48,4% dos contribuintes que entregaram o documento à Receita Federal usou a declaração pré-preenchidaReprodução/Freepik

Faltando apenas uma semana para o fim do prazo de envio da declaração do Imposto de Renda, cerca de 16,5 milhões de contribuintes ainda não acertaram as contas com a Receita Federal. É comum, todos os anos, que boa parte das pessoas deixe para organizar os dados nos últimos dias, o que aumenta o risco de erros no preenchimento. O Rio de Janeiro aparece como o terceiro estado com maior volume de declarações no país, somando mais de 2,5 milhões de envios.
A Receita Federal espera receber 46,2 milhões de formulários em 2025. Até agora, no entanto, somente 29,7 milhões foram registrados. Destes, quase metade - 48,4% - optou pelo modelo pré-preenchido. Além de tornar o processo mais rápido e fácil, essa alternativa garante prioridade no pagamento da restituição. O DIA conversou com especialistas, que deram orientações para evitar erros nesta reta final, além de ouvir contribuintes que já enviaram a declaração ou ainda estão concluindo o envio.
Cuidados para não cair na malha fina 
Restando ainda mais de um terço dos formulários a serem entregues e com o prazo se esgotando, é normal que os declarantes tenham dúvidas sobre como proceder e se ainda há tempo hábil para finalizar a declaração. A especialista em tributação Carolina Tonegutti destaca que é possível concluir o processo com segurança, desde que o contribuinte tenha atenção às exigências do Leão.
Preste atenção as orientações da Receita para não ter problemas com o Leão - Reprodução/Internet
Preste atenção as orientações da Receita para não ter problemas com o LeãoReprodução/Internet
"É fundamental revisar todos os informes de rendimentos, inclusive os de bancos, empregadores e planos de saúde. Um dado omitido ou divergente pode levar à malha fina. Também é preciso confirmar as informações dos dependentes, incluindo CPF e se ele já consta em outra declaração - erro comum em famílias que dividem despesas. Outro ponto importante é verificar as despesas médicas e educacionais, lembrando que apenas as previstas em lei são dedutíveis", explica.
Carolina acrescenta que, em caso de dúvida sobre a obrigatoriedade de declarar, o melhor é incluir os dados no formulário.
"Por fim, é essencial usar a ferramenta de verificação da própria Receita, que aponta inconsistências básicas antes do envio. A principal dica é: se houver dúvida, declare e mantenha os documentos organizados. O Fisco pode não enxergar erro onde ele não existe, mas certamente vai questionar onde faltar informação ", completa.
Assim, mesmo nos últimos dias do prazo, é possível entregar uma declaração correta e completa. Para isso, é fundamental revisar todos os dados informados e garantir que não haja inconsistências. 
Por que muitos contribuintes deixaram para o final do prazo?
Em 2024, foram entregues cerca de 46,5 milhões de declarações, entretanto, mais de três milhões foram enviadas fora do prazo, ficando sujeitas a multas e penalidades do Governo Federal. Desse total, 12,1% precisaram ser retificadas devido a inconsistências detectadas pela Receita. A tributarista Carolina explica que a falta de organização e a pressa costumam gerar atrasos e erros no documento final.
 
