Bruno FagundesJoão Fenerich

Rio - Bruno Fagundes é uma das estrelas da peça "A Herança", que estreia nesta quinta-feira (14), no Teatro Clara Nunes, na Gávea, Zona Sul do Rio. Visto por mais de 22 mil pessoas em São Paulo, o espetáculo é dividido em duas partes, de três horas cada uma, tendo, ainda, Reynaldo Gianecchini e outros dez artistas no elenco.
Radiante por poder se apresentar para o público carioca, o ator, de 34 anos, que também é responsável pela produção, revela como foi "fisgado" pelo texto.
"'A Herança' é um espetáculo nada convencional. E esse trabalho de assistir coisas e, de repente ver a possibilidade de trazer pro Brasil, é uma coisa que eu faço há mais de dez anos. Estou sempre em constante pesquisa, investigação, busca mesma de possíveis peças de teatros, autores e novos formatos de teatro para trazer ao nosso país, pois eu também me considero um produtor de teatro", conta Bruno, que explica ter mantido o formato original do espetáculo para enriquecer, ainda mais, a experiência do público.
"Eu assisti a peça dividida em duas partes, de três horas cada uma, lá em Nova York. Quando eu vi esse texto, feito nesse novo formato, fiquei apaixonado", afirma o ator, lembrando que a obra de Matthew López já foi considerada como "possivelmente a peça de teatro norte-americana mais importante do século XXI", de acordo com o jornal britânico "The Telegraph".

"Ao dar a oportunidade para um espetáculo tão grande, é como se o espectador estivesse maratonando uma série ao vivo, sabe? Porque você fica preso a cada ato, e esses atos são divididos por intervalos, e possuem um gancho entre si. Então, termina um ato e as pessoas falam: 'Meu Deus, preciso ver o próximo'. E ver isso, participar disso, ao vivo, com os outros atores, é algo único. Tem sido um verdadeiro acerto", acrescenta.
Sob a direção de Zé Henrique de Paula, "A Herança" conta a história do jovem Eric (Bruno Fagundes), que prestes a ser despejado de seu apartamento, enfrenta uma crise com seu noivo, o roteirista Toby (Rafael Primot), que lida com uma ascensão meteórica à fama. Na tentativa de entender seus próprios sentimentos nesta fase turbulenta, Eric aproxima-se de Walter (Marco Antônio Pâmio) e Henry (Reynaldo Gianecchini), dois homens mais velhos que possuem outras visões e experiências. Em meio a encontros e desencontros, eles ainda esbarram com Adam (André Torquato) e, juntos, personagens de três gerações diferentes redefinem suas concepções sobre amor, afeto, perda, saudade e amizade.
Ao detalhar a parceria com o elenco, Bruno faz questão de exaltar Reynaldo Gianecchini, responsável por dar a vida ao personagem Henry. "Eu não conhecia o Giane antes desse projeto, mas quando lemos sobre o personagem, Zé Henrique de Paula [diretor] e eu pensamos imediatamente nele", relembra.

"Como sei que ele tem uma rotina ocupada, simplesmente peguei o contato dele e enviei o texto, propondo sua participação na peça. Na época, achei que o Gianecchini demoraria dias para me responder, mas ele me retornou em questão de horas e disse ter devorado o texto, que considerou um dos mais bonitos que já leu durante a vida", completa ele, que ratifica, também, a importância de Marco Antônio Pâmio, Rafael Primot e a veterana Miriam Mehler. "Organizamos um time excelente, e tem sido lindo".
Ao ser questionado sobre o nu frontal de uma das cenas do espetáculo, que tem classificação de 18 anos, o ator pondera que a obra não se resume a isso. "Temos 80 cenas de um texto absolutamente completo, que possui humor, drama, tragédia e contação de histórias, o que exige muito de todos nós, atores, no geral. Acaba que, diante de tudo, a nudez é um detalhe mínimo, que possui razão para existir e foi muito bem inserida na história, por sinal, com muito cuidado", conta ele. "E eu jamais daria um spoiler de quem vai ficar nu, tá? Tem que assistir a peça!", garante, aos risos.
Bruno também destaca o caráter social da montagem. Segundo ele, os desafios são ainda maiores para artistas LGBTQIAPN+ e obras que retratam suas vivências. "É uma estrutura [preconceituosa] tão intrínseca, presente em tudo. O mundo ainda está bastante estruturado de uma forma homofóbica, machista e racista, e o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas LGBTs", lamenta o ator. "A verdade é que ser artista já é um ato de resistência e ser LGBT também, o que, certamente, pode fazer com que as coisas fiquem mais difíceis", reflete.
Filho dos atores Antonio Fagundes e Mara Carvalho, ele celebra o desafio e avalia que conseguiu desvincular sua carreira das dos pais. "No começo, a comparação era inevitável, pois eu ainda estava conquistando o meu espaço, criando minha identidade como artista, né? Mas hoje em dia, há algum tempo, na realidade, conquistei esse lugar de total independência dos meus pais", afirma.

"Eu vivi coisas no trabalho que, meu pai, por exemplo, nunca viveu. Passei por experiências que ele nunca passou e vice-versa. Então, assim, somos absolutamente incomparáveis. Existimos e somos 'filtrados' pela nossa dor, pela nossa experiência, pela nossa alma. Então, é absolutamente impossível comparar atores radicalmente diferentes, com histórias com vontades distintas. Sigo criando minha história, minha arte e conquistando meu espaço".
Serviço
A Herança 
Local: Teatro Clara Nunes (Rua Marquês de São Vicente 41, terceiro piso, Shopping da Gávea) 
Data e horário: De 14 de setembro a 22 de outubro. Quintas, sextas e sábados, às 20h, e, aos domingos, às 19h.
Ingressos: R$ 130 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada), disponíveis através do site Sympla
Classificação indicativa: 18 anos
*Durante as duas primeiras semanas, será exibida apenas a Parte 1 do espetáculo, de quinta a domingo. Já a partir do dia 29 de setembro, as duas partes serão intercaladas. 
 
* Reportagem da estagiária Esther Almeida, sob supervisão de Raphael Perucci
 
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