Rio - O Carnaval de 2025 se aproxima e promete aquecer a economia brasileira, em especial a do Rio de Janeiro. De acordo com a Riotur, a festa deve gerar R$ 5,5 bilhões para a cidade. Já o levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), aponta que o evento deste ano deve movimentar R$ 12,03 bilhões em receitas para o País, um aumento real de 2,1% em relação ao mesmo período do ano passado, já descontada a inflação.
Ainda segundo a CNC, caso a projeção se confirme, este será o Carnaval com maior impacto econômico desde 2015. Entre os fatores para o crescimento nas receitas durante a festividade estão o aumento no número de turistas estrangeiros, impulsionado pelo câmbio e pela diversidade de atrativos culturais do Brasil, aponta o estudo.
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Segundo o professor da Faculdade ESEG, especialista em inflação e atividades econômicas, Mauricio Nakahodo, o Carnaval é um dos maiores motores da economia criativa no Brasil, pois movimenta os mais diversos setores como serviços, comércio, indústria e turismo.
"O Carnaval possui um impacto econômico abrangente, que se estende por vários setores da economia. Por ser um evento prolongado, atrai um grande número de turistas nacionais e internacionais. Falo de vários dias porque o Carnaval se estende do pré-Carnaval ao pós-Carnaval, entre desfiles de escolas de samba e bloquinhos de rua", diz Nakahodo.
O professor da Faculdade ESEG Mauricio NakahodoDivulgação
Já o coordenador do Mestrado em Economia Criativa, Estratégia e Inovação da ESPM, João Figueiredo, ressalta a importância da festa para a economia brasileira. "O Carnaval é uma festa popular de enorme impacto econômico, cujos efeitos vão muito além dos dias de folia. O evento impulsiona diversos setores criando oportunidades econômicas, fortalecendo a empregabilidade e promovendo a cultura brasileira. Além disso, há um aumento na arrecadação de impostos. O fluxo intenso de turistas e residentes participando das festividades impulsiona o consumo e, consequentemente, a geração de tributos para o município", frisa.
Coordenador do Mestrado Profissional em Economia Criativa, Estratégia e Inovação da ESPM João Figueiredo Divulgação
Nakahodo também destaca que, por durar vários dias e envolver diversos setores, o Carnaval gera um impacto econômico na cidade mais abrangente do que eventos como o Réveillon e o Rock in Rio.
"O Réveillon concentra seu impacto principalmente no setor de serviços (hotéis, restaurantes, bares, transporte). É é um evento de curta duração (uma noite), mas atrai um grande número de turistas, especialmente para a festa de Copacabana. Por fim, o Rock in Rio tem um impacto significativo no setor de entretenimento e na indústria da música. Atrai um público mais jovem e gera receita com a venda de ingressos, alimentos, bebidas e produtos relacionados ao evento. Embora seja difícil comparar diretamente o impacto econômico desses eventos, o Carnaval geralmente tem um impacto mais amplo e diversificado na economia do Rio de Janeiro devido à sua longa duração, à diversidade de setores envolvidos e ao seu forte impacto na economia criativa", complementa.
Comércio espera aumento de 3,5% das vendas
O comércio do Rio de Janeiro está otimista com o impacto do Carnaval nas vendas. Impulsionadas pelo grande número de foliões que participam dos blocos sem exigência de fantasias padronizadas, as lojas especializadas em artigos carnavalescos projetam um crescimento de 3,5% no faturamento até o fim da festa. A estimativa anterior era de 2%. Os dados são do Clube dos Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio) e do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro (SindilojasRio).
Segundo Aldo Gonçalves, presidente das duas entidades, o aumento no volume de turistas nacionais e estrangeiros na cidade tem aquecido o comércio, mas o principal fator para o crescimento das vendas é a popularização dos blocos de rua. “Como esses blocos não exigem fantasias padronizadas, os foliões investem em adereços, chapéus, fitas, camisetas, meias, bermudas, shorts e sandálias, impulsionando o mercado”, explica.
Além dos itens carnavalescos, lojistas destacam a alta demanda por roupas casuais e moda praia, como biquínis, maiôs e saídas de banho. O ticket médio das compras gira em torno de R$ 150, e os consumidores têm utilizado diversas formas de pagamento, incluindo cartão de crédito, débito, Pix e dinheiro.
Comércio espera aumento de 3,5% das vendas até o fim do Carnaval Pedro Teixeira / Agência O Dia
O clima positivo no comércio também se reflete no setor de bares e restaurantes, que espera um aumento significativo no movimento durante a folia. Segundo pesquisa da Abrasel RJ, entidade que reúne estabelecimentos do setor, realizada entre os dias 13 e 21 de janeiro, 74% dos bares e restaurantes esperam faturar mais durante a folia. O pré-Carnaval mais longo, resultado da data tardia da festa, deve estender o período de alta temporada, impulsionando as vendas dos estabelecimentos. Em comparação com o Carnaval do ano passado, 65% estimam que o crescimento deve chegar a 20%, enquanto 9% apostam em resultados acima desse percentual. Para 16%, haverá estabilidade e só 6% projetam queda.
