Xande de PilaresDivulgação

Rio - Xande de Pilares, de 52 anos, resgata suas raízes no novo álbum 'Pagode da Tia Gessy - Que Samba Bom', lançado nesta sexta-feira, dia 1. Foi lá no Cachambi, na Zona Norte do Rio, que o cantor deu seus primeiros passos na carreira, no começo dos anos 90, aos olhos de sua grande homenageada. Neste trabalho, ele também traz sua vivência no Morro do Turano, no Salgueiro, sua memória afetiva pela Favela do Jacaré e sua experiência em São Paulo. 
Ao reviver tantas histórias, o sambista conta que se emocionou em vários momentos e cita, inclusive, um em especial. "Toda hora vou na emoção. Porque acaba a música que você interpreta, vem a imagem de alguma época. De uma época muito difícil, que eu lembro que eu nem tinha instrumento pra tocar. Tinha o seu Aloísio, ali do Cachambi, que pegou um cavaco velho, do lixo, e reformou e me deu. E no mesmo dia teve um desentendimento lá, a pessoa quebrou esse único instrumento que eu tinha pra tocar. Quando a gente estava preparando o repertório da Tia Gessy, você começa a se arrepiar. Porque eu vivi tudo. Esse projeto é muito a minha verdade, a minha história. Uma história que acreditei e vou acreditar enquanto estiver vivo. É a minha capacidade e sensibilidade dentro da música". 
O álbum tem 30 faixas e a escolha do repertório não foi nada fácil. "Uma loucura. Quando você vai fazer um audiovisual, você tem uma quantidade de músicas... Só que só pode no máximo 30 e eu cheguei a juntar 150. Acabei gravando 80. A minha história é muito longa, sou uma pessoa muito musical. Tem muita coisa que ficou de fora, inédita. Acabou o HD no dia, pra você ter uma ideia da sinceridade da história. Queria mostrar exatamente o que eu fazia naquela época. Quando saía o disco, eu tinha uma semana para aprender a cantar aquele disco todo no pagode. Não tinha essa coisa de ser artista. Era só ter um cantinho pra você tocar seu instrumento, cantar, reunir seus amigos. E o repertório é praticamente em cima dessa história toda, que eu vou lá no Fundo de Quintal e vou subindo até os anos 90. Depois, venho contando contando minha história atual. O Pagode da Gessy está me dando essa oportunidade, mais uma vez, de eu mostrar esse lado meu que quase ninguém conhece. Esse projeto é praticamente uma biografia". 
Xande ainda ressalta a importância de homenagear Tia Gessy em vida. "Apesar de eu ter sido criado com a maioria, o pagode da Tia Gessy é meu ponto de partida, é onde eu começo a entender minha história como profissional da música. A gente tem a Tia Doca, a Tia Surica, as tias do samba. E a Tia Gessy muitas vezes não era mencionada. Então, achei que seria minha função poder mostrar para as pessoas o que significa o pagode da Gessy, porque tem essa importância. Foi ali que eu me aproximei dos compositores e por isso me tornei compositor. Achei legal fazer um registro com o repertório mais organizado. A Tia Gessy está aí. Fico muito feliz de homenagear ela em vida, em ver a reação dela. Não tem coisa melhor do que ver a reação de quem você está homenageando", vibra ele, que também exalta o trabalho de Arlindo Cruz, Almir Guineto e até Caetano Veloso neste álbum.  
Cantar para o grande público é maravilhoso e o cantor diz que curte fazer aquela roda de samba com a galera. Xande, então, fala sobre a sensação de gravar na Tia Gessy, no Cachambi, que é um lugar mais aconchegante. "É igual você cantar em um churrasquinho pros seus amigos, sua família. Ali é o quintal da minha casa. Onde minha mãe é a Tia Gessy. Eu me emocionei ali várias vezes, porque você vê que vale a pena se emocionar, ir atrás do sonho. A sensação é de emoção total, de se sentir em casa. É ali onde você se sente bem, que mostra pro garotinho que está chegando que é possível sim".
