Camila Morgado e Tainá Müller em cena de Bom Dia, Verônica - SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Camila Morgado e Tainá Müller em cena de Bom Dia, VerônicaSUZANNA TIERIE/NETFLIX
Por TÁBATA UCHÔA
Rio - A série "Bom Dia, Verônica", que estreia nesta quinta-feira, é o primeiro thriller original brasileiro da Netflix e já chega com o pé na porta. A obra aborda temas como relacionamento abusivo, violência doméstica, sexismo e corrupção policial. Na trama, Tainá Müller vive Verônica, uma escrivã da Delegacia de Homicídios de São Paulo que após presenciar um suicídio resolve ajudar mulheres vítimas de abuso. Ao mesmo tempo, a policial ainda tem que conciliar a carreira com a vida familiar. 
"Nesse ponto eu me identifico 100% com a personagem. Quando eu estava fazendo a Verônica, eu estava exatamente nesse momento. Eu tinha um filho de 3 anos, fazia todas aquelas cenas, chegava em casa e tinha que dar o jantar, botar pra dormir. No dia seguinte tinha que estar lá no set, com o texto estudado, pronta para fazer a Verônica, subir no muro, atirar, rolar, dar soco na cara do Du (Moscovis). E acho que essa é uma questão muito contemporânea da mulher, a gente está nesse lugar de deixar de se cobrar tanto. Acho que todas as mulheres estão muito sobrecarregadas", afirma Tainá Müller. 
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Verônica com a família e no trabalho SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Tainá Müller em cena de 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Tainá Müller em cena de 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Camila Morgado e Tainá Müller em cena de 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Tainá Müller em cena de 'Bom Dia, Verônica' fotos SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Tainá Müller em cena de 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Tainá Müller vive a destemida Verônica Suzana Tierie / Netflix
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
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Intérprete de Janete, uma mulher que sofre com os abusos do marido, Brandão (Eduardo Moscovis), Camila Morgado acredita que a série tem um importante papel de visibilidade e conscientização. "Eu tive muito respeito por viver a vítima. Tive um comprometimento com que ela fosse bem retratada e fosse verossímil. A gente conversou muito sobre os estágios que a vítima passa: o primeiro momento é sempre vergonha. Ela sente culpa, se sente responsável, não entende que aquilo tem nome. Ela acha que é responsável por isso. O agressor acha que a vítima é propriedade dele, tanto o corpo da vítima assim como seus pensamentos e todo o meio social da vítima é propriedade dele. Violência de gênero é uma violência que está pautada no poder. Então eu quis fazer essa passagem dela (Janete) começar a entender que sofre violência doméstica, que é vítima, que existe um nome para aquilo sim. E o nome é violência doméstica. E portanto ela tem que fazer a denúncia".
Maria Angela de Jesus, diretora de originais brasileiros da Netflix, conta que a produção trabalhou com entidades de apoio à vítimas de violência doméstica. "Nós trabalhamos com organizações locais para passar essa mensagem, mas passar de uma forma responsável, com uma preocupação de trazer o tema sem glamorizar a violência, sem trazer um olhar equivocado sobre isso. Contamos muito com o apoio dessas entidades pra ter responsabilidade no tratamento do assunto. Isso que é importante".
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Brandão e Janete no bunker para onde ele leva suas vítimas SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Eduardo Moscovis e Camila Morgado em 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Camila Morgado e Tainá Müller em cena de 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Camila Morgado em cena de 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Eduardo Moscovis e Camila Morgado em 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Brandão e Janete no bunker para onde ele leva suas vítimas SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Camila Morgado em cena de 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Eduardo Moscovis como Brandão em 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Eduardo Moscovis e Camila Morgado vivem, respectivamente, Brandão e Janete SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Camila Morgado (Janete) e Eduardo Moscovis (Brandão): violência Suzana Tierie / Netflix
Eduardo Moscovis vive o coronel da PM Brandão Suzana Tierie / Netflix
Tainá Müller na série 'Bom Dia, Verônica' Suzanna Tierie/Netflix
Com cenas tão fortes, Tainá conta que foi impossível não se envolver emocionalmente com toda a história. "Não tinha como não me envolver pessoalmente com o tema porque eu estou falando de uma realidade brasileira. Eu sou mulher. Eu entendo o meu lugar de mulher branca, mas também me interesso pela interseccionalidade do feminismo. Estudei e me atento para como é ser uma mulher negra, como é ser indígena hoje na nossa sociedade. Então, é um tema que me toca muito, sempre me tocou. Então não tive como não me envolver pessoalmente no assunto porque me diz muito respeito. Eu acho que diz respeito à todas as mulheres. Diz respeito não só às mulheres, mas à toda a sociedade em que a gente vive". 
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Eduardo Moscovis, que vive o agressor, também acredita na importância da conscientização. "Eu tomo essa questão muito para o lado pessoal, sabe. Para o meu lado pessoal de ator, homem, que vive no pólo econômico do país, na Zona Sul carioca... Eu me sinto responsável de fazer com que esse tema seja levantado, questionado e refletido. Do meu privilégio nato, eu acho que é fundamental a gente se questionar, questionar o nosso comportamental. E acho que a partir de mim pode ser que apareça uma reflexão". 
