Amanda Acosta no musical sobre Bibi FerreiraHamile Nobre/ Divulgação
'Inspiração gigantesca', diz atriz que interpreta Bibi Ferreira em musical que está de volta ao Rio
'Bibi - Uma Vida em Musical' reinaugura o palco do Teatro Carlos Gomes, reaberto após mais de dois anos de reforma
Rio – De volta à Cidade Maravilhosa para uma temporada para lá de especial, o espetáculo "Bibi - Uma Vida em Musical" foi escolhido para reinaugurar o palco do Teatro Carlos Gomes, no Centro do Rio, que ficou fechado por mais de dois anos para obras. A peça estreia nesta sexta-feira (26) e fica em cartaz até o dia 18 de agosto.
Ao DIA, Amanda Acosta, atriz que interpreta a saudosa Bibi Ferreira, falou sobre a responsabilidade de viver uma das figuras mais importantes do teatro brasileiro. Para ela, a história da cultura brasileira se mistura à potência que foi Bibi.
"O espetáculo é uma pequena aula sobre uma parte da história do teatro brasileiro. A trajetória da Bibi Ferreira se confunde com a do teatro brasileiro e do teatro musical brasileiro também. É um dos maiores desafios da minha da minha vida como atriz, porque foi uma mulher muito marcante e que esteve com a gente até 2019. Para levar a história dela para o palco, fazer com que o público veja e sinta essa energia da Bibi Ferreira, é preciso muito estudo para percepção do físico e vocal, porque ela tinha uma voz e um físico muito marcante. É muito desafiador", afirmou.
Interpretando a artista desde 2018, Amanda contou que ainda se depara com algo novo sobre a Bibi. "Até hoje eu descubro coisas sutis, que fortalecem ainda mais a imagem dela que eu quero levar para o palco e que as pessoas consigam viajar ali e sentirem a Bibi. Não verem a Amanda atriz, mas sempre a personagem. É um dos grandes desafios da minha carreira", disse.
Para viver Bibi, Amanda revelou que se prepara diariamente, seja com estudos vocais ou físicos. "Eu procuro estudar a minha voz e puxar mais para o anasalado, busco adaptar a musculatura, já que quando chego no palco, eu subo um pouco os ombros, porque ela não tinha muito pescoço, e eu compenso antes, tenho que compensar isso. Eu preparo o meu instrumento de trabalho, que é todo o meu ser: corro, faço exercícios físicos, para que eu esteja com o meu corpo condicionado", detalhou.
Reinauguração do Teatro Carlos Gomes
A perspectiva de estar presente no musical responsável por reestrear o palco do Teatro Carlos Gomes deixa Amanda muito feliz. Segundo ela, a reforma do espaço é um marco para a cultura dos teatros.
"Há anos esse teatro precisava de uma reforma e isso traz uma esperança, que é o olhar para a cultura da cidade, do Brasil. Valorizar a história cultural. Tantas histórias passaram por esses teatros do Rio de Janeiro, que estavam largados. E é muito bom ver esse espaço quando cuidado. A gente voltar com um espetáculo que conta a história da Bibi Ferreira, que tantas vezes pisou nesse palco... Imagina quanta energia", celebrou, sonhadora.
"Quantas pessoas não passaram por ali e viveram coisas incríveis. E quantas pessoas não se apresentaram ali naquele palco. Estou muito emocionada. Todos nós estamos. Nesse espetáculo, a gente conta a história também de outros artistas que atravessaram a vida da Bibi. Acho que vai ser uma grande festa de reencontros reais e energéticos. Eu acho que é uma potência muito grande, muito lindo", frisou.
Os bastidores
Como uma grande família! Sobre os bastidores, Amanda revelou que o clima é de muito amor e respeito. "A gente se admira muito. Quando acaba a peça, a gente quer ficar junto. É todo mundo muito responsável: artistas comprometidos com o ofício, equipes criativa e técnica, todo mundo que trabalha ali tem muito respeito pelo seu ofício e pelas pessoas. O que, às vezes, não fica sintonizado, a gente abraça e sintoniza. É uma relação muito bonita. Todos estão pelo espetáculo e se doam totalmente", contou.
