Rita Lee: letras censuradas não serão gravadas
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Rita Lee: letras censuradas não serão gravadas Divulgação
Por ESTADÃO CONTEÚDO

Rio - Desde 2016, quando lançou 'Rita Lee: Uma Autobiografia', Rita Lee tem compartilhado sua jornada pessoal de vasculhar memórias, baús, gavetas, arquivos e onde mais encontrar vestígios de seus 70 anos de vida completados em dezembro de 2017 e mais de 50 anos de carreira. Uma outra parte desse processo deu origem a seu novo livro, 'FavoRita'. O principal fica por conta do 'Dossiê Rita Perigosa', que mostra com auxílio de documentos que letras de músicas de sua autoria tiveram de ser modificadas para serem liberadas pelos censores durante a ditadura. Entre elas, sucessos como 'Banho de Espuma', de 1981, que, originalmente, se chamava 'Afrodite'.

O amor e a maternidade foram os principais responsáveis pelo enriquecimento de seu rock?

RITA LEE: O ambiente da família antiga que me pariu teve grande parte nas aventuras que me propus a fazer. Minha nova família me lapidou para dividir com o mundo as experiências de estar viva.

A música, para você, sempre valeu como um divã de psicanalista?

Eu diria que as músicas que fiz eram mais para o lado da mediunidade, não sentia que era eu quem as fazia. Eu praticamente psicografava o que o "santo" dizia.

No novo livro, você fala que não doeu quando decidiu não querer compartilhar sua longevidade com o público, que seria uma aventura só sua. Como está sendo essa aventura?

Está sendo a melhor fase de todas... Sabe aquela sensação de estar no lugar no qual sempre lutei, a vida inteira, para chegar? Pois é, cheguei.

Como é vivenciar esse período de reflexão sobre carreira e vida, através de seus livros, com esse olhar mais distanciado, de quem não está mais no olho do furacão da música?

Às vezes, parece que a 'ritalee' (odeio falar na terceira pessoa) é uma amiga que tive durante a vida inteira e agora encontro uma foto nossa de quando éramos crianças.

Algumas de suas canções que foram censuradas traziam um discurso fortemente erotizado. Alguns críticos, como Nelson Motta, diziam que o fato de canções como essas serem cantadas por cantoras (como você e Gal) era uma forma de dar mais autonomia às mulheres. O que você acha disso?

Nunca pensei que o que fiz durante 50 anos fosse o que se chama feminismo: eu ligava o "foda-se" e entrava decidida no mundinho considerado masculino, cantando sobre o que me desse na telha; de menstruação a menopausa, de trepada a orgasmo. Fora o resto.

Ainda que qualquer tipo de censura seja condenável, você acha que o erotismo parecia ser mais determinante quando a artista era Rita Lee?

Acredito que os "home" da censura me viam como uma Maria Madalena que gostariam de apedrejar (risos).

Muitas composições suas foram vetadas durante a ditadura. 'Prometida' foi uma delas. Você chegou a fazer ajustes nessa música de acordo com a cartilha dos censores ou desistiu?

Meu, nem lembro mais das censuradas, era tanta chateação que eu acabava desistindo. Mas me lembro de uma que se chamava 'X21', a cela em que fiquei presa. Fiz em homenagem às minhas colegas, brincando com o apelido de cada uma.

As músicas censuradas virão a público em algum momento?

Melhor deixá-las para trás, são de um tempo que não volta mais.

Você viveu o período da ditadura e sentiu na pele a repressão, a censura. O que pensa quando ouve pessoas ou grupos pedindo a volta da intervenção militar no Brasil?

Bocejo...??

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