Edifício-Sede do Banco Central em BrasíliaMarcello Casal Jr/Agência Brasil

As projeções dos analistas para a inflação de 2024 e para a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro subiram nesta semana, segundo os dados divulgados nesta segunda-feira, 13, pelo Relatório Focus do Banco Central. A pesquisa realizada com economistas é divulgada semanalmente pelo Banco Central (BC).
A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — índice de inflação oficial — subiu de 3,72% para 3,76%. Um mês antes, a mediana era de 3,71%. Para 2025, foco principal da política monetária, a projeção passou de 3,64% para 3,66%, ante 3,56% de um mês atrás.

Considerando as 68 estimativas atualizadas nos últimos cinco dias úteis, a mediana para 2024 passou de 3,71% para 3,74%. Para 2025, a expectativa foi de 3,65% para 3,75%, considerando 67 atualizações no período.

Para 2026, a projeção continuou em 3,50% pela 45ª semana consecutiva - seguindo a reancoragem apenas parcial destacada pelo BC após a manutenção da meta de inflação em 3,0% para este e os próximos anos. No horizonte mais longo, de 2027, a estimativa seguiu em 3,50%, como também está há 45 semanas.

As estimativas do relatório continuam acima do centro da meta para a inflação, de 3,00%. O IPCA de 2023 ficou em 4,62%, abaixo do teto da meta (4,75%, para um centro de 3,25% no ano passado), evitando o estouro do objetivo a ser perseguido pelo BC pelo terceiro ano consecutivo, depois de 2021 e 2022.

O Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou em maio projeção de 3,8% para o IPCA de 2024, depois de o indicador ter ficado em 3,5% nas reuniões anteriores, de dezembro, janeiro e março. Para 2025, a projeção também subiu, para 3,3%.

Projeção suavizada

Os economistas do mercado financeiro mantiveram a expectativa para a inflação suavizada para os próximos 12 meses no relatório desta semana em 3,60%, de 3,53% há um mês. Essa medida ganha importância no contexto da meta de inflação continua a ser perseguida pelo Banco Central, em substituição a de ano calendário. O centro da meta é 3% em 2024, 2025 e 2026.

Em junho do ano passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou ao Conselho Monetário Nacional (CMN) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iria editar decreto estabelecendo uma meta contínua de inflação a partir de 2025, em substituição à meta-calendário vigente hoje.

Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, em maio de 2024, Haddad foi questionado sobre o decreto, mas respondeu que "não necessariamente" o ato será publicado antes de junho. Isso forçaria o CMN a definir a meta "como sempre definiu" na reunião do próximo mês: com a definição para 2027.

Curto prazo

Os economistas revisaram as expectativas de inflação de curto prazo no Relatório de Mercado Focus. A mediana para maio de 2024 passou de 0,29% para 0,30%. Há um mês, a expectativa era de 0,24%. Para o IPCA de junho, a estimativa seguiu em 0,17%, de 0,18% um mês antes. Já para julho, a previsão para o indicador permaneceu em 0,15%, de 0,16% um mês antes.
PIB
O relatório elevou a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024. A mediana para a alta da atividade deste ano passou de 2,05% para 2,09%, ante 1,95% de um mês atrás. Considerando apenas as 27 respostas nos últimos cinco dias úteis, a estimativa para o PIB no fim de 2024 passou de 2,10% para 2,02%.

Para 2025, o documento trouxe manutenção na estimativa de crescimento do PIB em 2,00%, como já está há 22 semanas. Considerando as 26 respostas nos últimos cinco dias úteis, a estimativa para o PIB de 2025 também seguiu em 2,00%.

Em relação a 2026, a mediana continuou em 2,00% pela 40ª semana consecutiva. O Boletim Focus ainda trouxe a estimativa de crescimento para 2027, que se mantém em 2,00% por 42 semanas.

A estimativa do Ministério da Fazenda para o crescimento do PIB de 2024 é de 2,2%. Já no Banco Central, a projeção atual é de avanço de 1,9% neste ano, conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de março.
Déficit primário em relação ao PIB
O relatório revisou a projeção de rombo fiscal de 2024. Para o déficit primário em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, a mediana passou de 0,67% para 0,64%, de 0,70% há um mês.

O relatório bimestral de despesas e receitas divulgado em março alterou o resultado primário para um déficit de R$ 9,3 bilhões (0,1% do PIB). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já avisou que o governo "dificilmente chegará à meta zero", até porque o chefe do Executivo "não quer fazer cortes em investimentos e obras".

