Tiago da Cal Alves conta que seu apelido Papatinho vem desde a infânciaSam Robles/ Divulgação
Com música no filme de 'Bad Boys 4', Papatinho trilha carreira internacional: 'Mostrando a riqueza do nosso som'
DJ e produtor musical conta sobre os bastidores do trabalho e anuncia novos projetos
Rio - Com 18 anos de carreira, o DJ, beatmaker e produtor musical Papatinho está por trás de alguns sucessos da música brasileira e, recentemente, chegou às telonas com "Flores pra ti", canção que está na trilha sonora do filme "Bad Boys 4", em cartaz nos cinemas. Em entrevista ao DIA, ele falou sobre sua carreira internacional, revelou como surgiu o convite para entrar com a música no longa, compartilhou detalhes sobre seus projetos futuros e anunciou o lançamento de um álbum com a ConeCrewDiretoria após sete anos.
O carioca começou a carreira em 2006 no grupo de rap ConeCrewDiretoria. Ele lembra que, na época, os CDs estavam caindo em desuso e o streaming ainda não existia. "As gravadoras estavam em crise e ninguém sabia o que ia acontecer com a música. Foi então que comecei a fazer beats de rap por acaso. Meus amigos da ConeCrew, que conhecia desde a infância, começaram a escrever rimas e fazer rap, e eu queria ajudar de alguma forma. Íamos juntos para as batalhas de rima, assistíamos, e eles começaram a participar. Vivemos a cena underground do rap em 2005 e 2006", explica.
Tiago da Cal Alves conta que seu apelido Papatinho vem desde a infância: "Me chamavam de Sapatinho. No Rio, sapatinho é uma gíria que significa ficar na sua, tranquilo, e como eu sempre fui calmo, o apelido pegou. Com o tempo, a galera começou a brincar e modificar os nomes, e Sapatinho virou Papatinho. Quando comecei a viajar para fora, os gringos tinham dificuldade em pronunciar o 'inho', então eles passaram a me chamar de Papatino, e eu acabei gostando. Então, quando estou fora, sou Papatino, e aqui no Brasil, Papatinho".
O produtor revela que nunca imaginou que viveria da música. "No início, eu não tinha relação com a criação ou produção de música, mas adorava organizar, pesquisar lançamentos e gravar CDs. Foi assim que comecei a produzir beats de rap. O hip-hop usa muitos samples, onde se pega um trecho de uma faixa e se recria com uma nova roupagem e batida de rap. Descobri ser autodidata e ter um bom ouvido para produção musical, mesmo sem saber tocar nenhum instrumento", comenta.
Segundo o artista, ele começou a gravar todos os dias, sem parar, mas ainda não considerava um trabalho, já que não ganhava para isso. "Passamos uns quatro ou cinco anos sem ganhar nada, fazendo música por amor. A internet nos ajudou a ganhar visibilidade e, quando a ConeCrewDiretoria estourou, começamos a viajar e fazer shows. Acabei mergulhando de cabeça no mundo da música por acaso, sem influências familiares ou experiência prévia em estúdios. Me apaixonei e nunca mais parei", conta.
Carreira internacional
Papatinho afirma que sua carreira internacional tem sido uma jornada de muita dedicação e esforço. Desde 2014, ele tem viajado para os Estados Unidos, especialmente para Los Angeles, considerado um grande centro da indústria da música. "O que me motivou a ir para lá foi a oportunidade de fazer conexões importantes e trabalhar com artistas renomados, algo que sempre sonhei", diz o DJ, que já esteve oito vezes no local somente neste ano.
Nessa trajetória, o músico teve a chance de colaborar com grandes nomes como Snoop Dogg, Black Eyed Peas, Will.i.am, YG, Becky G, Steve Aoki e Timbaland. "Essas parcerias não só abriram muitas portas, mas também me ensinaram muito sobre a produção musical em um nível internacional", declara.
