Sergio Reis lança biografia - Divulgação
Sergio Reis lança biografiaDivulgação
Por RICARDO SCHOTT

Rio - Uma das carreiras de Sérgio Reis está próxima do fim. Recuperando-se de uma cirurgia no coração e seguindo manso para não voltar a antigos problemas de saúde (teve um AVC em 2002 e fez uma operação no cérebro no ano seguinte), o cantor não tentará se reeleger como deputado federal. Já o trabalho como cantor continua firme. Aos 78 anos, o artista prepara dois discos: um em dueto com a mulher Ângela, e um álbum solo. Ainda que precise dar um tempo do excesso de shows.

“Precisei fazer uma ablação cardíaca. Tenho marca-passo, duas artérias deram problema e meu coração desbalanceou como se tivesse um alemão tocando na bateria da Mangueira”, brinca Sérgio, licenciado por 40 dias do trabalho em Brasília. Outra terceira faceta, a de contador e de gerador de histórias, ressurge na biografia ‘Sérgio Reis - Uma Vida, Um Talento’ (Ed. Tinta Negra, 256 págs, R$ 34,90), escrita por um velho amigo, o jornalista Murilo Carvalho, que é responsável por mais um encontro do cantor com seu público, como apresentador de rádio. Murilo dirige Sérgio há 25 anos na atração ‘Siga Bem Caminhoneiro’.

“No começo eu falava para Sérgio: ‘Vou contar sua vida!’ e ele: ‘Você tá maluco!’. Achava um absurdo que Sérgio fosse tão popular, mas que ninguém conhecesse a vida dele”, conta Murilo, que, pela proximidade com Sérgio, conheceu até o pai dele, seu Érico. “Tive total acesso a ele e horas e horas de entrevista.

Sempre que me perguntam se o livro é chapa branca, respondo que é um livro ‘chapa amiga’”, diz, sendo completado pelo biografado: “Quisemos contar a história desde onde começou, pegando minhas origens”.

CAIPIRA DE SP

Os fãs mais antigos sabem que Sérgio (cujo nome de batismo é Sérgio Bavini, tendo o “Reis” vindo dos sobrenomes da mãe) iniciou sua carreira como compositor de rock. Usava o nome Johnny Johnson, e no fim dos anos 1960, estourou com ‘Coração de Papel’, na onda da Jovem Guarda.

“Muita gente mal se deu conta disso, mas Sérgio tem origens absolutamente paulistanas. Veio de Santana, um dos bairros mais tradicionais da Zona Norte. O avô veio da Itália, a mãe dele é carioca criada em São Paulo. A família dele é muito musical. Sérgio entrou no universo da música e foi emancipado para cantar em boates de São Paulo”, conta Murilo.

A metamorfose que transformou Sérgio em artista nativista ocorreu só em 1973, quando ele foi contratado pela RCA (hoje Sony) e estourou com ‘Menino da Gaita’. Que ainda assim era uma versão em português do hit de um roqueiro espanhol, Fernando Arbex. No mesmo ano, viria ‘Menino da Porteira’, composta por um amigo e incentivador que morrera em 1965, Teddy Vieira.

“Nem Sérgio, que tinha paixão por Tonico & Tinoco, sabe explicar direito como aconteceu essa mudança para o sertanejo. É um dos momentos mais importantes do livro”, conta o autor. O cantor lhe explicou que num show em Tupaciguara (MG) com vários artistas, já nos anos 1970, Sérgio viu uma banda tocando ‘Menino da Porteira’, do amigo Teddy Vieira. Era uma canção que já conhecia e já havia até cantado, mas ficou assustado como a música levantou a plateia.

“Todo o clube aplaudiu e a música fez mais sucesso do que ele e a Martinha (cantora), que estava se apresentando também”, completa Murilo. Sérgio aprendeu a lição, cantou a música num show em Goiânia e ouviu um pedido para que cantasse uma outra de Teddy que ele não conhecia, ‘João de Barro’. “Sérgio prometeu que ia aprender a letra e cantar. Foi à loja de discos de um amigo procurar a música. E o amigo era o Amado Batista”, diverte-se Murilo.

Amado, por sinal, deve ser a próxima biografia de Murilo. “Estamos conversando. Se tudo der certo, vai acontecer”, afirma.

FILME E TV

O sucesso nas paradas credenciou Sérgio para fazer TV e cinema. O cantor estrelou a versão cinematográfica da música ‘O Menino da Porteira’, em 1976, prosseguindo depois com ‘Mágoa de Boiadeiro’ (1978) e ‘Filho Adotivo’ (1981), além de aparições em novelas como ‘Paraíso’ (1982), ‘Pantanal’ (1990) e ‘O Rei do Gado’ (1995). Em todos os filmes, e em ‘Paraíso’, seu personagem se chamava Diogo. Um detalhe que o livro conta e muitos fãs não sabem é que Sérgio, bem antes disso, foi ator de fotonovela - fez ‘Amanhecer Cinzento’, ainda na época da Jovem Guarda.

Outra curiosidade histórica: justamente por ser um cara da cidade grande, Sérgio não sabia nem o que era andar a cavalo quando fez ‘O Menino da Porteira’. “Ele foi lá, se vestiu de vaqueiro e fez as cenas. Mas nem sabia montar, já que em Santana não costuma ter cavalo”, brinca Murilo.

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