“A cantora, praticante do Candomblé, é uma ‘Ekedi’ em sua religião. As Ekedis são suspensas para a iniciação, não precisando raspar a cabeça em sua preparação para servir aos Orixás”, afirmou a assessoria de Anitta. Muitos internautas, contudo, ficaram confusos porque não sabiam o significado de Ekedi.
“As pessoas não sabem nada sobre nós e nem querem saber. Elas só querem nos subalternizar e nos satanizar, inclusive para poder continuar ocupando seus lugares de poder hegemônico e de privilégio”, diz o professor Sidnei Nogueira, Bàbálòrìà da Comunidade da Compreensão e da Restauração Ilè Asè Sangó (CCRIAS), que escreveu o livro ‘Intolerância Religiosa’ da Coleção Feminismos Plurais.
Para entender quem é a Ekedi e o que sua figura representa para o candomblé, o iG Delas conversou com Nogueira e com Sônia Doin, que é Makota (o nome de Ekedi na vertente de Nação Bantu, da Angola) Kenzalejy, da casa Unzó kiloatala.
Quem é a Ekedi e qual a sua função?
“Elas são ‘o braço direito’ do pai ou mãe de santo e aprendem os fundamentos para o funcionamento das liturgias, da administração e do funcionamento da Casa, além das funções sagradas”, conta Sônia. Nogueira acrescenta que elas são a segunda mãe depois da mãe de santo.
Além de zelar pela casa, elas são ainda coorientadoras e coguardiãs dos saberes ancestrais africanos. “Elas zelam pelas yabás, pelos quartos e objetos sagrados, cuidam das roupas e do corpo em transe tomado pelos orixás no momento da dança”, afirma o professor. Essas mulheres não recebem a manifestação dos orixás e são chamadas de “a mulher que nunca dorme”.
Como uma Ekedi é escolhida?
“Existe o primeiro momento em que elas são suspensas e ela já começa a trilhar o caminho da aprendizagem para ser essa guia ancestral ao lado das lideranças da comunidade tradicional do terreiro. Depois vem a confirmação por meio dos oráculos divinatórios, o ori e o orobô [frutos usados nos rituais] ou diretamente no jogo de búzios, que apontam a escolha ancestral”, detalha o professor.
Sônia ressalta ainda que o rito de confirmação apresenta um toque sagrado dos atabaques, em que consegue-se apontar as mulheres que não recebem a manifestação dos orixás.
Depois ocorre a iniciação, a que Nogueira se refere como “um conjunto sofisticado de rituais para a cura da dor de corpo, mente, saúde integral” e ainda para “a negação do colonialismo, do adoecimento, das dores e doenças emocionais e espirituais”. As iniciações são secretas e não podem ter elementos revelados.
O símbolo da Ekedi vai além do terreiro
“Ela pode seguir sua vida, seguir sua carreira, ter sua independência. Mas ela tem o privilégio de ser escolhida de uma forma ancestral poderosa, por uma história do continente africano como verso do mundo, uma história ressignificada no Brasil a partir dos povos e comunidades tradicionais de terreiro”, explica Nogueira.