É fundamental que o contribuinte esteja atento ao prazo final de entrega das declarações - Reprodução/Freepik
É fundamental que o contribuinte esteja atento ao prazo final de entrega das declaraçõesReprodução/Freepik
"Na prática, o que a gente percebe é que a correria, a falta de organização e o desconhecimento de detalhes técnicos acabam gerando atrasos e, pior, erros que podem levar o contribuinte à malha fina. O Imposto de Renda exige atenção e preparo, não é algo para ser resolvido 'no impulso', no último dia", frisa.
O empresário de marketing Fábio Balassiano, de 41 anos, conta que, geralmente, começa a organizar seus documentos em março, mas ainda assim costuma entregar a declaração perto do prazo final.
"Eu não sei exatamente o motivo de deixar para o final, porém acho o sistema muito chato de usar e vou empurrando com a barriga", justifica.
Balassiano diz que neste ano contratou um contador para auxiliá-lo e destaca que os documentos de plano de saúde são os mais complexos de coletar: "Os de plano de saúde são os mais difíceis. Do ponto de vista de usabilidade e de entendimento, são bem mais complicados do que os de trabalho e investimentos. Eu sempre fiz sozinho, mas quando abri minha empresa preferi contar com um profissional para não me enrolar com as variáveis."
A psicóloga Laiza Coimbra, de 50 anos, disse que teve dificuldades para juntar os documentos e, por isso, deixou para entregar no final.
"Tenho feito a minha declaração com contador há alguns anos, pois acho mais complexa por ter mais de uma fonte de renda. Ainda não entreguei a declaração porque não consegui reunir todos os meus dados para repassar ao especialista", explica.
Laiza revela que sempre fica preocupada com o prazo, mesmo que nunca tenha perdido uma entrega. "Infelizmente, sigo esse padrão de deixar para os últimos dias. O problema é que fico muito estressada por causa do prazo, mesmo que, até hoje, nunca tenha deixado de enviar", completa.
Para quem não tem segurança no preenchimento ou possui múltiplas fontes de renda, contar com a ajuda de um contador pode ser a melhor alternativa. Profissionais da área ajudam a evitar erros, garantir que todas as deduções sejam corretamente lançadas e ainda oferecem mais tranquilidade durante o processo. Em um sistema considerado complexo por muitos contribuintes, o apoio técnico pode evitar a malha fina e o atraso na entrega.
Vantagens de quem já entregou
Existem diversos benefícios para os contribuintes que escolhem realizar a declaração assim que ela fica disponível pela Receita, inclusive financeiros. Quanto mais rápido o indivíduo declara corretamente o Imposto de Renda, mais cedo ele entra na base de dados da Receita para receber a restituição. Além de ter mais tempo para corrigir possíveis erros, a pessoa também pode mudar o modelo de declaração, caso identifique que outro seja mais vantajoso, antes do fim do prazo.
Contribuintes que entregaram o documento logo no início têm até o final do prazo para corrigir informações sem prejuízos - Reprodução/Freepik
Contribuintes que entregaram o documento logo no início têm até o final do prazo para corrigir informações sem prejuízosReprodução/Freepik
A advogada tributária Camila Tapias explica que o principal erro cometido para quem declara no final é a pressa. Dessa forma, enviar o documento no início pode diminuir os equívocos no formulário, além de evitar uma sequência de falhas motivadas por falta de atenção — o que pode resultar em multas e penalidades.
"Muitos contribuintes acabam omitindo rendimentos, especialmente os de dependentes, ou esquecem de incluir despesas dedutíveis com a documentação adequada, devido à pressa para entregar. É importante lembrar que a multa por atraso é de 1% ao mês sobre o imposto devido, limitada a 20% do total, com valor mínimo de R$ 165,74", afirma.
A especialista ressalta que, mesmo adiantando o envio, ainda é possível revisar e ajustar as informações até o encerramento do prazo. "Até o último dia é possível retificar quantas vezes for preciso, sem prejuízo. Vale muito a pena revisar, pois uma análise cuidadosa pode evitar a malha fina e até aumentar o valor da restituição".
A professora Paula Serpa, de 36 anos, conta que prefere enviar o documento o quanto antes para se "livrar" da obrigação: "Sempre entrego no início, pois gosto da sensação de 'estar livre' deste compromisso e também pela vantagem de receber a restituição mais cedo."
Paula diz que consegue lidar bem com o processo e, por isso, não sente necessidade de ajuda profissional. "⁠Foi bem rápido. Sempre uso a declaração pré-preenchida por considerá-la um adianto. Como nunca tive dificuldades com o sistema, continuo fazendo por conta própria".
A empresária Brenda Cunha, de 22 anos, decidiu enviar a declaração logo no início com medo de perder o prazo, já que estava passando pelo processo pela primeira vez.
"Tive receio de deixar para depois e acabar enfrentando problemas com a Receita. Então, preferi reunir meus documentos com antecedência e encaminhar ao contador. Assim, se faltasse algum extrato ou informação, haveria tempo para corrigir", explica.
Ela contou que tinha uma noção básica de como tudo funcionava, mas optou por não arriscar. "Já tinha visto meu pai declarando, então entendia superficialmente. Mesmo assim, achei mais seguro contar com um profissional para não deixar nada de fora".
Porém, caso não tenha conseguido enviar com antecedência e tenha deixado para a última hora, é fundamental seguir as orientações dos especialistas e da Receita para não incorrer em erros na declaração. A advogada Camila Tapias destaca que, na ausência de todos os dados necessários, o melhor caminho é entregar o que estiver disponível e corrigir depois. 
"Se não for possível reunir toda a documentação até o encerramento do prazo, o mais indicado é enviar o que já estiver em mãos e fazer a retificação depois. Mas é importante lembrar: só é possível corrigir o formulário se a original for entregue dentro do período estipulado", alerta.
Prazo para envio da declaração do IRPF
O período para envio das declarações teve início no dia 17 de março e vai até as 23h59 de 30 de maio. O programa do Imposto de Renda 2025 já está disponível para download no site da Receita Federal, com versões compatíveis para Windows, MacOs, Linux e Multiplataforma.

Para quem prefere preencher a declaração online utilizando o modelo pré-preenchido, o acesso pode ser feito pelo aplicativo "Receita Federal", liberado no dia 1° de abril.

* Reportagem do estagiário João Santos, sob supervisão de Marlucio Luna