Fila no Cras Nelson Mandela, na Rua da Regeneração, em Bonsucesso,Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Grandes filas em Cras e confusão marcam penúltimo dia para atualização do CadÚnico
'A amiguinha ali, que não conheço, que pagou meu lanche', relatou Aline dos Santos Nascimento, que aguardava atendimento desde às 16h desta quarta-feira
Rio - O penúltimo dia do prazo para atualização do CadÚnico foi marcado por longas filas e confusão na porta dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) em diversos bairros do Rio. Quem não conseguir atualizar as informações até sexta-feira (14), corre o risco de ter o benefício bloqueado temporariamente.
Aline dos Santos Nascimento, de 37 anos, é desempregada e chegou às 16h de quarta-feira (12), no Cras Nelson Mandela, em Bonsucesso, Zona Norte do Rio, para tentar ser atendida nesta quinta-feira (13). No entanto, às 9h, ainda não havia conseguido o atendimento. "Sufoco mesmo porque eu 'tô' desempregada, sem comer, a amiguinha ali que não conheço que pagou meu lanche. Não trouxe cadeira, não trouxe nada e tem que ficar ne, porque a gente precisa ne", lamentou.
Ela afirmou que já foi outras vezes tentar a atualização e não conseguiu. Dessa vez, deixou os filhos com outras pessoas e foi tentar novamente. "Disseram que tinha que chegar um dia antes, então vim um dia antes e nem sei se vou ser atendida ainda hoje (quinta), mas se não for, eu vou ficar aqui já pra amanhã (sexta)", contou.
Tentando uma forma de conseguir renda, ela faz um curso de designer de sobrancelhas. "Sou bolsista do curso que eu tanto sonhei, de designer de sobrancelhas, e vou ter que faltar por estar aqui. Pra faltar lá assim, tem que ter um motivo que justifique", explicou.
Nivaldo Lisboa de Almeida, 56, conseguiu sair vitorioso do Cras após 12 horas na fila. Desempregado há 14 anos, ele chegou a receber o Auxílio Emergencial, mas ainda não havia conseguido ser contemplado com o Auxílio Brasil. "Fui muito bem atendido. Agora vou aguardar que vão mandar mensagem e se der tudo certo vou receber, se deus quiser."
Já Dinorá Almeida Rodrigues não teve a mesma sorte. Ela se cadastrou em junho mas ainda não conseguiu receber o auxílio. Segundo ela, o cadastro foi feito manualmente e ela nem sabe se chegou a ser lançado no sistema. Desde as 4h desta quinta-feira esperando, ela foi informada que não seria beneficiada.
"Me disseram que hoje não resolve, que não adianta ficar na fila porque tenho que esperar ser aprovada e isso pode demorar um ano", relatou. "Uma moça que esteve comigo no mesmo dia já foi contemplada após 30 dias e eu não recebi nada. Toda a documentação certinha", afirmou.
Ela contou que precisa muito do dinheiro e está abrindo mão de necessidades por falta de dinheiro. "Não faço mais uso de medicamentos por falta de condições pra comprar", lamentou.
Em Guaratiba, na Zona Oeste, houve briga por lugar na fila do Cras. Os primeiros chegaram às 13h de quarta-feira. Após uma confusão envolvendo dois homens, com direito a socos, a Polícia Militar foi chamada para o local.
Em nota, a Secretaria Municipal de Assistência Social afirmou que não há previsão no aumento de atendimentos. O horário de funcionamento dos Cras é de 8h às 17h, e 90 pessoas são atendidas por dia em cada unidade.
"Segundo a planilha atualizada em julho, 100.186 famílias estavam pendentes para realizar a atualização dos seus cadastros. A planilha de agosto e setembro será divulgada nos próximos dias", informou a pasta, que não possui a informação por conta de problemas no sistema gerados pelo ataque hacker à Prefeitura do Rio no dia 15 de agosto.
Atualmente, o CadÚnico é o principal instrumento do Governo Federal para a concessão de auxílios e inclusão de famílias em programas sociais. Além do Auxílio Brasil, o CadÚnico também permite o acesso à Tarifa Social de Energia (TSEE), Benefício de Prestação Continuada (BPC), o antigo Auxílio Emergencial, e a ID Jovem.
Nos dias 17 e 24 de setembro a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) realizou mutirões de recadastramento. No entanto, nem eles foram suficientes para reduzir a procura.
*Colaborou: Reginaldo Pimenta
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