
Rio - As ruas do Centro do Rio e os personagens do Carnaval carioca encontram-se, mais uma vez, a 100 dias da tradicional festa popular. Em vez de esquinas e bares, figuras e pontos de encontro da cidade se esbarram entre as linhas do livro 'Vem pro Bola, Meu Bem! - Crônicas e Histórias do Cordão da Bola Preta' (Editora Numa, 180 páginas, R$ 38). Os organizadores André Diniz e Diogo Cunha trazem na obra, além de textos próprios, contos de outros autores, como Luiz Antônio Simas, Marina Iris, Aldir Blanc e Emílio Domingos. Os 101 anos do Cordão da Bola Preta, que em 2019 levou 500 mil foliões para festejarem, mostra, que o bloco continua em alta, seja nas calçadas, seja na literatura. "O Cordão da Bola Preta é um dos nossos patrimônios imateriais mais importantes do Carnaval", diz André Diniz.
Histórias como o surgimento da bandeira do Bola Preta e a criação da marchinha 'Segura a Chupeta', hino do bloco, estão no livro. A dupla de pesquisadores André e Diogo, que já se uniu para escrever em outras ocasiões, dividiu funções na criação de 'Vem pro Bola, meu bem!'. André explica que ficou com a parte mais "organizacional" do livro, e Diogo pesquisou mais de dois mil jornais e revistas, além de ter visitado instituições como o Museu da Imagem e do Som (MIS), para estudar sobre memória musical.
Apesar da tradição e fama do Bola Preta, André conta que a construção do livro mostrou a ele e a Diogo a falta de pesquisas sobre o Bola. Contudo, isso não impediu que os autores escrevessem 11 das 23 crônicas e artigos da obra, uma reunião de feras em defesa da cultura popular. A empreitada literária surge justamente depois de uma conversa com alguns dos que viriam a ser participantes do livro.
"Creio que pra todos nós que participamos do livro, e para milhões de foliões, o Carnaval só começa quando o Bola Preta desfila. A festa é a cidade, é o momento em que a humanidade exerce seu ponto mais alto de sociabilidade, reconhecendo as diferenças e produzindo toda uma cosmologia", celebra André.
Aval do presidente
A ideia do livro só foi concretizada após a superação de um período de dificuldades financeiras, que atrasou o lançamento em cerca de um ano. Desde o começo, o trabalho foi apoiado pelo presidente do Bola, Pedro Ernesto. À frente do Bola desde 2007, Pedro não esconde a alegria com a nova obra sobre o Bloco. "Eu esperava um maior número de homenagens pelo centenário do Bola. O livro significa muito para a instituição, dona de uma trajetória na defesa e valorização do Carnaval de rua carioca", diz.
Pedro Ernesto fala que o Carnaval de 2020 do Bola ainda está em etapa "embrionária", mas promete a "manutenção do lema 'tradição, paz, amor e folia"'. Para o futuro, Pedro pensa no Centro de Memórias do Bola, ainda sem data de lançamento. O espaço vai reunir a história de 101 carnavais, que está toda catalogada e digitalizada. "Roteiro obrigatório para os turistas", diz Pedro.
Natural de Itaocara, no interior do Rio, ele relembra uma noite de sexta-feira que o levou até a antiga sede do bloco, na Rua Treze de Maio. Depois daquele dia, já são 48 anos com o Bola. "Aprendi muitas coisas lá, uma apoteose do que a noite carioca tinha de melhor", conta.