Rio - Alexandre Nero, de 55 anos, está em dose dupla nas telinhas! Além de interpretar o empresário Marco Aurélio no remake de "Vale Tudo", da TV Globo, o ator integra o elenco de"Guerreiros do Sol", novela original do Globoplay. Na trama, ambientada no sertão nordestino das décadas de 1920 e 1930, ele dá vida a Miguel Inácio, líder de um bando de cangaceiros. Entre dois personagens separados por tempo e contexto, o intérprete celebra a chance de mostrar diferentes tons de maldade — e humanidade — em papéis que, segundo ele, "não cabem mais nas caixinhas de mocinho e bandido".
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- Como foi se preparar para viver o universo do cangaço em "Guerreiros do Sol"?
É tudo muito novo para todos nós. É um universo que ninguém viveu de verdade, é histórico. Para mim, é ainda mais distante do que para a maioria do elenco, que é do Nordeste. Foi mais difícil nesse sentido. O que me ajudou muito foi estar com eles, porque colaboraram bastante com o linguajar e o sotaque. Mesmo assim, era complicado, porque eu acabava me comparando com eles o tempo todo.
- Miguel Inácio, seu personagem, é vilão? Como você o enxerga?
Eu tenho a sensação de que a gente já superou essa fase de dividir tudo entre bom e mau. A dramaturgia brasileira já passou dessa visão meio infantojuvenil. O que temos agora é a tentativa de mostrar a humanidade das pessoas — os lados bons e os ruins. Todo mundo tem os dois. O Miguel Inácio é um cara bom, mas que mata gente. E aí? Ele é bom ou ruim? Esse papo de mocinho e vilão ficou para os meus filhos. Quando a gente começa a falar com um público a partir dos 12, 16 anos, já dá para entender que ninguém é só uma coisa.
- O que mais te atraiu em "Guerreiros do Sol"?
A possibilidade de compreender e aprender sobre o cangaço, mas de uma forma que não glamouriza esse universo. A ideia é tratar aqueles homens como o que eles foram: guerrilheiros, criminosos, muitas vezes sem dó nem piedade. Não acho que dá para retratar como heróis, como várias biografias fazem.
- As filmagens externas foram gravadas no Nordeste, mas você permaneceu no Rio. Por quê?
Eu tinha acabado 'Travessia' e já emendaria num filme. Meu cronograma era curto: gravei Miguel Inácio em 2, 3 meses. Eles viajaram, eu fiz minhas cenas aqui.
- Além de 'Guerreiros do Sol', você está fazendo sucesso na novela das 21h da TV Globo, 'Vale Tudo'. O que torna seu personagem, Marco Aurélio, tão envolvente?
O Marco Aurélio faz coisas que a gente não concorda, mas ao mesmo tempo ele é carismático, ele é um cara sedutor. Picaretas são extremamente sedutores. Senão, não seriam picaretas. Quem vai dar dinheiro para um cara que não é sedutor? Políticos são super sedutores, por exemplo. Ele é uma pessoa que gosta de criança e trata bem uma mulher, mas trata mal os funcionários.
- Você costuma julgar os personagens que interpreta? Como lida com o lado moral de papéis polêmicos, como o Marco Aurélio?
O trabalho do ator é defender o personagem. Eu não sou juiz — quem julga é o público. Meu papel é fazer com que as pessoas gostem dele. Eu recebo o texto, sigo a direção, e dentro disso vou construindo esse cara. Se o público tiver que odiá-lo, isso tem que vir do que o Marco Aurélio faz, não de mim. O meu desafio é torná-lo sedutor.
- Depois da cena do orgasmo com Leila (Carolina Dieckmann), sentiu o personagem — ou você — mais desejado?
Desejam o Marco Aurélio, não o Alexandre. Ninguém suspirava por mim quando eu era o Tico Leonel em 'No Rancho Fundo' (2024), ninguém olhava para ele com tesão. A aparência também é ferramenta de trabalho: às vezes preciso ser sedutor, em outras apagar a vaidade.
- Qual foi o último filme que você assistiu?
Assisti 'O Aprendiz', que conta a vida do Donald Trump.