Astrid Fontenelle conta que sua mãe doava para o Criança Esperança e que depois passou a fazer o mesmo
 - Juliana Coutinho/Divulgação
Astrid Fontenelle conta que sua mãe doava para o Criança Esperança e que depois passou a fazer o mesmo Juliana Coutinho/Divulgação
Por Gabriel Sobreira

Rio - Há cinco anos no comando do 'Saia Justa', do GNT, Astrid Fontenelle, 57 anos, tem a habilidade de tratar com seriedade e leveza temas delicados mostrando sempre seu ponto de vista, nem que precise revelar sua intimidade. Foi assim quando admitiu no ar que fez aborto quando tinha 18 anos.

"Nunca me arrependi do que falei. Não falei por impulso. Antes tinha conversado com a direção do GNT. Pensamos e nos preparamos para o 'tiroteio'. O meu depoimento foi muito sincero. Ninguém faz aborto porque quer, como se fosse comprar um biquíni na praia. Recebi mensagem agressiva, mas o apoio foi tão maior. Luto para que a gente consiga evoluir essa discussão no Brasil para que seja (o aborto) regulamentado dentro de normas até 'xis' meses. A mulher se expõe a cada lugar, cada buraco. Já passei e não quero que ninguém mais passe", defende a carioca, que ao lado de Pitty, Gaby Amarantos e Mônica Martelli, apresentará o 'Saia Justa', de hoje, direto de um teatro no Rio.

NA CIDADE

O desembarque do programa em terras cariocas faz parte do projeto itinerante da atração. Astrid diz que a iniciativa de sair de São Paulo e conhecer outras praças com as demais integrantes é ótima e produtiva. "A primeira vez foi em Porto Alegre (2016). Fomos Mônica (Martelli), Bárbara (Gancia), Maria (Ribeiro) e eu. Bárbara e eu fomos assustadas porque tínhamos zero experiência de palco. Quando abriu a cortina, que as pessoas foram ao delírio e, no final, todos se levantaram e correram para o palco, me senti muito pop star (risos). Queriam contar suas histórias, dar presentes. Ficamos surpreendentemente assustadas e felizes com esse banho de amor", comemora. "Tenho uma relação de amor com o Rio. Essa cidade tem um encantamento, uma docilidade que bate, apesar de todos os pesares, que não sou cega. Mas a minha cidade precisa dessa declaração de amor", derrete-se.

Cada vez que o 'Saia Justa' visita uma cidade, o programa exibe os pontos turísticos locais. "Mas com o Rio de Janeiro teremos um formato diferente, os pontos turísticos todos conhecem muito bem. Faremos muitas surpresas", conta, em tom de mistério.

SAÚDE

Há seis anos, a apresentadora foi diagnosticada com lúpus (doença inflamatória causada quando o sistema imunológico ataca seus próprios tecidos). "Chamei (a doença) para cima, enfrentei, foquei muito nela, me cuidei e me cuido com muito afinco e disciplina. A cada seis meses, faço avaliação clínica e tomo meus medicamentos sagrados. E vida que segue", diz, alegremente.

MATERNIDADE

Mãe de Gabriel, de 9 anos, Astrid afirma que ser mãe na maturidade mudou tudo na vida dela. "O melhor ensinamento para ele é o exemplo. Ele me deixou mais afinada com isso, sou mais educada, mais amorosa. Não posso dizer: 'Não fala palavrão' e xingar. Ou dirigir grosseiramente. Ser mãe mais velha é o segredo do sucesso. A medicina ajuda, todas as outras formas também. Antes do Gabriel, estava sem graça e sem estímulo. Ele me trouxe o melhor, vontade de estudar, muita alegria", comemora ela, que é casada com o empresário Fausto Franco.

"Ele é daquele tipo de pai que não brinca, mas que dá exemplos de caráter e estudo", entrega, apaixonada.

Corujona assumida, a jornalista faz questão de registrar cada segundo ao lado do filhão nas redes sociais. Mas educação é muito além de brincadeiras. "Criar filho dá muito trabalho. Isso não é função da escola. Ela tem que ensinar português, matemática... Eu tenho que ensinar ética, filosofia, comportamento. Ensinei a ele, desde pequeno, a segurar porta do elevador para as pessoas, a nunca gritar, nunca bater em menina", lista.

E pensa em ter mais um filho? "Eu adoraria, mas não sei se tenho idade. Sofro da síndrome do filho legal. O Gabriel é tão legal. Toda mãe sente isso. Como será o segundo? Fico perguntando para ele se quer um irmão ou irmã. Ele diz: 'Não, tenho uma cachorra'. E eu falo: 'Mas cachorra não vale, Gabriel'", diverte-se.

"Temos que conversar com as crianças sobre esse planeta em que estamos vivendo. Se não for dentro de casa, será na rua e não sei o que a rua está contando", ensina Astrid, que este ano será um dos multiplicadores do projeto 'Criança Esperança'. "Tenho aprendido tanto. Vamos viajar o país divulgando pessoas e projetos", vibra.

PRECONCEITO

O Gabriel já sofreu preconceito? "O preconceito do brasileiro inclui o negro com dinheiro no bolso. Uma vez, um garoto na escola do Gabriel o chamou de 'pretinho' de forma pejorativa. Isso abriu uma caixinha em mim que eu não sabia o que era sentir na pele, e eu senti, apesar da minha pele bege. Fui atrás de conhecimento. Ele nunca vai estar livre disso. O importante é criar uma autoestima forte", explica.

"Enquanto a gente não encarar que o Brasil é racista, não vamos evoluir. Eu até consigo, com olhar empático, entender que a pessoa não goste de preto, viado, manco, sarará, verde... Mas engole, fique calado, não agrida. Conviva com seu sentimento, mas tenha respeito. Daqui para frente, a gente só vai colocar no lugar de direito mais pretos, lésbicas, viados, mancos. O momento dessa discussão é agora", frisa.

Você pode gostar
Comentários