Camille K foi uma das figuras icReprodução da internet

Rio - Considerada uma das pioneiras da cena LGBTQIAPN+ no Rio, a atriz e cabeleireira Camille K, de 82 anos, vem enfrentando dificuldades financeiras. Sem poder trabalhar após sofrer uma queda, ela conta com a ajuda de amigos e fãs, que estão se mobilizando em uma "vaquinha" virtual. A iniciativa conta, ainda, com o apoio do Clube Turma Ok, localizado no Centro, que promoverá neste domingo (10) a disputa do Miss e Mister "Plenitude Ok". Toda a bilheteria será revertida em prol da veterana, que foi uma das estrelas do documentário "Divinas Divas", dirigido por Leandra Leal, em 2017 .
"Camille K é uma das maiores artistas do transformismo de todos os tempos no país, além de ter sido um dos primeiros cabeleireiros famosos do Rio. Só sua aposentadoria não dá conta de seus gastos e está de tipoia pois levou um tombo", publicou o jornalista e historiador Rodrigo Faour, no Facebook, divulgando a  ação.
Procurada por O DIA, a atriz revelou que está sem atuar desde o início da pandemia do coronavírus, em 2020, o que gerou a crise financeira. "Os clientes foram sumindo, não fazia mais shows, os salões fecharam... De onde eu ia tirar dinheiro?", contou Camille. Atualmente, ela aguarda a decisão final a respeito de um apartamento em Botafogo deixado como herança por sua mãe, para Camille, seu irmão e dois sobrinhos, filhos da irmã da artista.
Enquanto isso, a moradora de Copacabana conta com os cuidados de um amigo de longa data com quem mora, depois de fraturar o ombro direito em uma queda, há cerca de duas semanas. "Estou me recuperando. A vida é assim, o que eu vou fazer?", reflete ela, que passará por um novo exame no próximo dia 14 para reavaliar a lesão.
Questionada sobre a campanha organizada pela Turma OK, Camille afirmou que está ciente e deixou claro que pretende retornar aos palcos, em breve. "Há dois meses, eu fiz um show na Tijuca e fiz uma homenagem para a Rogéria. Eu sou comediante, então fiz a minha comicidade e, no meio, cantei um playback da Rogéria, de 'Eu Sou o Samba'", relembrou.
Na ocasião, a estrela acabou contraindo uma inflamação nos pulmões por causa da baixa temperatura no local onde se apresentou, o que desencadeou um problema na tireoide. "Estou tomando as medicações e vamos ver o que vai acontecer. Se Deus quiser, eu ficando boa, eu volto. Claro que eu vou voltar", prometeu a artista.
Trajetória
Camille K conquistou a sociedade carioca quando ainda trabalhava em seu salão de beleza, o Carlinhos I Coiffeur, em Copacabana, na Zona Sul. Na década de 70, iniciou a carreira de atriz e ficou ainda mais popular ao se apresentar no Teatro Rival, com um espetáculo em que interpretava canções de Marlene (1922-2014), de quem Camille foi amiga e cabeleireira.
Entre os anos 1970 e 1990, atuou em diversas produções teatrais, chegando a ser dirigida por Miguel Falabella em "O Coração do Brasil", de 1992, e "A Pequena Mártir de Cristo Rei", de 1995. "Eu tinha a sociedade na mão", pontua ela.
Em 2004, participou do show "Divinas Divas", ao lado de Jane Di Castro, Rogéria, Divina Valéria, Marquesa, Brigitte de Búzios, Fugika de Holiday e Eloyna dos Leopardos. O título do espetáculo também deu nome ao documentário dirigido por Leandra Leal que estreou em 2016, contando as histórias brilhantes das oito artistas pioneiras da cena LGBTQIAPN+.
Boa ação
O presidente da Turma Ok, Sergio Porto, de 54 anos, falou sobre a iniciativa. "Fiquei sabendo através do Nabil Samir, que é um sócio da casa e também conhece ela, que ela estava nessa situação, sem trabalhar, tendo dificuldades financeiras. Daí, eu decidi com o nosso conselho em reverter a bilheteria pra ela, para ajudar da melhor maneira possível. Então, o show vai ser em prol dela."
"Vai acontecer um concurso chamado 'Plenitude Ok', para prestigiar pessoas de idade avançada. Nada mais justo, nesse momento, a gente tentar ajudar uma colaboradora antiga nossa, que sempre fez show na Turma Ok, como temos ajudado outros artistas em estado de vulnerabilidade. Sempre tentamos ajudar a comunidade local da melhor maneira que a gente pode. Então, nesse espetáculo, as entradas vão ser revertidas para a Camille. A gente está mandando (o convite) pra todos os amigos pra fazer encher a casa e a gente poder ter um valor razoável para ela", acrescentou Sergio.
Na direção do Turma Ok desde 2022, o presidente tem uma expectativa de levantar entre R$ 400 e R$ 500, com a casa lotada. O espaço, que fica na Rua dos Inválidos, 39, na Lapa, funciona há 62 anos ininterruptos com a contribuição de sócios e se apresenta como o clube LGBTQIAPN+ mais antigo do mundo ainda em funcionamento, promovendo shows de drag queen e transformismo, além de trabalhar com iniciativas de apelo social.
Os interessados em ajudar também podem enviar qualquer quantia pelo Pix 21 97280-1131 (chave).