Influência de Lampião na cultura nordestina será reverenciada no desfileDivulgação /Fernando Grilli
A agremiação de Ramos vai levar os delírios em torno da figura do 'Rei do Cangaço'. O carnavalesco adianta que não se trata de um enredo biográfico. A história apresentada na Avenida, inspirada em cordéis, trata das empreitadas enfrentadas pelo personagem após sua morte.
Contam os cordéis, que Lampião não foi aceito nem no inferno, nem no céu, e retornou à Terra, mais especificamente, ao Nordeste, onde encontrou abrigo. Leandro Vieira ressalta que a representatividade da cultura nordestina passa pelo que Lampião construiu.
"Ao me debruçar nestes cordéis a gente busca encontrar um destino delirante para essa figura tão contraditória e fascinante da cultura brasileira. Primeiro ele vai ao inferno, depois ao céu, sem encontrar abrigo e, por fim, desce à Terra para encontrar lugar nos imaginários das coisas do Nordeste", afirma o carnavalesco.
Leandro Vieira promete uma representação lúdica e sem julgamento de valor em seu enredo sobre o personagem. "Uma coisa que faz parte da dinâmica da construção do trabalho é o delírio. Me debrucei sobre os cordéis para estimular essas construções de imagens delirantes. Meu interesse não é saber se Lampião é herói ou vilão. Meu interesse é apresentar esse personagem que a cultura popular abraçou e segue celebrando de diferentes formas", explica.
Confira a letra do samba-enredo
Autores: Me Leva, Gabriel Coelho, Miguel da Imperatriz, Luiz Brinquinho, Antonio Crescente e Renne Barbosa
Intérprete: Pitty de Menezes
Uma história de assombrar, tira sono mais de mês
Disse um cabra que nas bandas do Nordeste
Pilão deitado se achegava com o bando
Vinha no rifle de corisco e cansanção
Junto de Cirilo Antão, Virgulino no comando
Deus nos acuda, todo povo aperreado
A notícia corre céu e chão rachado
Rebuliço no olhar de um mamulengo
Era dia 28 e lagrimava o sereno
E foi-se então... Adeus, capitão!
No estouro do pipoco
Rola o quengo do caboclo
A sete palmos desse chão
Nos confins do submundo onde não existe inverno
Bandoleiro sem estrada pediu abrigo eterno
Atiçou o cão cá-trás, fez furdunço
E Satanás expulsou ele do Inferno
O jagunço implorou lugar no Céu
Toda santaria se fez de bedel
Cabra-macho excomungado de tocaia no balão
Nem rogando a Padim Ciço ele teve salvação
Pelos cantos do sertão... Vagueia, vagueia
Tal qual barro feito a mão misturado na areia
Quando a sanfona chora, mandacaru aflora
Bate zabumba tocando no meu coração
Leopoldinense, cangaceiro, a minha escola
Eis o destino do valente Lampião
Informações técnicas
Enredo 2023: "O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida"
Carnavalesco:Leandro Vieira
Diretor de Carnaval: Mauro Amorim
Intérprete: Pitty de Menezes
Mestre de Bateria: Lolo
Rainha de Bateria: Maria Mariá
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro
Comissão de Frente: Marcelo Misailidis
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.