Conflito entre Rússia e Ucrânia aumenta valor do trigo, que pode ser repassado ao consumidor no preço de massas, como pães e bolosFoto: Freepik

A invasão na Ucrânia pela Rússia aumentou em 5,7% os contratos internacionais de venda de trigo para o mês de maio, nesta quinta-feira, 24. O reflexo na alta do grão poderá ser sentido no bolso dos consumidores aqui no Brasil e, com isso, impactar o que chega diretamente na mesa dos brasileiros. A inflação poderá elevar pães, biscoitos e outras massas que dependem do grão para a sua produção. 

Isso se explica pelo que fato que a Rússia e Ucrânia são responsáveis por 28% do comércio global do grão. O trigo poderá ficar parado nos portos, devido a suspensão das rotas marítimas e das sanções que serão aplicadas ao governo do presidente russo Vladimir Putin. Nesta quinta-feira, a Ucrânia já anunciou a paralisação de todo transporte comercial feito por navios.

Com a crise, o Brasil poderá sofrer um aumento dos produtos derivados do trigo, como pães, pizzas e macarrão, pois importa 50% do que consome. Apesar dos maiores fornecedores do país serem Argentina e Estados Unidos, a tensão entre russos e ucranianos aumenta a demanda da commodity no mercado internacional. Isso poderá elevar o preço do grão, que será repassado ao consumidor.

“O impacto vai ser grande em relação a preço, porque o mercado todo vai ser retrabalhado. Vai existir procura de trigo para abastecimento de outros países, então a demanda vai ser maior e vai aumentar o valor do grão. Claro que não é interesse do varejo elevar o preço de imediato. Ele vai tentar segurar o máximo que der, mas vai chegar um momento, dependo do tempo que dure essa situação de fechamento de fronteiras, de suspensão de exportação, que pode fazer com que as pessoas tenham que pagar por esse aumento (do trigo),” afirmou o consultor de varejo, Marco Quintarelli.

Como o trigo é comercializado no mercado internacional em dólar, o preço do grão pode ser impactado pelas variações da moeda, mas ainda não é possível afirmar como isso vai acontecer. “Como vai refletir no preço dos alimentos a gente não sabe, porque uma coisa vai puxando a outra, aqueles que vão estar envolvidos no processo, aqueles que vão dar apoio, então é um grande ponto de interrogação. Seria muito leviano falar uma coisa que pode nem acontecer”, disse Quintarelli.
O economista Gilberto Braga indica que uma das formas do consumidor se isentar de pagar mais caro pelas massas à base de trigo é substituí-la por outras feitas de batata, por exemplo. “Normalmente, essas variações são consideradas quase que excêntricas. Se você vai ao supermercado e olha as ofertas de pão, mais de 90% são à base de trigo, mas é possível fazer farinha e massa com produtos substitutos", disse Braga.

Além das massas, a crise entre Ucrânia e Rússia também pode aumentar o preço das carnes, principalmente a bovina, pois o trigo é utilizado na ração dos animais. “O grão vai encarecer, indiretamente, toda a cultura de criação de animais alimentada com rações à base de trigo, especificamente, podemos citar o bovino. Então a carne de vaca vai ter um custo de produção mais cara e isso certamente vai impactar no preço final, porque vai ser repassado pelos produtores”, apontou Gilberto.

Crise aumenta preço do petróleo

O conflito entre Rússia e Ucrânia também aumentou o preço dos contratos de venda de petróleo. O país que é liderado por Putin é um dos maiores produtores do fóssil, com capacidade para fornecer dez milhões de barris por dia. Nesta quinta-feira, o barril chegou a atingir US$ 105.

A tensão pode afetar o preço dos combustíveis no país, já que a Petrobras equipara os valores nacionais aos praticados no mercado internacional. “O barril do tipo Brent, que é referência, ultrapassou a barreira dos US$ 100. Esse mesmo indicador, no fim do ano passado, rondava os 80 dólares. O aumento de cerca de US$ 20 na cotação internacional ainda não está nos preços praticados aqui”, analisou Gilberto.

O economista também afirmou que: “Mesmo com a recente valorização do real nos últimos dias, pode haver uma amenização do repasse, mas o reajuste será inevitável, principalmente se a guerra na Ucrânia for duradoura, como os especialistas estão prevendo”. 

Os combustíveis derivados do petróleo, como o diesel, são amplamente utilizados no Brasil para o transporte de alimentos, insumos hospitalares e outros produtos. O cenário impacta ainda mais o valor da gasolina que já foi reajustada em janeiro deste ano.
*Estagiária sob supervisão de Marina Cardoso