Estudo da LCA apresenta números divergentes dos divulgados pelo Banco CentralABF/Divulgação
Apostas representam menos de 0,5% nos gastos de brasileiros, aponta estudo
Pesquisa contraria dados divulgados pelo Banco Central
O mercado de apostas no Brasil cresceu significativamente nos últimos anos, especialmente após a aprovação da Lei nº 13.756/18 e a nova legislação sancionada no final do ano passado. Para compreender o impacto desse mercado no consumo dos brasileiros, o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) e a LCA Consultoria Econômica divulgaram um estudo inédito. Entre os dados, os resultados trazem uma nova perspectiva sobre o impacto das apostas no orçamento das famílias brasileiras, representando menos de 0,5% dos gastos totais.
Segundo o estudo, os gastos líquidos anuais com apostas variam entre 0,1% e 0,3% do PIB. Quando analisados em relação ao consumo das famílias, esses gastos representam algo entre 0,2% e 0,5% do consumo total. Além disso, se as famílias tivessem dedicado 100% do gasto líquido com apostas nos últimos 12 meses para o pagamento do estoque de dívidas, o endividamento total das famílias na economia diminuiria menos de 0,5 pp. Durante o período analisado, entre 2022 e 2024, não houve evidências de que a participação em jogos e apostas tenha impactado significativamente o endividamento familiar.
"A análise baseada em dados do mercado de apostas esportivas é vital para a tomada de decisão das empresas e também do governo federal. O estudo busca esclarecer as informações disponíveis nas últimas pesquisas e analisar de forma imparcial a dinâmica do setor. É fundamental entender como as apostas influenciam o mercado brasileiro e o consumo das famílias de fato, além de avaliar seu impacto no endividamento”, explica Eric Brasil, diretor da LCA Consultoria Econômica.
“Apenas por meio de dados concretos e reais, as casas de apostas poderão desenvolver políticas internas e ferramentas de proteção ao jogador, como a seleção de métodos de pagamento que minimizem riscos. Este estudo visa elucidar e explicar o funcionamento do nosso mercado. Esse é um dos objetivos do IBJR: proporcionar informação e clareza”, comentou André Gelfi, diretor-presidente do IBJR.
Para entender melhor o mercado de apostas, é importante conhecer alguns termos-chave. O turnover refere-se ao volume total de dinheiro apostado, seja em plataformas online ou em operações físicas, e deve ser diferenciado dos depósitos. O Return-to-Player (RTP) indica a porcentagem do total apostado que é devolvida aos jogadores como prêmio. Já o Gross Gaming Revenue (GGR) é a diferença entre o total apostado e o total pago em prêmios, representando a receita bruta das casas de apostas. É fundamental evitar a superestimação do mercado utilizando depósitos em vez de turnover.
O mercado de apostas é estruturado a partir de odds, uma vez que não existiria se todos os apostadores sempre ganhassem ou perdessem. Assim, o volume de turnover é distribuído entre apostadores e operadores, com essa distribuição atrelada à taxa de RTP. Em mercados maduros e regulados, essa taxa é sempre superior a 80%; no Brasil, as empresas pertencentes ao IBJR apresentam um RTP em torno de 93%. A parcela dos recursos que não retorna aos apostadores se transforma em GGR, que, por sua vez, é utilizada para o pagamento de custos operacionais e de marketing.
Ao aplicar o GGR estimado de 7% aos dados de transferências da última pesquisa do Banco Central, estima-se que o gasto líquido anual com apostas no Brasil seja de R$ 16,3 bilhões. Esse número se diferencia de outras pesquisas realizadas recentemente.
A LCA e o IBJR entendem, a partir deste estudo, que a trajetória de crescimento do mercado de apostas assemelha-se à de outros novos setores, sendo as apostas uma forma legítima de alocação do orçamento destinado ao lazer, assim como streaming, cinema e eventos. Essa diversidade no consumo revela a evolução das preferências dos brasileiros em relação ao entretenimento.
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