Cras da Tijuca, nesta quarta feira (17), na foto Jocelin Ferreira 61 anos.Marcos Porto/Agencia O Dia

Com o ataque cibernético que atingiu o Datacenter da Prefeitura do Rio e deixa o sistema paralisado há 3 dias, os atendimentos para realização de inscrição do CadÚnico foram suspensos nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras). Com a invasão ao sistema, a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) decidiu suspender o serviço por prazo indeterminado, o que acabou afetando aqueles que precisam dos benefícios oferecidos. 
Jocelin Ferreira, de 61 anos, está desempregado há dois anos e, para se manter, virou catador de latinhas. "Eu sigo tentando, vou nas feiras de emprego, até me tratam bem, mas não consigo nada pela idade, preferem os mais jovens. Então, sem vergonha, cato latinhas para sobreviver", contou.  
Morador do Morro da Formiga, na Tijuca, Zona Norte do Rio, ele esteve no Cras do bairro para realizar o cadastro para recebimento do Auxílio Brasil. No entanto, ao chegar à unidade, soube que o serviço estava suspenso por conta do ataque. "Eu não vi na televisão. Nem tive tempo ontem; precisava trabalhar", explicou. 
Leonora Soares, de 30 anos, também precisa do Auxílio Brasil. Junto com o marido, Marcelo da Silva, 40, e o filho, que ainda é um bebê. Ela esteve no Cras para retirar o número do NIS para solicitar o benefício. Só quando chegou descobriu que não haveria atendimento. "Eu cheguei a ver o ataque hacker à Prefeitura do Rio, mas não vi que afetaria no serviço que preciso", explicou. No momento, Leonora está afastada do trabalho. Até que o sistema de inscrição no CadÚnico volte a operar, a família terá que sobreviver apenas com o salário de Marcelo.
A coordenadora das unidades do Cras da Tijuca e Zona Sul, Laura Soares, falou sobre o caso: "Claro que toda essa situação traz prejuízos aos nossos usuários, mas ela foge ao nosso controle". Laura explicou ainda que assim que o sistema for reestabelecido os atendimentos voltarão ao normal. "Mas enquanto não regulariza, estamos focando em outras frentes de trabalho, como visita domiciliares, busca ativa, visitas institucionais etc", contou.
Em nota, a Secretaria Municipal de Assistência Social ressaltou que o único serviço suspenso é o CadÚnico. "Os demais tipos de atendimento dos Cras estarão funcionando normalmente, como: o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos, as ofertas do programa de atenção integral à família, e orientações e serviços de documentação civil, inclusão produtiva e empregabilidade", disse. 
Segundo a pasta, em relação ao CadÚnico, a situação será analisada diariamente até que se possa retomar o atendimento. Até lá, os cariocas que precisarem do serviço deverão aguardar por novas informações.
A Secretaria apontou ainda que a realização de cadastros manualmente aumenta o tempo nos atendimentos. A explicação é que são muitas páginas para preenchimento, sendo necessários cerca de 15 minutos para a realização de maneira digital.
A SMAS ressaltou que, em outubro de 2021, as unidades do Cras atenderam 22.431 familias. "Depois que o governo federal mudou o programa de transferência de renda e, mais recentemente, quando anunciou o valor de R$ 600, a demanda aumentou 400% em julho de 2022, mês que os Cras atenderam 75 mil famílias", contou. Nos primeiros 15 dias de agosto, o atendimento chegou a 51 mil famílias.
A Prefeitura do Rio informou que equipes da Empresa Municipal de Informática (IplanRio) conseguiram avanços significativos nas últimas 12 horas para o restabelecimento total do Datacenter municipal. De acordo com a prefeitura, na madrugada desta quarta-feira (17), os técnicos reassumiram o controle da administração e dos sistemas de rede.
O ataque hacker foi registrado na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) pela administração municipal. A Polícia Civil informou que a investigação está em andamento e que um representante da Prefeitura do Rio de Janeiro é aguardado para apresentar informações que levem à identificação do responsável.