Artista ressalta a importância de referências de identificação para mulheres pretasJeff Porto / Divulgação

Rio - Karin Hils marcou gerações com o grupo musical feminino Rouge e a icônica canção "Ragatanga (Asereje)". Anos após o fim da banda, a artista de 44 anos continua sendo motivo de inspiração tanto na música como na televisão. No mês da Consciência Negra, ela, que é uma potência preta, fala sobre a representatividade e carreira.
"Eu me sinto lisonjeada de me colocarem nesse lugar (de potência preta), mas não é um rótulo que eu mesma utilize ou me dê. Me considero parte da engrenagem. Sou uma mulher persistente, que se prepara muito para as oportunidades que a vida me apresenta, pois sei o que cada uma delas representou. Sou uma mulher inquieta, musical, intuitiva e que adora se redescobrir e desafiar", afirma.
Com milhões de visualizações em seus clipes na carreira solo e no Rouge, sucesso no teatro, novelas e filmes, Karin reflete sobre a importância das mulheres pretas terem referências de identificação e aconselha: "Criem oportunidades, se preparem e busquem. Acredite que você pode fazer a sua vida diferente de tudo que te foi apresentado. A conscientização, o letramento que vem se tornando mais forte em nossa comunidade, começa a gerar algumas mudanças, embora ainda tenhamos que batalhar dez vezes mais para conquistar uma oportunidade. Fico feliz que hoje as meninas pretas possam ter referências de identificação em diferentes esferas e como isso pode inspirá-las cada vez mais a se tornarem mulheres ainda mais potentes neste país".
Primeira mulher negra a apresentar o Prêmio Bibi Ferreira 
Karin foi a primeira mulher negra a apresentar o Prêmio Bibi Ferreira, a mais importante premiação de teatro do país, que aconteceu em outubro deste ano. "Eu me senti muito honrada com o convite que recebi do Miguel (Falabella) juntamente com o Marllos Silva (idealizador do prêmio). Para quem não sabe, antes de mim, a Alessandra Maestrini apresentou o prêmio todos esses anos e ela é uma artista de quem eu sou muito fã, admiradora do trabalho", diz.
A atriz, então, reflete sobre o convite e fala sobre suas oportunidades ao longo da carreira. "Acredito que eles (organizadores do prêmio) levaram em conta a minha trajetória de vários trabalhos dentro do teatro musical brasileiro para fazer o convite. Tem ainda a minha representatividade dentro de tantas produções por onde atuei. Tudo isso em um momento em que a questão da representatividade e também de tantos outros assuntos estão sendo debatidos diariamente na sociedade", inicia.
"Me sinto feliz de ter dividido isso ao lado do meu grande amigo Miguel Falabella, que tanto acreditou na minha capacidade artística ao me dar oportunidades para que eu me desenvolvesse e conquistasse papéis importantes, inclusive como protagonista. Eu costumo dizer que eu furei muitas bolhas juntamente com alguns amigos. Ainda somos minoria, falta preparo para a maioria de nós, mas essa arte no teatro musical nos obriga a ter que ser completos. Um exemplo disso é a montagem 'Marrom, O Musical' (da qual eu fiz parte), que teve 99% do seu elenco com artistas pretos e que ganhou neste ano a categoria 'Melhor Musical Brasileiro', isso representa muito", conclui.
Carreira de atriz
No ar como a vilã Gláucia em "A Infância de Romeu e Julieta", uma novela do SBT com coparticipação do Amazon Prime Video, Karin não esconde a animação com essa fase de sua carreira que, segundo ela, está repleta de desafios. "Eu pedi tanto uma vilã, que a Gláucia chegou, o que eu agradeço a Iris Abravanel, ao Rica Mantoanelli e ao SBT pelo convite! No começo do processo foi uma descoberta diferente e, às vezes, conflituosa... encontrando em mim uma forma de vivenciar as vilanias da personagem e ao mesmo tempo a defendendo para trazer verdade cênica. É um desafio que com muito estudo e preparo tem sido uma experiência incrível. Espero ter no futuro mais personagens humanos e diferentes de tudo o que já fiz, gosto de me experimentar como artista", conta.
Após anos sendo uma cantora de sucesso, Karin relata como descobriu seu talento e amor pela a atuação. "Não foi muito difícil quando desde a infância eu sempre criei histórias na minha cabeça e as vivenciava. Eu era daquelas que era inspirada pela música que estava tocando no momento, inventava videoclipes. Até que eu conquistei minha primeira oportunidade de fazer um pouco disso profissionalmente", relembra.
Redes sociais e padrões de beleza inalcançáveis
As redes sociais acabam mostrando uma vida perfeita inexistente e padrões de beleza inalcançáveis. Karin relata como tenta não se comparar com outras mulheres para que isso não afete sua autoestima. "Acho realmente difícil não se comparar. Mas acredito que eu utilizo as redes de maneira mais moderada, consigo me desconectar por vezes quando quero relaxar ou estudar os meus textos da novela, por exemplo".
A artista revela ainda como lida com comentários negativos e o que faz para cuidar de sua saúde mental também trabalhando com a internet. "Ninguém gosta de comentários maldosos, ainda bem que quase não acontece isso comigo. Mas eu resolvo na maioria das vezes de forma simples, dou um block. Eu hein, ninguém é obrigada a 'receber' visitas que não te querem bem em sua 'casa'. No mais, eu tento me atualizar das trends e novidades, mas sempre priorizo o que está rolando na minha vida real, acho que essa é a melhor receita para quem quer manter a saúde mental mais estável em relação a internet".
Sobre os próximos projetos, a Karin avisa: "No momento estou dedicada integralmente às gravações da novela, e quando consigo conciliar as agendas faço algumas atividades como foi o 'Prêmio Bibi Ferreira' e também apresentar e cantar pela primeira vez na abertura do 'Teleton'. Foi uma emoção incrível somar força mais uma vez a causa em prol das crianças da AACD. Passado tudo isso da novela, tenho um projeto voltado ao teatro para o ano que vem, além de querer produzir mais uma leva de músicas novas para minha carreira solo e fazer novos trabalhos pro streaming e TV".