras, Susana não refuta o título. “Se eu estou nesse grupo, fiz por merecer. Eu trabalhei sem parar, nunca recusei trabalho, fiz teatro, fiz comercial, faço patins no gelo com 60 anos de idade. Eu aceito coisas que eu nem imagino. O Miguel Falabella me chamou para fazer um monólogo, eu aceitei e foi um sucesso. Mas pensa que eu achei que ia dar certo? Eu achei que não. Gosto de trabalhar, mas nada veio de graça”, pontua.

Vida muito fácil

Mas nada de pensar que a vida da atriz foi difícil. Ela mesma faz questão de bradar: “A minha vida foi muito fácil. Não sofri. Sabe aqueles depoimentos do tipo: ‘Foi tudo difícil, levei anos’? Para mim foi fácil, sucesso de cara, felicidade, e é até hoje, amor. Não passei fome, não tive que comprar casa para minha mãe (risos) e não tenho loja de nada. Não vendo produto nenhum. Meu produto é o meu talento!”, dispara.

Susana Vieira tem 54 anos de carreiraDivulgação

Destino do salário

Além das novelas, Susana é muito lembrada pelas peças das quais participou, como ‘A Partilha’, ‘A Dama do Serrado’, entre outras tantas. A atriz conta como investe seu capital. “O dinheiro que ganhei no teatro foi o dinheiro que investi em imóveis, e o dinheiro que ganho na Globo eu gasto porque eu gasto mesmo. Aprendi com o Miguel Falabella que o dinheiro tem que rodar. Rodando, ele volta”, revela, aos risos.

Carisma e milhões de fãs

Para ela, carisma é algo de nascença. “Existem pessoas que foram sorteadas e pessoas que não foram. Eu sou sorteada porque tenho esse temperamento de nascença. Acho que é muito melhor ser assim. Muito melhor falar com todo mundo, se dar com todo mundo, falar o que você pensa, falar o que você quer. Eu vim ao mundo com uma coisa que me disseram que é liberdade. Liberdade é ser feliz e ser inteligente”, define. “Só vivo por causa do público, a Globo que me ama e os 170 milhões de espectadores que me amam. O que será só um que não me ama?”, completa.

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