ELENCO DE PESO
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Tainá Müller, Camila Morgado e Eduardo Moscovis mostram sua versatilidade em papéis com os quais não estão habituados. Para dar vida a Verônica, Tainá fez laboratório na Delegacia de Homicídios, aprendeu a lutar e a usar armas. "A Verônica é uma mulher forte. Para mim, como atriz, eu tive que manter uma vibração muito alta, elevada. Ela é pilhada, eu queria passar isso. Ela se atropela, não pensa. Então como atriz, eu sempre me aquecia antes de entrar em cena pra manter essa vibração, esse sangue que corre rápido. Eu sempre senti a Verônica assim, com um ritmo diferente, por exemplo, dos outros personagens. Ela está sempre acelerada", revela.
A submissão de Janete (Camila Morgado) a Brandão (Eduardo Moscovis) também é retumbante. "Como é que a gente estabelece essa relação do Brandão com a Janete? É lógico que a Janete vai potencializar o perigo do Brandão. A Camila como atriz vai reforçar a minha atuação na medida em que ela se sente insegura ou ameaçada por mim. Isso é fato", diz Du Moscovis sobre o processo de construção dos personagens.
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Série 'Bom Dia, Verônica' chega à Netflix no dia 1º de outubro Divulgação
Camila Morgado como Janete em 'Bom Dia, Verônica' Suzana Tierie / Netflix
Cena de 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Camila Morgado e Tainá Müller em cena de 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Tainá Müller em cena de 'Bom Dia, Verônica' SUZANNA TIERIE/NETFLIX
Tainá Müller em cena de 'Bom Dia, Verônica' NETFLIX
"E aí a gente vai estabelecendo esses limites e esse tom de voz. O Brandão é muito mais ameaçador, muito mais cruel e covarde quando você percebe que esse cara existe do seu lado. Ele pode ser qualquer ser humano perto de você. Não precisa ser ogro, grandão, gritar... Esse é o velho caricato, que a gente desconstrói para criar uma proximidade com a nossa realidade", completa.
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Maria Angela de Jesus celebra a união do elenco e diz que todos os atores se complementam. "Cada elenco que a gente escolhe é pensado para aquela história. Em 'Bom Dia, Verônica' nós sabíamos que precisávamos de um elenco muito forte. O Eduardo Moscovis, quando você vê a força dele como esse serial killer, em um papel que não é o que ele normalmente faz... a gente precisava de um ator com essa amplitude de interpretação. A Camila é uma atriz fortíssima. Ela abraçou o projeto logo de cara. O Eduardo a mesma coisa. Tainá Müller também, que estava com a gente desde o início. O desafio de contar essa história para todos eles foi muito importante e significativo. O Adriano Garib, que faz o médico legista Prata, que também esteve em um papel diferente, em que ele é mais discreto. Geralmente, ele faz caras fortes. A gente tentou compor um elenco que se complementasse. E acho que conseguimos".
DA NOVELA PARA O STREAMING
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Conhecidos do público por suas participações em novelas na TV aberta, Tainá Müller, Camila Morgado e Du Moscovis não veem uma grande diferença do streaming para a TV. "No streaming, o telespectador comanda. Ele pode ver o que ele quiser, na hora que ele quiser, da maneira como ele quiser. Eu acho isso bárbaro. Maravilhoso. Mas eu não vejo no meu trabalho uma diferença. A linguagem é diferente de uma série para um filme ou para um teatro. São processos diferentes. Mas, no fundo, o meu processo como atriz acaba sendo o mesmo nesses diferentes veículos", afirma Camila.
"A novela a gente constrói junto com o público e o autor de uma forma muito orgânica e viva, a gente não sabe muito bem para onde o personagem vai ao longo da trama. Já a série tem uma possibilidade de um gráfico, nem que seja para a nossa cabeça, de como vai funcionar. Isso é uma diferença. Agora o binge Watching, que é uma coisa que a Netflix tem, em que os capítulos não são por semana, acredito que deva interferir em alguma coisa mais para os autores, pra direção, até para a montagem com essa questão dos ganchos. Mas para o nosso trabalho realmente não interfere", completa Tainá.
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REPRESENTATIVIDADE
A representatividade também é um fator presente na série, tanto em frente às câmeras como por trás delas. Maria Angela de Jesus garante que esse é um compromisso da Netflix para com os telespectadores. 
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"A gente sempre busca representatividade nas nossas séries, nos nossos conteúdos. Seja nas séries de ficção, nos projetos de conteúdos de não ficção, nos nossos documentários, nos nossos filmes. É muito importante. A gente quer que a nossa audiência se veja representada na tela. Trazer essa diversidade não só à frente mas também atrás das câmeras faz cada vez mais diferença nos projetos que nós construímos e eu acho que traz cada vez mais autenticidade para esses projetos. Então é sim um compromisso nosso de ter sempre essa diversidade", diz.
"Se queremos histórias diferentes, histórias novas, protagonistas femininas fortes, mulheres fortes, mulheres negras maravilhosas como temos na série 'Coisa Mais Linda', se queremos tudo isso à frente das câmeras, temos que ter também atrás das câmeras com diretoras, diretoras de fotografia. Cada vez mais a gente quer abraçar isso com diretores negros, produtores negros, cada vez mais buscar isso. Nosso diferencial é alimentar e ter cada vez mais essa representatividade forte e tê-la presente nas nossas histórias", finaliza. 
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"Bom Dia, Verônica" é baseada no livro homônimo de Raphael Montes e Ilana Casoy. A direção geral é de José Henrique Fonseca. A obra conta também com Izabel Jaguaribe e Rog de Souza na direção. O roteiro foi adaptado por Raphael Montes, Ilana Casoy, Carol Garcia, Davi Kolb e Gustavo Bragança.