Desafio ambiental na Baía de Guanabara: ?Ilha de lixo? recebe limpezaRodrigo Campanário/Divulgação
Localizada a cerca de 20 quilômetros dos manguezais da APA de Guapimirim — um refúgio dos botos remanescentes e berço da vida marinha dos oceanos e da Baía de Guanabara —, a 'Ilha de lixo' é um símbolo vívido dos desafios enfrentados pela região. Plástico, pneus, sofás, TVs e outros detritos formam essa ilha, que se tornou um marco visual da degradação ambiental no estado do Rio.
“Este achado não apenas expõe a magnitude da crise de poluição na região, mas também enfatiza a urgência de medidas para proteger os ecossistemas costeiros”, define o gerente operacional do Projeto Do Mangue ao Mar, Rodrigo Gaião.
Uma quantidade de resíduos plásticos nunca vista pela equipe toma grande parte da área.
Pneus, colchão e sofá também foram coletados durante a operação. Apesar dos esforços, a área, que abrange cerca de 20 hectares, continua crescendo, exigindo uma ação contínua para restaurar a saúde do ecossistema.
Renda extra
A Operação LimpaOca na ‘Ilha do lixo’, iniciada em setembro de 2023 e programada para ir até agosto deste ano, mobiliza pescadores e catadores de caranguejos de três comunidades do entorno (Saracuruna/Caxias, Suruí e Guia de Pacobaíba/Magé), que dedicam duas manhãs semanais para a limpeza. Eles recebem uma bolsa-auxílio mensal de 800 reais durante a participação na atividade.
“Com a retirada desse lixo dos manguezais, estamos contribuindo para que o ambiente realize os seus serviços ecossistêmicos de forma mais eficiente fomentando a sociobiodiversidade. E utilizando a mão de obra dos pescadores e catadores de caranguejo, também contribuímos com a socioeconomia”, destaca Rodrigo Gaião.
Esta iniciativa de limpeza é uma continuação da força-tarefa realizada pelo Projeto UÇÁ, tendo sido considerada referência nacional pela Plataforma EduCares do Ministério do Meio Ambiente, em 2014. Além da ação na 'Ilha de lixo', o Projeto Do Mangue ao Mar realizará mais cinco atividades de limpeza nos próximos três anos, abrangendo tanto a Baía de Guanabara quanto a Baía de Sepetiba, com a participação de 168 pescadores e caranguejeiros e uma previsão de retirada de 35 toneladas de resíduos.
O Projeto Do Mangue ao Mar — realizado pela ONG Guardiões do Mar, em convênio com a Transpetro — une ambientalistas, lideranças e juventude de comunidades tradicionais (pescadores artesanais, caiçaras, catadores de caranguejo, indígenas e quilombolas) para fomentar o protagonismo dos povos do mar. Juntos, eles buscam soluções para os problemas socioambientais diagnosticados, incentivam o turismo de base comunitária com a valorização da cultura local, além de realizarem formações continuadas, atividades de educação ambiental crítica, pesquisas e eventos no entorno das Baías de Guanabara e Sepetiba.
Atuando com conservação de manguezais e democratização de conhecimento sobre os ambientes costeiros marinhos, o projeto oferece pagamento de serviço ambiental para catadores de caranguejo e pescadores artesanais, via transferência de renda para trabalho de limpeza nos manguezais. Eles são importantes aliados no combate a emergências climáticas, além de oferecerem serviços ecossistêmicos que fomentam a socioeconomia e sociobiodiversidade local.
Com um ano de atuação, o Projeto é parceiro oficial no Brasil para a Década das Nações Unidas para Restauração de Ecossistemas (2021-2030), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e um dos signatários do Plastic no Thanks, movimento que trabalha para mitigar as consequências da produção, do consumo e do descarte de plásticos. Se conecta, dessa forma, a outras grandes coalizões internacionais para a aprovação de um acordo juridicamente vinculativo sobre o uso de plásticos, através da Assembleia de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas.
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