Ligação com a MPB
Com a pandemia, o sambista usou sua arte como válvula de escape. Ele, inclusive, se aproximou de grandes artistas da Música Popular Brasileira. "Enquanto muitas pessoas tiveram suas dificuldades na pandemia, muito de nós tivemos, teve sempre um ponto de alívio. O meu foi produzir. Pude me aproximar de muita gente, que sempre admirei. Como é o caso da Zélia Duncan, do Aldir Blanc, que deixou a gente. Fiz uma música com a Zélia do que estava acontecendo, componho com Serginho Meriti, a música chamada 'Novo Normal'. Componho com Meriti 'Cria da Comunidade', que foi a maior surpresa que eu tive. Eu recebo o telefonema de Bethânia, fiquei sentado, paralisado. Ela diz que vai gravar a música, me convida pra gravar com ela. Isso é fruto das sementinhas que eu planto por aí. Sempre querendo chegar nesse reconhecimento. É uma das coisas mais maravilhosas é ser reconhecido, por quem de certa forma te influenciou", analisa. 
Xande revela que se surpreendeu ao ser elogiado por grandes artistas. "Aconteceu com o Caetano Veloso. Fiquei com uma vergonha danada. Ele falando que ele conheceu meu trabalho ainda no Revelação. E você fica sem reação. Quer ver outra? A Maria Bethânia. Estava assistindo uma entrevista dela e ela elogiando meu trabalho. Não é que você não tenha capacidade, é que você não espera", frisa. 
Carnaval 2022
Após dois anos, Xande de Pilares fala sobre a expectativa para o Carnaval deste ano. "Primeiro, eu espero que a minha escola seja campeã. Eu nunca vivi isso. A gente se reunia, colocava nossas credenciais pra assistir desfile antigo. Pra sentir: 'Não tem Carnaval, mas tem Carnaval'. Espero que o Salgueiro seja campeão, que faça um bom desfile. Que todas as escolas tirem essa expectativa negativa. Que fica aquela dúvida, será que vai ser o mesmo termômetro? Será que a Avenida vai estar lotada?... É um Carnaval totalmente inédito", diz ele, que está empolgado. "Já mandei fazer a minha roupa. Quero estar todo de branco na Avenida. Até um tempo atrás eu estava preocupado. Hoje, não. Hoje, estou vendo uma coisa mas branda, a gente sabe com o que a gente está lidando, os médicos sabem. Ver o Carnaval... eu estou em uma ansiedade que você não imagina. Eu nasci em escola de samba, trabalho na Avenida desde criança. Estou ansioso pra ver o Carnaval depois da pandemia". 
Dança dos Famosos
O sambista vai mostrar no 'Dança dos Famosos', quadro do 'Domingão com Huck', da TV Globo, que além de bom cantor e compositor, é um bom dançarino. Xande explica que esse lado ficou meio 'adormecido' quando começou a cantar, mas que essa é uma boa oportunidade para ele voltar à ativa. Ele destaca que tem se dedicado ao novo ofício e revela seu truque caso algo não saia como o esperado. 
"Teve um período na minha vida, entre meus 8 a 13 anos, eu gostava dançar. Sempre gostei de dançar. Imitava Michael Jackson, dançava break. Quando você começa a cantar, pra alguém dançar, você aprisiona o seu lado dançarino. Dá até pra você tocar e dançar, mas não dá pra você tocar, cantar e dançar. Então, isso ficou aprisionado. Aí vem a oportunidade da 'Dança dos Famosos'. Rola aquela dúvida, porque eu sou um cara muito tímido. Mas aí veio aquilo que me fez aceitar o convite. Hoje, eu canto sozinho. Então, a gente pode tirar como aprendizado. É a oportunidade que eu tenho de recuperar esse lado dançarino meu, que vai me ajudar muito atualmente nos palcos. Agora só depende de mim, vou me dedicar bastante, pra que eu faça uma boa participação independente se eu vou ganhar ou não. Eu vou me jogar sem medo de errar, se eu errar, faço o carão e vou embora", diverte-se.
O cantor ainda revela qual ritmo tem vontade de aprender. "Eu sempre gostei de tango, ele tem uma certa semelhança com a gafieira. Ao mesmo tempo salsa. São duas coisas que eu nunca dancei. Já dancei gafieira, já sambei", afirma ele, que manda bem na gafieira. "A minha zona de conforto está aí. É meu ponto de referência para desenvolver as outras". 
Novo projeto
Sem dar muitos detalhes, Xande de Pilares adianta um novo projeto para este ano. "Esse ano vocês vão ter uma surpresa muito boa. Eu vou interpretar um grande compositor. É um projeto muito bacana que está pra sair, mas é um projeto particular, que pintou de um bate-papo. Queriam que eu fizesse um show de cavaco e voz no teatro. Aí, a gente resolveu fazer um projeto, que eu estou felizão".