Instituição ressalta a importância do fortalecimento da cooperação multilateral, já que ela sustenta a estabilidadeAFP
FMI recomenda cuidadosa calibração da política monetária para garantir pouso suave para as economias
Flexibilização pode apoiar o crescimento e o emprego, além de aliviar os custos de serviço da dívida
São Paulo- O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera que as políticas de curto prazo devem ser cuidadosamente calibradas e sequenciadas para garantir um pouso suave para as economias, em relatório publicado nesta terça-feira, 22. Em análise sobre prioridades de políticas, o FMI menciona que uma flexibilização da política monetária - mantendo a inflação em direção à meta - pode apoiar o crescimento e o emprego, além de aliviar os custos de serviço da dívida.
"Uma política fiscal mais restritiva pavimenta o caminho para uma política monetária mais frouxa", cita ao ressaltar que a política monetária deve "permanecer flexível" e se ajustar de acordo com uma análise abrangente dos dados.
Para garantir um "pouso suave" na economia, o FMI menciona a necessidade de calibrar cuidadosamente a política monetária; amortecer a volatilidade cambial disruptiva; e restaurar buffers colchões de capitais macroprudenciais e assegurar a estabilidade financeira.
Ainda, no relatório, a instituição explica que é importante fortalecer a cooperação multilateral, já que ela sustenta o crescimento econômico e a estabilidade. "As políticas comerciais devem ser claras e transparentes para estabilizar as expectativas, diminuir distorções de investimento e reduzir a volatilidade nos mercados".
Inflação
Nesta terça, no relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês), o FMI revisou para baixo sua previsão de inflação global para 2024 e 2025 em 10 pontos-base, e agora espera que os preços ao consumidor desacelerem a 5,8% em 2024, e depois caiam a 4,3% em 2025.
Segundo o Fundo, a desinflação será mais rápida nas economias avançadas, com a alta de preços estabilizando-se em 2% ao ano em 2025.
Enquanto isso, nos mercados emergentes e em desenvolvimento, a inflação deve cair a 7,9% neste ano e para 5,9% em 2025.
O FMI avalia que o processo de desinflação é generalizado, mas que as economias vão reagir de maneira desigual ao retorno da alta de preços à meta.
Segundo o WEO, mais de 75% das economias avançadas e emergentes com metas de inflação vão ter sua média anual acima do objetivo. Mesmo assim, a desaceleração será notável, explica.
Comércio global
O FMI projeta que o comércio global continuará a crescer em linha com o Produto Interno Bruto (PIB), atingindo um crescimento médio anual de 3,25% em 2024 e 2025, após um período de quase estagnação em 2023. No relatório Perspectiva Econômica Mundial, o FMI pontua que apesar do aumento das restrições que afetam o comércio entre blocos geopoliticamente distantes, a proporção do comércio em relação ao PIB deve permanecer estável. Para o fundo, o comércio intrabloco e com países terceiros tem compensado, até o momento atual, o impacto dessas limitações entre blocos de perfis geopolíticos diferentes.
Nas projeções do FMI, o volume do comércio global, incluindo bens e serviços, deve crescer 3,1% em 2024 e 3,4% em 2025, estimativas que foram mantidas inalteradas em relação ao relatório anterior do fundo divulgado em julho.
O FMI revisou em baixa as projeções de expansão de exportações e importações das economias avançadas em relação ao documento anterior. Agora, espera-se alta de 2,1% e 2,4% das importações por essas economias, respectivamente, em 2024 e 2025, na comparação com 2,4% e 2,7% previstos em julho. Quanto às exportações, o FMI projetou expansão de 2,5% em 2024 e 2,7% em 2025, ante prognósticos anteriores de alta de 2,6% e 2,9%.
Para as economias emergentes e em desenvolvimento, o FMI trouxe revisões em alta. O crescimento das importações deve ser de 4,6% em 2024 e 4,9% em 2025, um incremento de 0,4 ponto porcentual e 0,1 ponto porcentual ante as projeções de julho. Os prognósticos para as exportações contemplam incremento de 4,6% para 2024 e o próximo ano. No documento anterior, o cenário era de alta de 4,2% em 2024 e 4,1% em 2025.
Riscos adversos
O FMI alerta que os riscos adversos para a economia global têm ganhado mais destaque desde julho deste ano. De acordo com o órgão, um risco advém da possibilidade de o aperto da política monetária afetar mais do que o esperado a atividade
Para o FMI, um risco é o de haver um inesperado e defasado fortalecimento da transmissão de aumentos anteriores de taxas de juros, o que poderia levar a uma desaceleração mais rápida do que a prevista do crescimento e aumento do desemprego no curto prazo.
A contração mais acentuada do que a esperada do setor imobiliário na China e um maior estresse sobre a dívida soberana em economias emergentes são outros riscos que pairam sobre a perspectiva econômica.
Em relatório publicado nesta terça-feira, o FMI também menciona que, de negativo, está um cenário de novos picos nos preços das commodities, que surgem como resultados de mudanças climáticas e tensões geopolíticas. Intensificação de políticas protecionistas dos países e o ressurgimento de uma "turbulência social" são outros pontos citados com negativos.
Por outro lado, a instituição explica que os pontos positivos se concentram em uma recuperação mais forte do investimento nas economias avançadas e um ímpeto mais intenso por reformas estruturais - especialmente em economias emergentes. Isso porque, segundo o documento, seria uma oportunidade de evitar que a produtividade e o crescimento potencial fiquem ainda mais defasados em relação ao ritmo das economias mais produtivas ou desenvolvidas.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.