O clima especial nos bastidores não fica restrita aos atores. De acordo com Amanda, Tadeu Aguiar, diretor do espetáculo, conduz o musical de uma forma maravilhosa. "Ele é o homem do teatro. Conhece tudo e faz de tudo para levar emoção. Para ele, o foco está na emoção que cada cena traz, o que o teatro é capaz de fazer na vida de uma pessoa, de transformá-la. O talento e a vocação dele como diretor são inquestionáveis. Eu sou fã do Tadeu. É um grande amigo e faz uma direção maravilhosa em 'Bibi - Uma Vida em Musical'".
Performance premiada
Vencedora dos principais prêmios de teatro na categoria de Melhor Atriz, como APCA, Bibi Ferreira, Reverência e Cesgranrio, Amanda Acosta revelou que não consegue nomear um como o mais especial. Para ela, cada premiação é uma afirmação do bom trabalho que vem fazendo com o musical.
"É um sinal de que eu consegui enganar as pessoas. Independentemente de serem críticos, ou não, são seres humanos que estão ali assistindo a um espetáculo. O que a gente quer é enganar as pessoas, fazer com que elas fiquem ali, chorem, se emocionem e torçam pela personagem, esqueçam que estão no teatro e embarquem na história. O reconhecimento vem disso, porque a pessoa esquece da atriz que está fazendo. E aí, quando sai, olha a atriz e fala: 'nossa, você que me fez acreditar que existia aquela pessoa'", opinou.
"Eu acho tão bonito, esse é um reconhecimento do trabalho que a gente tem para ficar nu lá em cima, porque você realmente traz a figura de outro ser e a pessoa embarca nisso. As pessoas reconhecem esse trabalho, que é árduo, mas que vale muito a pena", seguiu.
A potência chamada Bibi Ferreira
Quando estava se preparando para estrear o musical, em 2018, Amanda contou que conseguiu se encontrar com Bibi Ferreira apenas uma vez, quando a atriz estava internada em um hospital. Na visita, ela, que admira a potência que é Bibi Ferreira, tirou uma dívida sobre a época de ouro da artista.
"A gente não está contando só a vida de uma atriz famosa, está contanto a história de uma mulher brasileira, que na década de 1940 foi dona de uma companhia de teatro. A gente está falando de uma mulher que quebrou muitas barreiras, porque ela se respeitou, se ouviu. Ela teve apoio dos pais, sim, mas foi em frente, viveu do que queria, da sua arte. Não foi fácil, não! Ela ralou muito", expressou.
A artista contou ainda sobre um encontro com a homenageada. "Fui ao hospital para vê-la, e essa fui a única vez que eu fui vê-la quando a gente já tinha estreado. Eu falei: 'Bibi, eu tinha pesquisado sobre a sua vida e acho que tem umas informações erradas, porque eu vi num livro que tinha uma peça que ia estrear no dia 20 de agosto, depois falava de outra peça que ia estrear dia 23 de agosto do mesmo ano, acho que foi um erro'. Ela falou: 'Não, não, a gente precisava comer, colocar pão em casa'. Porque se não desse certo, já tinha outra, ou então já ficava duas em cartaz ao mesmo tempo. Não era sucesso, não tinha dinheiro, não entrava dinheiro, não tinha patrocínio", lembrou ela.
Antes de morrer, em 2019, Bibi Ferreira teve a oportunidade de pisar em um teatro pela última vez. Segundo Amanda, "Bibi - Uma Vida em Musical" foi a última peça a ser prestigiada pela grandiosa artista antes do fechamento final das cortinas.
"A última vez que ela foi ao teatro foi para assistir a história da vida dela. A Bibi foi uma mulher que trabalhou muito. Isso é uma inspiração gigantesca. E nisso, através dela, a gente estamos divulgando também a nossa arte e a nossa cultura. Nós estamos contando a nossa trajetória através da Bibi. Eu sou toda a Bibi, tudo o que ela fala ali é o que eu quero falar. As dores que ela sentiu, eu também já experimentei. Eu sei do que ela está falando ali", contou a atriz, que revelou se identificar com a personagem que vive.
"Estou aprendendo com ela o que eu desejo e o que eu não desejo também. Tem algumas coisas que ela fez, que eu falo: não, não desejo para mim. A gente vai se identificando com as pessoas e aprendendo o que quer e o que não quer também; traçando o nosso caminho e inspirando outras pessoas também. Assim é a vida. A beleza da vida está aí, e a gente faz isso através da arte. A arte une vidas, ela traz empatia”, finalizou.
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