Filipa (Joana de Verona)Globo/ Manoella Mello

Rio - Natural do Maranhão, mas morando entre Brasil e Portugal desde a infância, Joana de Verona, de 35 anos, coleciona trabalhos nacionais e internacionais. A atriz integra o elenco da novela "Mania de Você", da TV Globo, dando vida à portuguesa Filipa, que se envolveu com Rudá (Nicolas Prattes), movimentando o núcleo principal do folhetim. Em entrevista ao Meia Hora, a artista luso-brasileira relembra a infância, avalia as raízes que moldaram sua personalidade, comenta trabalhos na telinha e telonas, a recepção do público, semelhanças com a personagem, além da parceria com os colegas de elenco.

- Esta é a segunda vez que atua ao lado de Nicolas Prattes. Isso facilita na hora de contracenar?
Talvez facilite sim, por já nos conhecermos da novela "Éramos Seis (2019)". É bom reencontrar um colega de uma parceria que deu tão certo. Assim como a equipe de "Mania de Você" que também é praticamente é a mesma, estou bastante animada. Porém, o trabalho de interpretar é também esse, de criar uma boa escuta e vínculos com a/o colega. Nos outros trabalhos que fiz no Brasil, por exemplo, tanto nos filmes como na série da HBO, não conhecia ninguém do elenco. Os ensaios aproximam dos atores, faz parte do nosso ofício criar essas ligações em função da história que estamos contando.