"Meu objetivo é continuar expandindo minhas conexões e levar a música brasileira para cada vez mais longe, mostrando a riqueza e a diversidade do nosso som. Los Angeles tem sido um lugar estratégico para alcançar esses objetivos, e cada viagem para lá é uma oportunidade de crescimento e aprendizado", conta Papatinho, que acredita que o momento mais memoráveis na sua carreira foi quando conheceu seu ídolo Dr. Dre na presença de Eminem, 50 Cent e seu padrinho musical Snoop Dogg.
'Bad Boys'
Papatinho deu detalhes de como surgiu o convite para fazer parte da trilha sonora do filme "Bad Boys", mas afirma que o processo até realizar esse feito na carreira não foi fácil. "Pode parecer simples, mas não é. Já havia tentado enviar músicas para outros filmes nos anos anteriores, sem sucesso. Enviei várias para 'Esquadrão Suicida 2', mas nenhuma entrou. No meu trabalho, aprendi a lidar com muito mais 'não' do que 'sim'", recorda o produtor, que recebeu o pedido das canções para o novo longa em janeiro.
"Separei uma seleção de músicas inéditas de grandes artistas e eles escolheram a da Becky G com a Luísa Sonza. A música entrou no filme, e fui creditado na faixa. Fui convidado para a première em Hollywood e assisti em primeira mão com Will Smith, Martin Lawrence e todo o elenco. Depois do filme, fomos para a after party, e foi incrível trocar ideias com eles. Todos gostam muito do Brasil, e fui muito bem recebido!", acrescenta.
Desafios
O DJ fala sobre os desafios que enfrenta e diz que já precisou se reinventar diversas vezes ao longo da carreira. "Sempre busco me manter atualizado. Sabemos que o mercado da música pode ser desafiador, e muitos artistas têm carreiras breves. Por isso, considero essencial buscar constantemente novos desafios e explorar novos timbres e sonoridades. Essa abordagem tem sido eficaz para mim".
Questionado sobre suas colaborações favoritas, ele responde: "Tudo que eu lanço é importante para mim. No entanto, o projeto Cone Crew, que foi meu primeiro passo, e os trabalhos com Orochi e L7NNON foram marcos importantes para minha gravadora Papatunes. Além disso, os singles em parceria com Seu Jorge e Black Alien em 'Final de Semana' e 'Onda Diferente' com Anitta, Ludmilla e Snoop Dogg foram experiências muito especiais!".
Novos projetos
Muito empolgado, o produtor musical comemora os projetos e parcerias que tem feito em 2024: "Recentemente, finalizei algumas produções que ainda não foram lançadas, mas posso adiantar que vêm colaborações interessantes por aí. Estou produzindo uma das faixas da Sexyy Red, uma nova artista do rap que está estourando lá fora, e participei do álbum dela junto com Mike Will Made-It, um renomado produtor de Atlanta. Também trabalhei em uma música para um filme".
Além dos projetos internacionais, Papatinho continua lançando trabalhos aqui no Brasil. "O Papatracks é um deles, onde faço músicas com artistas convidados. Só neste ano, lançamos uns quatro ou cinco vídeos. Voltei com o Papasessions, da Papatunes, que é um projeto acústico, e, recentemente, divulgamos um com L7NNON, Nog, Oik e Pezão".
"Estou produzindo diversos artistas no Brasil também. Trabalhei com Major RD na faixa 'Carolina', que tem o sample de Luiz Gonzaga. E ainda produzi a faixa 'Vem ou Não Vem' do álbum do Tz da Coronel", elenca. "Neste ano vou assinar mais de 50 produções, incluindo os projetos da Papatunes, as músicas internacionais e meus singles".
ConeCrewDiteroria
Para os fãs de rap e do grupo formado pelos MCs Ari, Batoré, Cert, Maomé e Rany Money com o beatmaker Papatinho, o artista anuncia, animado, que estão de volta e vão lançar um álbum após algum tempo sem novidades. "Acredito que muitos fãs estão ansiosos por esse retorno e podem esperar um álbum que traz toda a essência e energia que caracterizam a ConeCrew", conclui.
*Reportagem da estagiária Letícia Montrezor, sob supervisão de Nara Boechat
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.