Diogo Guillen destacou indicadores que sugeriram uma atividade econômica mais forte no Brasil na virada do ano, apesar de arrefecimento no segundo semestreFoto: Divulgação/BC

Os aumentos das projeções do mercado financeiro para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 e de 2024 não refletem o mesmo vetor, para o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen. "Em 2023 foi bastante a história do agro, agora quando ouvimos os participantes do mercado vemos que é mais uma história do consumo puxando", disse em evento da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).
Guillen destacou que alguns indicadores sugeriram uma atividade econômica mais forte no Brasil na virada do ano, mas frisou que a análise do segundo semestre do ano passado sugere um arrefecimento gradual da atividade.
O diretor também abordou a dicotomia observada nos dados entre consumo e investimento. "Ano passado ficou claro um consumo resiliente e o investimento desacelerando", pontuou.
Guillen afirmou que ao tentar entender o movimento, costuma-se analisar quanto do movimento no investimento é aperto das condições financeiras e quanto é incerteza. Já do lado do consumo, a avaliação costuma ser sobre quanto é efeito do mercado de trabalho forte, dos benefícios salariais e do crédito, emendou.
Ao falar sobre crédito, o diretor acrescentou que já é possível ver em várias linhas indicações de maior concessão.
Efeito das reformas
Diogo Guillen afirmou também que é simpático à ideia de que as reformas realizadas nos últimos anos aumentaram o PIB potencial brasileiro, mas frisou que é difícil quantificar esse efeito. "Grande parte do impacto dessas reformas se deu durante a pandemia, separar é muito difícil", acrescentou.
Para ele, há duas óticas para analisar as surpresas recentes com crescimento. A primeira, mais benigna, associá-las ao efeito das reformas. A segunda, enxergar como um processo mais cíclico. "O impacto sobre a política monetária é diferente. Se acharmos que é cíclico, impulsiona a demanda e terá impacto inflacionário. Se acharmos que a economia está funcionando melhor e na verdade a oferta está mais ampla, não terá impacto inflacionário, terá até desinflacionário."
O tema, afirmou, é discutido com frequência pelo BC e no momento a autarquia não incorpora em seu cenário uma elevação do PIB potencial em função das reformas.