- Quais as principais diferenças, falando em dramaturgia entre Brasil e Portugal?
São culturas diferentes, portanto os/as autores escrevem histórias e retratos da sociedade distintos.
Nos filmes brasileiros que protagonizei ao longo desses 12 anos por exemplo, "O Touro (2014)", filmado na ilha dos lençóis no Maranhão, existia um universo fantástico, mitológico. "África Da Sorte (2018)", filmado no Recife, tinha vários pontos da presença da cultura africana no Brasil. "Praça Paris (2017)" retratava aspetos específicos da sociedade do Rio de Janeiro. O "Tinnitus (2022)" - vencedor de três prêmios em Gramado-, filmado em São Paulo, cruza o ambiente do esporte de alta competição com a profissão de sereia de aquário. Todas estas histórias são muito específicas de cada região do Brasil, que sendo um território gigante e tão diverso acaba inspirando histórias muito únicas e ricas, e de realidades sociais próprias. Os autores portugueses também têm a sua singularidade e seu marco autoral na escrita, também escrevem roteiros interessantes e especiais, mas creio que no Brasil, pelo que já percebi, o espectro criativo é bem amplo.
- Esta é sua segunda novela na Globo. É um desejo se ancorar mais no Brasil?
Me sinto ancorada aqui também. Tenho casa aqui, família e todo um passado pessoal e profissional desde de sempre com ótimas memórias. Nasci no Maranhão. Aos oito anos vivi uma temporada na Bahia que marcou a minha infância. Tenho família carioca, morei no Rio alguns anos na infância e adolescência, onde estudei teatro e dança. Por curiosidade, lembro de aos 12 anos ter feito uma pequena participação na "Presença de Anita (2001)" e de ir aos testes para o "Beijo do Vampiro (2002)". Tenho memórias afetivas fortes dos colégios onde estudei aqui no Rio e da cidade. Tenho vindo a trabalhar no Brasil desde 2013 (são quase 12 anos) de cinema e TV aqui. Só falta o teatro. Ser luso-brasileira é uma vantagem e facilidade para trabalhar aqui no Brasil. Pretendo continuar desenvolvendo meu percurso profissional aqui sim e tendo bons encontros artísticos.
- É mais difícil chegar em uma novela já em andamento?
Como eu já gravei algumas cenas logo na primeira fase, em Lisboa e aqui no Rio, assim como cenas da 2° fase também, não acho que tenha essa dificuldade. A história do João Emanuel Carneiro é muito bem construída, então, tenho referências da dramaturgia, da linguagem da novela e informações da minha personagem. Quanto mais estudo dos roteiros e ensaios existirem, melhor. E o elenco e equipe estão muito afinados na melhor forma de contar esta história.
- Tem algo em comum com a personagem?
Creio que sim. Altruísmo, curiosidade pelo outro/a. Alguma intensidade e foco. Mas a Filipa assim como as outras personagens, está sendo construída pelo autor e sua equipe, e ela tem muitas surpresas pela frente.
- E como fica esta rotina entre Brasil e Portugal?
Neste momento não existe essa dinâmica entre os dois países porque eu estou vivendo aqui no Rio, fico direto gravando até ao final da novela. Mas como expliquei, é algo que tenho hábito já desde criança/adolescente. Então, essa rotina transatlântica é normal. Estou acostumada a viajar muito por motivos profissionais. Exige gestão dos trabalhos aqui no Brasil e em Portugal, mas tudo certo com isso. Fico feliz de poder trabalhar e transitar com frequência em ambos os países.
- Na trama, Filipa nutre uma paixão não correspondida na mesma proporção por Rudá. Em sua vida, já teve um amor não correspondido?
Não, nunca aconteceu.
- A Filipa teve uma grande desilusão amorosa com o Rudá. Você já se desiludiu amorosamente também, Joana?
A vida tem muitos momentos, que vão oscilando entre situações mais felizes e outras nem tanto. Todas as fases fazem parte do crescimento individual e de uma vida bem vivida.
- O 'desaparecimento' de Filipa está dando o que falar na novela e promete render mais ainda. O que mais o público pode esperar da sua personagem?
Vamos ver, novela aberta, tem momentos em que coloca os atores e o público num lugar de expectativa similar. Nesse momento eu espero tudo da Filipa. Mulher com personalidade muito forte, impulsiva, com a sua dose de obsessão, mas também com muitas razões para se sentir enganada e magoada. Veremos como ela retornará na história.
- Como tem sido a repercussão dos internautas sobre a personagem? Você tem acompanhado?
Às vezes dou uma olhada, sinto muito carinho, tanto nas plataformas digitais como nas ruas. O público tem sido bastante querido, demonstram gostarem do trabalho e acompanham.
- Nasceu no Maranhão, mas logo foi para Portugal. O que tem mais de brasileira e portuguesa?
Tenho muitas características mais "brasileiras" e outras mais "portuguesas", digamos assim. A minha personalidade é realmente uma grande mistura entre as duas culturas. Sou fruto dessas duas influências. Tem coisas que me identifico muito mais com o Brasil, outras mais com Portugal. Lembro que quando era adolescente no Brasil, achavam que eu era um pouco reservada, e em Portugal achavam que eu era muito expansiva. Mas posso dizer que me conecto muito com a natureza, a festividade, a música e a espiritualidade que sinto serem fortes potências brasileiras. E de Portugal, talvez algum cuidado na abordagem com os outros/as, alguma discrição em determinados aspetos. Mas não gosto de botar rótulos nem generalizar, mas em resumo, é isso.
- Foi eleita uma das belezas do cinema europeu, juntamente com a atriz francesa Léa Seydoux. Como recebeu este título?
Na época, achei surpreendente e engraçado. Foi um período em que os filmes que fiz, coproduções entre França e Portugal, estrearam em festivais, como Cannes, Veneza, Berlim, creio que foi por isso, por serem festivais com muita projeção europeia/mundial. Foi nesse contexto que trabalhei em filmes que tinham no elenco atrizes como Isabelle Huppert, Catherine Deneuve, John Malkovich, mais tarde Gérard Depardieu, por exemplo. Foi uma época bonita e feliz. Foi também o período em que eu estava morando em Paris, onde me formei como diretora numa escola de cinema e quando dirigi meu primeiro filme, o documentário "Chantal (2012)".
- Algumas mulheres afirmaram que a beleza atrapalha, pois sempre tinham que provar que eram muito mais do que um rosto bonito. No seu caso, a aparecia beneficiou ou atrapalhou?
Nunca senti que o meu aspecto físico nem o que que as outras pessoas pensam sobre isso, me tenha afetado no trabalho. Nunca senti que tive que provar mais por isso. Acredito que a dedicação ao trabalho e o profissionalismo falam por si. Talvez tenha sentido mais isso, por outras razões, por ter começado muito jovem, aos 8 anos estudando teatro e dança, no cinema profissionalmente aos 14 anos e no Teatro e televisão aos 16. Por ser uma jovem mulher, ai sim, havia a sensação de ter que provar competência, maturidade e brio profissional. Mas felizmente cedo entendi que o melhor não é ter que provar nada para ninguém não, mas sim trabalhar com afinco e com ética, paixão e devoção a este ofício que escolhi. Assim sou mais livre, mais feliz e estou mais em sintonia comigo mesma e com os valores em que acredito.
*Reportagem da estagiária Mylena Moura, sob supervisão de Isabelle Rosa