Especialistas acreditam se tratar do ano de serviços pessoais, como a contratação temporária de trabalhadores para hotéis, empresas de aviação, salões de beleza e clínicas médicasTadeu Brunelli/Divulgação
“Das últimas seis taxas, quatro foram negativas (em agosto, setembro, janeiro e fevereiro) e duas foram positivas (em novembro e dezembro). Ainda que haja um predomínio de taxas negativas, o saldo desses 6 meses ficou em 0,1%, ligeiramente positivo e muito próximo da estabilidade”, contextualiza o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo. “Isso configura um setor de serviços mais estacionário, mostrando uma acomodação dos ganhos auferidos até agosto de 2021”, complementa.
Lobo divide o comportamento do setor de serviços com a pandemia em quatro momentos: março a maio de 2020 foi de queda acentuada, acumulando perda de 17%; de junho a novembro de 2020 foi de rápida recuperação, com o setor acumulando ganho de 15,6%; já de dezembro de 2020 a agosto de 2021 houve uma desaceleração, mas ainda com crescimento acumulado de 9,7%; e de setembro de 2021 a fevereiro de 2022 o setor mostrou acomodação, variando 0,1% no período.
“O que puxou a queda dessa atividade foram as telecomunicações, que caíram 2,8% em fevereiro. Esse segmento, que é o de maior peso na pesquisa, encontra-se 9,0% abaixo do patamar pré-pandemia”, explica Lobo.
A atividade de outros serviços, por sua vez, registra a segunda queda consecutiva, acumulando perda de 1,3% nos dois primeiros meses de 2022. “O que puxou para baixo foi o segmento de coleta de resíduos não perigosos”, detalha Lobo. A atividade está 0,4% abaixo do patamar pré-pandemia.
Já os serviços prestados às famílias variaram 0,1% em fevereiro. “A atividade ficou muito próxima da estabilidade e praticamente não influenciou no resultado do setor de serviços. Mas é preciso lembrar que houve queda em janeiro, interrompendo uma sequência de nove taxas positivas seguidas, e, agora, a estabilidade”, destaca o gerente. A atividade, muito impactada pela pandemia, encontra-se num patamar 14,1% abaixo de fevereiro de 2020.
O destaque pelo lado das altas ficou com os transportes, que cresceram 2,0% em fevereiro. “Esse é o quarto mês seguido de crescimento, com ganho acumulado de 8,2% nesse período. Em fevereiro, o setor foi impulsionado pelo transporte rodoviário e ferroviário de carga”, explica Lobo. O setor de transportes encontra-se num patamar 14,2% acima de fevereiro de 2020.
Também com alta, os serviços profissionais, administrativos e complementares cresceram 1,4%, quarto resultado positivo consecutivo, com expansão acumulada de 6,8%. Em fevereiro, foram impulsionados pelas maiores receitas obtidas pelas empresas que atuam com locação de mão de obra temporária, atividades de cobrança e informações cadastrais e locação de automóveis. “A locação de automóveis, em particular, teve uma influência por conta da queda nos preços apurados nos aluguéis dos veículos, mensurada pelo IPCA (-15,28%), que fez com que houvesse aumento no volume de serviços de locação de automóveis”, destaca o gerente. Os serviços profissionais e administrativos como um todo encontram-se 3,3% acima do patamar de fevereiro de 2020.
Em relação a fevereiro de 2021, o setor de serviços cresceu 7,4%, com alta em quatro das cinco atividades. “Essa é a 12ª taxa positiva seguida nessa comparação. A base de comparação do início do ano de 2021 ainda é deprimida, o que favorece o aparecimento de taxas positivas nesses dois meses iniciais de 2022”, complementa Lobo.
Regionalmente, 13 das 27 unidades da federação tiveram retração no volume de serviços entre janeiro e fevereiro, com impacto mais importante vindo de São Paulo (-0,5%), seguido por Distrito Federal (-3,4%) e Santa Catarina (-2,0%). Em contrapartida, Minas Gerais (2,0%), Rio de Janeiro (0,8%) e Mato Grosso (6,6%) registraram os principais avanços em termos regionais.
Novo indicador de transportes
O IBGE está divulgando pela primeira vez o indicador especial de transportes por tipo de uso (cargas ou passageiros). As séries temporais têm início em janeiro de 2011 e trazem resultados apenas para o nível Brasil, sem regionalizações.
Na comparação com janeiro deste ano, o transporte de passageiros cresceu 1,1% e o transporte de cargas, 2,5%. “O transporte de passageiros emplaca a quarta taxa positiva seguida, com ganho acumulado de 20,6%. No entanto, ainda opera 28,9% abaixo de seu ponto mais alto, ocorrido em fevereiro de 2014”, explica o gerente da pesquisa.
Já o transporte de cargas chega à sua quinta taxa positiva seguida, com ganho acumulado de 10,2% e alcançando o ponto mais alto de sua série. “Esse recorde ocorre na esteira do boom do comércio eletrônico, escoamento de produtos agrícolas e deslocamento de insumos e bens industriais pelos diversos modais de carga: rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo”, destaca Lobo.
Com relação ao período pré-pandemia, enquanto o transporte de cargas opera 21,4% acima de fevereiro de 2020, o transporte de passageiros ainda se situa 6,2% abaixo do nível de fevereiro de 2020.
Na comparação com fevereiro de 2021, o transporte de passageiros cresceu 32,9% e o de cargas, 13,8%. Já no acumulado do ano, o transporte de passageiros registrou aumento de 34,0%, e o de cargas, 14,1%.
“O ritmo de crescimento do transporte de passageiros, nas comparações contra o ano de 2021, é mais intenso porque esse segmento foi mais afetado pela pandemia em função da necessidade de isolamento social, o que provocou uma menor mobilidade das pessoas pelas cidades brasileiras, formando-se uma baixa base de comparação até os meses iniciais de 2021”, contextualiza Lobo.
Atividades turísticas
O índice de atividades turísticas caiu 1,0% em fevereiro frente ao mês anterior, após também ter recuado em janeiro (-0,4%). “O segmento de turismo ainda se encontra 10,9% abaixo do patamar de fevereiro de 2020”, destaca Lobo.
O índice tem um perfil semelhante ao dos serviços prestados às famílias, pois muitas das atividades que compõem o indicador vêm desse segmento. Esse mês, no entanto, as atividades turísticas não seguiram o movimento de estabilidade dos serviços prestados às famílias. “Transporte aéreo teve influência negativa nesse mês, com queda de 9,1%. E é um segmento que está presente no turismo, mas não nos serviços prestados às famílias”, observa o pesquisador.
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