Carro de Pai Dário, candidato a vereador do Rio, é pichado com frases de intolerância religiosa Divulgação / Pai Dário

Rio - Candidato a vereador pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol) nas eleições municipais 2024, Pai Dário foi alvo de preconceito religioso enquanto se preparava para participar de compromissos de sua agenda de campanha, na terça-feira (17). O caso aconteceu no início da tarde, quando o líder religioso teve o carro pichado com frases ofensivas à sua crença, no bairro de Santa Teresa, região central do Rio.
Um vídeo feito pelo babalorixá do terreiro de candomblé Ilê Onisegun mostra o momento em que ele se preparava para sair com o veículo, que utiliza em sua campanha, quando viu as ofensas. No carro, foi escrito palavras como "ArMaria" (Ave Maria), "Tisconjuro" (desconjuro) e "CRV2eCrer" (Cristo vive e crê).
Segundo o candidato, os ataques começaram nas redes sociais e se estenderam. Em publicações feitas em sua conta no Instagram, Pai Dário denunciou comentários como "Exu é um demônio do inferno". Em contato com O DIA, o candidato classificou o episódio como inaceitável.
"Se uma pessoa que tem voz pública e é candidata sofre esse tipo de violência religiosa, imagina o que ocorre com as casas que são constantemente atacadas? Precisamos lutar pela liberdade religiosa, mas também contra o racismo religioso. É inaceitável que as religiões de matriz africana sejam perseguidas, atacadas e não haja uma atitude do poder público de proteção efetiva ao nosso sagrado", disse.
Na manhã desta quarta-feira (18), o líder religioso foi até a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na Lapa, para registrar um Boletim de Ocorrência. Pai Dário chegou à especializada por volta das 11h e prestou depoimento por quase duas horas.
De acordo com sua advogada, Mariana França, o candidato a vereador entregou fotos das pichações em seu veículo, além de prints das mensagens em sua rede social. Ele também solicitou que os policiais buscassem por imagens de câmeras de segurança da região, para identificar quem escreveu em seu veículo.
Ainda segundo Mariana, a denúncia foi registrada com base no artigo 20 da lei de crimes raciais, que prevê pena de dois a cinco anos de reclusão para quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem de um indivíduo.
Por meio de nota, a Polícia Civil informou que agentes da Decradi estão investigando o caso e realizam diligências para apurar a autoria do crime.
Rio é a cidade com mais casos de intolerância religiosa no Brasil
O município do Rio registrou o maior número de casos de intolerância religiosa em todo o país, durante o primeiro semestre de 2024. De acordo com dados do Disque 100, canal de denúncias do Ministério dos Direitos Humanos, das 1.227 denúncias registradas entre janeiro e junho deste ano, 147 foram na capital fluminense.
Esse número representa um aumento de mais de 80% nas denúncias contra liberdade religiosa em relação ao mesmo período do ano passado, que contabilizou 681 casos. