Famílias tiveram que recorrer a empréstimos por conta da pandemia - Marcello Casal jr. / Agência Brasil
Famílias tiveram que recorrer a empréstimos por conta da pandemiaMarcello Casal jr. / Agência Brasil
Por Luiz Franco
Rio - Uma pesquisa divulgada no início deste mês mostra que 53% dos brasileiros pediram empréstimos pessoais para conseguir quitar dívidas no último ano. O levantamento foi realizado pela fintech Bom Pra Crédito, com o intuito de compreender o perfil do tomador de empréstimo, e aponta desafios para o próximo ano. Com uma estatística tão alta em 2020, o que esperar com a suspensão do auxílio emergencial?
"O principal problema se dá pelo fato de o auxílio emergencial ter se tornado a principal fonte de renda de muitas famílias que, com a redução de 50%, já enfrentam situações bem difíceis para as suas necessidades básicas. A tendência é ter um cenário ainda mais desafiador sem o auxílio, onde a única solução será não honrar os compromissos financeiros e/ou recorrer a empréstimos", pontua o especialista em finanças e consultor financeiro Marlon Glaciano.
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Para ele, a retomada econômica ainda é incerta por conta do cenário da pandemia da covid-19. "Muitas novas atividades, principalmente digitais, foram criadas, mas a grande maioria dos postos de trabalho básicos estão congelados pelo cenário de instabilidade e insegurança", diz. 
Glaciano aponta ainda que o cenário econômico deve se desenhar melhor até meados de 2021. "Caso não haja um avanço na economia, a tendência é que o estoque financeiro das famílias acabe gerando inadimplência e nova necessidade de tomada de crédito. Um ponto importante e que requer atenção se dá ao fato da tomada de crédito ser utilizada para a subsistência", reforça.
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Para o economista do Instituto Vovô Rico, Ricardo Paulo, essa necessidade de uma nova tomada de crédito pode ser dificultada por conta da própria situação financeira, que naturalmente gera uma desconfiança maior sobre a possibilidade de inadimplência. "Com os efeitos negativos da pandemia, os bancos se retraíram para liberação de qualquer tipo de empréstimo, até mesmo para as grandes empresas, em função do grande risco. Somente pessoas com garantias reais tiveram acesso a qualquer tipo de empréstimo. Você iria ao banco solicitar um empréstimo nesse panorama de incertezas?", questiona. 
Diante dessa situação, uma nova rodada do auxílio emergencial, que é discutida pelo governo e pode voltar já em março, poderia ser de grande ajuda para a população brasileira. "Não existe dúvidas que é mais do que necessário que o governo faça isso. Estamos falando de pessoas carentes, que em sua grande maioria nunca tiveram salários fixos, viviam de bicos e que passam muita dificuldade financeira com a perda de emprego, aumento do custo de produtos essenciais, etc", diz o economista.
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Para Glaciano, no entanto, mesmo essa ajuda está longe de resolver o problema. "Ao pé da letra, fica claro que esse paliativo não resolverá o problema principal. O tamanho do problema é bem maior do que garantir a quantia de R$ 200 por 3 meses. Será apenas uma válvula de escape temporária", conclui. 
Empréstimos em 2020
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De acordo com o levantamento da Bom Pra Crédito, além de quitação de dívidas, investir em um negócio (19%), comprar um veículo (7%), reformar um imóvel (6%), fazer compras (4%) e comprar um imóvel (3%) seguem entre as prioridades financeiras dos tomadores de empréstimo no Brasil.
Para Ricardo Kalichsztein, CEO da fintech, o ano atípico contribuiu pela busca por crédito. "Alguns fatores contribuíram bastante para a busca por crédito neste ano, tais como a redução do auxílio emergencial, a alta nos preços de alimentos e compras de supermercado, além da variação excessiva do IGP-M em 2020, índice utilizado nos contratos de aluguel", explica Kalichsztein.

Ainda de acordo com dados da startup, ao longo do ano, a procura por empréstimo aumentou 27,7% na média diária de solicitações por pessoas com renda de até R$ 2 mil no quarto trimestre, quando comparado ao fim do terceiro. Os números reforçam um impacto financeiro maior na população de baixa renda das classes C e D.

Quanto ao perfil dos respondentes, o público majoritário foi de assalariados (42%) e autônomos (33,5%). "A pandemia pegou muita gente de surpresa, principalmente os mais de 20 milhões de trabalhadores autônomos que temos no país. Nesse cenário, diversas medidas, adaptações tiveram que ser tomadas para evitar prejuízos e impedir a falência dos negócios, incluindo as solicitações de empréstimo", contextualiza o CEO.