"O Carnaval traz a perspectiva de um período mais favorável para o segmento. Temos um cenário econômico marcado pelo aumento do número de empregos e também pela alta do turismo no Estado. Essa expectativa é motivo de otimismo moderado, já que ainda há desafios e obstáculos a serem superados", pondera o presidente da Abrasel-RJ, Pedro Hermeto.
O presidente do Polo Gastronômico da Zona Sul e proprietário do restaurante Le Pulê, em Ipanema, Tiago Moura, faz coro a expectativa de outros emprários. Para ele, o evento é "o período mais importante do ano para o setor de bares e restaurantes no Rio de Janeiro".
"Trata-se de um evento mundialmente conhecido, que coloca a cidade em evidência e atrai turistas de todos os cantos do Brasil e do mundo. Esse fluxo intenso de visitantes movimenta a economia local e proporciona um faturamento superior ao de muitos meses de baixa temporada, tornando-se essencial para a sustentabilidade dos negócios ao longo do ano", comenta.
O presidente do Polo Gastronômico da Zona Sul e proprietário do restaurante Le Pulê, em Ipanema, Tiago MouraPedro Teixeira/Agência O Dia
Moura revela ainda que chega a dobrar o número de funcionários por conta da data para atender a alta demanda. "Para garantir uma experiência de qualidade aos clientes, essa é a época em que nos preparamos com força total: reforçamos o time de funcionários, muitas vezes dobrando o número de atendentes na praça, aprimoramos o cardápio e ajustamos a operação para atender à alta demanda. Sabemos que um dos desafios da cidade é a qualidade do serviço, e o Carnaval é o momento em que precisamos estar no nosso melhor para oferecer uma experiência inesquecível. O Carnaval é, portanto, o grande motor do setor, um período de trabalho intenso, mas também de grandes resultados. É quando realmente fazemos acontecer para garantir um ano de sucesso."
O aumento do número de contratações também foi constatado pela pesquisa da CNC. O estudo projeta que o Carnaval deste ano será responsável pela criação de 32,6 mil vagas temporárias de emprego. O setor de bares e restaurantes oferecerá o maior número de postos (22,85 mil), seguido por hotéis, pousadas e similares (4,06 mil) e empresas de transporte (3,31 mil). Apesar disso, a taxa de efetivação após o evento deverá ser de apenas 7%, refletindo a previsão de crescimento econômico mais moderado em 2025.
"Os benefícios do Carnaval vão muito além do impacto imediato da festa. O evento cria uma grande quantidade de empregos temporários, movimentando o mercado de trabalho e ampliando as oportunidades para diversos profissionais. Outro fator relevante é a valorização da imagem da cidade, que se consolida como um destino turístico e cultural de destaque global, atraindo investimentos de longo prazo e fortalecendo a economia local", diz Figueiredo.
Ocupação da rede hoteleira
A segunda prévia da pesquisa realizada pelo HotéisRIO, divulgada no último dia 14, aponta que a média de ocupação hoteleira na cidade para o período da folia (de 1º a 5 de março) já alcança 75,04%. Entre as regiões mais procuradas, Copacabana/Leme lidera com 88,66% dos quartos reservados, seguida por Ipanema/Leblon (88,25%), Centro (81,41%), Flamengo/Botafogo (75,54%) e Barra/Recreio/São Conrado (64,76%).
O presidente do HotéisRIO, Alfredo Lopes, destaca que a expectativa para o Carnaval é alta. "O fato de a festa acontecer em março permite que os turistas nacionais se organizem financeiramente e também abre espaço para que aqueles que visitaram a cidade no Réveillon retornem. A virada do ano funciona como um cartão de visitas, incentivando os visitantes a conhecer melhor o Rio e voltar para outra grande celebração. Além disso, o Carnaval em março ajuda a estender a alta temporada, impulsionada pelo verão carioca", explica.
Presidente do HotéisRIO, Alfredo LopesDivulgação
Já a Rodoviária do Rio, estima que entre os dias 27 de fevereiro e 10 de março, o terminal deve movimentar 500.404 viajantes entre embarques e desembarques. O número deve representar um aumento de 1,5% nas viagens de ônibus pela rodoviária em relação ao Carnaval de 2024. Do total de viajantes, 250.606 chegam a cidade, vindos principalmente de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. O número de viajantes chegando é maior do que o volume de quem sai da cidade, informou a Rodoviária do Rio.
Setores que mais contribuem para arrecadação de impostos durante o Carnaval
Serviços: Hotéis, restaurantes, bares, casas de show, agências de turismo, empresas de transporte e outros serviços relacionados ao turismo e ao entretenimento. O Imposto Sobre Serviços (ISS) é o principal tributo arrecadado nesse setor.
Comércio: Venda de fantasias, adereços, bebidas, alimentos e outros produtos relacionados ao Carnaval. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é o principal tributo arrecadado nesse setor.
Indústria: Fabricação de fantasias, alegorias, adereços e outros produtos utilizados no Carnaval. O ICMS também é relevante nesse setor.
Imposto de Renda (IR): Arrecadado sobre os salários e rendimentos dos trabalhadores e empresas que atuam nos setores mencionados acima.
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