Martinho da Vila
Martinho da VilaLeonardo Aversa
Por Yuri Eiras e Juliana Pimenta
Rio - Na contracapa do LP 'Memórias de um Sargento de Milícias', lançado em 1971, o jornalista Sérgio Cabral apresenta o jovem Martinho da Vila como o resumo de "todos os sambistas em um único". Cinquenta anos e quase cinquenta discos depois, Martinho, aos 82, assume outra faceta: a representação de todos os cariocas em um só no álbum 'Rio Só Vendo A Vista', lançado ontem nas plataformas digitais.


Com capa desenhada pelo cartunista Lan, morto no início do mês, o novo trabalho é quase um papo de praça sobre as dores e delícias de viver no Rio. Na faixa que dá nome ao álbum, composta em parceria com o poeta Geraldo Carneiro, Martinho brinca com o cotidiano casca grossa da cidade: "O Rio às vezes/É um grande abacaxi/De São Conrado/A São João de Meriti".

"O Rio de Janeiro anda um pouco menos alegre. Uma das nossas características é a alegria, a gente ri até da tristeza. Mas, o pessoal anda um pouco de teto baixo", afirma o cantor, que explora o lado cronista - "herança de Noel", ele diz - em outras composições, como em 'O Caveira', que conta a história de um homem endividado que foge dos credores como um Garrincha das marcações.

Na canção 'Menina de Rua', um relato em primeira pessoa sobre uma jovem que vive em situação de rua, Martinho faz parceria com a filha Mart'nália. Aliás, sete dos oito filhos do compositor participam do álbum. Alegria, a filha caçula, faz sua estreia.

"Eu gosto dos filhos todos juntos. Eu falei: 'Alegria, quer ir lá fazer um negócio? É só colocar uma pequena intercessão, falar um oi'. Pensei que não ia dar porque cantar em vocal é difícil. Mas ficou bacana".
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Carnaval em julho: 'meio sem graça'

Torcedores e componentes da Vila Isabel se animaram quando a diretoria anunciou, em março, que Martinho seria o enredo da escola para o próximo Carnaval. Dias depois, a pandemia chegou ao país e atrasou os trabalhos das agremiações. A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) estuda colocar os desfiles em julho de 2021, caso não haja nova onda de covid-19. "Eu queria que fosse em fevereiro, até porque eu nasci em fevereiro. Então, o Carnaval em julho vai ser meio sem graça... A não ser que a pandemia já tenha acabado mesmo. Aí, todo mundo que tá com essa alegria presa vai se soltar. Dizem que o Carnaval que teve no Rio depois da Gripe Espanhola (1919) foi uma coisa incrível, sabe?", pondera.