Mahmundi - Lucas Nogueira/Divulgação
MahmundiLucas Nogueira/Divulgação
Por Filipe Pavão*
Rio - Além de homenagear a música preta brasileira, a cantora e produtora musical Mahmundi realizou um grande sonho com o projeto "Sorriso Rei": estrear como diretora criativa. Nesta sexta-feira, data em que se comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil, chegou às plataformas digitais a releitura de dois clássicos da MPB nas vozes de cantores negros da atualidade.
Publicidade
Lançado pela Universal Music, o projeto conta, em sua maior parte, com profissionais negros e traz nomes de peso de diversos segmentos da música brasileira. Xande de Pilares, Léo Santana e Priscila Tossan foram convidados para revisitar o hit “Tempo Rei”, de Gilberto Gil. Já Mumuzinho, Malía, Mc Zaac e Ruby gravaram “Sorriso Aberto”, um clássico na voz da saudosa sambista Jovelina Pérola Negra.
“A gente conseguiu fazer do nosso encontro uma grande festa. E o maior desafio foi pegar duas músicas que já existem, sem nenhuma pretensão de fazer melhor ou pior, apenas entender como é fazer essas músicas em 2020 com essas vozes tão fantásticas”, destacou a diretora criativa Mahmundi, que não quis colocar a sua identidade no projeto, mas sim “imprimir uma identidade jovem para a música popular brasileira, sem perder a personalidade de cada convidado".
Publicidade
Gilberto Gil e Jovelina Pérola Negra

Dentre uma gama enorme de artistas clássicos da MPB, escolher Gilberto Gil e Jovelina Pérola Negra não foi por acaso. Segundo Mahmundi, eles são artistas que unem "dois Brasis" e são fontes de inspiração para a cultura porque "trouxeram novidades para a comunidade dos artistas populares pretos".
“Pensar em Jovelina Pérola Negra e Gilberto Gil é pensar em dois Brasis. Desde uma música popular brasileira que acaba ficando no imaginário de uma elite popular, que é o Gil, que é maravilhoso e belo, até Jovelina que era é uma empregada doméstica. Inclusive, em um dos seus últimos shows, ela contou que viu as pessoas para quem ela trabalhava em seu show, um misto de felicidade e de dor”, disse Mahmundi.
Publicidade
A cantora Ruby, uma das convocadas para reler a obra de Jovelina, se sentiu prestigiada. “Fazer parte desse projeto, que revisita o passado ao trazer uma música que tem história e carga cultural enorme, mas cantada por artistas novos e jovens, foi uma grande honra. Esse convite veio em um momento maravilhoso, principalmente quando se trata do mês da Consciência Negra”, revelou a cantora, que busca agradecer as mulheres negras que abriram caminhos na indústria da música no passado.
Ocupando espaços

Para Mahmundi, é importante que pessoas negras ocupem espaços para acabar com o racismo. “Ato político é ter no casting de uma das três maiores gravadoras do mundo essas pessoas trabalhando, tocando e tendo autonomia para fazer. Eu não caio nesse papo de ‘black lives matter’ porque isso tem de ser na prática. Para mim, política é corpo presente habitando os lugares”, afirmou.

“A gente está aqui usando a nossa juventude para mudar o mercado, por isso, é importante estar em uma empresa que tem pessoas jovens que estão atentas ao que está acontecendo”, finalizou a cantora, que usou o período de isolamento para repensar a carreira.

*Estagiário sob supervisão de Tábata Uchoa