Já a estimativa do Focus para o déficit nominal em 2024 seguiu em 6,80% do PIB, mesmo patamar de um mês atrás. O resultado primário reflete o saldo entre receitas e despesas do governo, antes do pagamento dos juros da dívida pública. Já o resultado nominal reflete o saldo já após o gasto com juros e outras despesas financeiras.

A estimativa para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB em 2024 passou de 63,85% para 63,90% de 63,77% de um mês atrás.

Para 2025, o déficit primário esperado pelo mercado passou de 0,68% para 0,60% do PIB, ante 0,60% de um mês atrás. O novo arcabouço fiscal aprovado no ano passado previa uma meta de superávit primário de 0,5% do PIB no próximo ano, mas o governo alterou a meta para 0% do PIB no projeto de lei de diretrizes orçamentárias (PLDO) para o próximo ano.

O déficit nominal projetado para 2025 passou de 6,25% para 6,27% do PIB, ante 6,25% de um mês atrás. A estimativa para a dívida líquida no próximo ano seguiu em 66,50% do PIB, ante 66,27% de quatro semanas antes.
Selic
Após o Comitê de Política Monetária (Copom) diminuir o ritmo de corte dos juros, o mercado elevou a Selic para 2024 para 9,75%, ante 9,63% na última semana. Há um mês, o patamar era de 9,13%. Considerando apenas as 56 respostas dos últimos cinco dias úteis, a mediana para o fim de 2024 seguiu em 9,75% ao ano.

O Copom abandonou o forward guidance da reunião de março e cortou a Selic em 0,25 pp, para 10,50% ao ano em maio. A decisão dividida do colegiado deixou os indicados pela gestão Lula do lado que seguiria a sinalização de redução de 0,50 pp, enquanto os diretores que já estavam no BC antes deste governo optaram por diminuir o ritmo de cortes neste momento. Há grande expectativa pela ata, que será divulgada amanhã, já que não houve grandes justificativas sobre a divisão nem sinalização sobre os próximos passos.

Ao justificar a decisão, o BC disse entender que ela é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025.
"Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", repetiu o Copom.

No Relatório de Mercado Focus, a projeção para a Selic no fim de 2025 seguiu em 9,00%, ante 8,50% há um mês. Considerando apenas as 55 respostas dos últimos cinco dias úteis, a mediana para o fim de 2025 seguiu em 9,00% ao ano.

Para 2026, a projeção passou de 8,75% para 9,00%, ante 8,50% há um mês. Para 2027, a estimativa passou de 8,50%, onde ficou por 39 semanas, para 8,63%.
Déficit em conta corrente 
Os economistas do mercado financeiro mantiveram a estimativa de déficit em conta corrente do balanço de pagamentos para 2024 no Relatório de Mercado Focus desta semana. A projeção deficitária seguiu em US$ 32,15 bilhões, de US$ 32,00 bilhões de um mês atrás. Já para 2025, a estimativa de déficit seguiu em US$ 40,00 bilhões, ante US$ 38,90 bilhões há quatro semanas.

Em relação ao superávit da balança comercial em 2024, a projeção passou de US$ 79,75 bilhões para US$ 80,00 bilhões, contra US$ 79,75 bilhões há um mês. Para 2025, a mediana passou de US$ 76,00 bilhões para US$ 76,15 bilhões, de US$ 75,00 bilhões de quatro semanas atrás.

Para os analistas consultados semanalmente pelo Banco Central, o ingresso de Investimento Direto no País (IDP) é mais do que suficiente para cobrir o rombo em transações correntes. A mediana das previsões para o IDP em 2024 passou de US$ 68,75 bilhões para US$ 69,50 bilhões. Há quatro semanas, estava em US$ 67,00 bilhões. Para 2025, a estimativa seguiu em US$ 73,00 bilhões, ante US$ 73,40 bilhões de um mês antes.
Dólar
O cenário esperado para o câmbio brasileiro foi mantido no Relatório de Mercado Focus desta semana. A estimativa para o câmbio no fim de 2024 seguiu em R$ 5,00, ante R$ 4,97 de um mês antes. Para 2025, a mediana permaneceu em R$ 5,05, ante R$ 5,00 de um mês atrás.
A projeção anual de câmbio publicada no Focus é calculada com base na média para a taxa no mês de dezembro, e não mais no valor projetado para o último dia útil de cada ano, como era até 2020. Com isso, o BC espera trazer maior precisão para as projeções cambiais do mercado financeiro.