Taty Larrubiafotos: Divulgação / Taty Larrubia
Especialista explica o fenômeno de animações infantis entre adultos
Público mais velho tem lotado os cinemas para assistir a desenhos animados, como o último sucesso da Pixar
Rio - A mais recente animação infantil da Disney/Pixar, "Divertida Mente 2", estreou nos cinemas brasileiros no dia 20 de junho e já vem quebrando recordes. O longa teve mais de quatro milhões de espectadores na semana de estreia, somente no Brasil, e tornou-se o primeiro filme de 2024 a alcançar a marca de um bilhão de dólares, o equivalente a R$ 5,5 bilhões, nas bilheterias globais. O sucesso pode ser visto nas filas dos cinemas, não só pelas crianças ansiosas para para ver as emoções nas telonas, mas também por adultos, que se mostram cada vez mais interessados nos desenhos animados.
Tiago Andrade, coordenador do curso de Ciências do Consumo da ESPM, explica um dos motivos da atração do público mais velho por animações infantis: "Ser jovem, de uma forma geral, significa ter beleza, saúde, longevidade, pelos padrões da cultura, e isso foi se tornando cada vez mais forte no imaginário popular com o passar do tempo. Então, esse fenômeno propôs a todos nós uma extensão da vida jovem, com cada vez mais pessoas mais velhas querendo ser e agir como jovens".
Segundo o professor, as grandes produtoras de desenhos animados entenderam esses fenômenos sociais e começaram a aplicar em suas produções. Sabendo que, na maioria dos casos, os pais levam os filhos ao cinema, os criadores de conteúdo infantis adaptaram a linguagem para os dois grupos, por meio dessa tentativa de diálogo duplo entre pais e filhos.
"Se você assistir a esses desenhos em momentos da sua vida diferente, com certeza, vai ser impactado de formas diferentes. Então, não há nenhum tipo de ingenuidade das produtoras. Ao contrário, eles sabem que estão dialogando com diversos públicos e direcionam realmente o conteúdo para eles", expõe.
Com 32 anos, a carioca Taty Larrubia é uma das apaixonadas pelo universo das animações. "Tudo que a Disney lançar eu vou consumir. É algo que vai muito além dos filmes e dos parques, é um mundo com muitas subdivisões. Eu sou completamente encantada por tudo o que esse mundo oferece. Desde o modelo de negócio, até a animação que vai fazer com uma uma tarde que esteja um pouco mais pesada fique mais leve", conta Taty, que confessa estar ansiosa para assistir à "Moana 2", previsto para o fim do ano.
Diálogo entre gerações
Tiago Andrade comenta que a Pixar teve muito sucesso em trabalhar algo complexo e difícil de ser discutido, como a psiquê, em "Divertida Mente 2". "A animação foi muito bem elaborada no primeiro filme, exatamente porque ele conseguia falar de forma descontraída sobre questões psicológicas e psicanalíticas. Então, ele já é um filme rico para se discutir várias coisas entre adultos. Entre os jovens é uma historinha, né? E aí, quando pais e filhos assistem juntos, é possível um diálogo, uma comunicação ampla. E o sucesso vem nessa mesma expectativa", explica.
Taty, que faz doutorado em comunicação com ênfase em cultura pop, revela que já assistiu duas vezes ao filme e acredita que esta é uma das melhoras animações dos últimos tempos. Para ela, foi muito importante ver o sentimento da ansiedade com protagonismo na animação.
"Eu sofro de ansiedade, mas quando eu era criança não se falava dessa forma. Você não via nem os seus malefícios nem as estratégias para usá-la como sua aliada. O filme desenha uma crise de ansiedade. É muito representativo, principalmente para se falar sobre saúde mental. Eu me senti muito representada", declara.
A fã também destaca a forma como apresentaram o sentimento de maneira mais lúdica com as crianças e mais profunda com os adultos. "É interessante a forma como dialoga com a criança, com algo mais lúdico, que é a ansiedade como o vilão, mas também como um personagem maluquinho e engraçadinho. E conversa de forma muito profunda com os adultos. Para mim, isso é a chave do sucesso do filmes. Na nossa geração, a ansiedade e saúde mental são assuntos que estão muito em pauta", conclui.
*Reportagem da estagiária Letícia Montrezor, sob supervisão de Nara Boechat
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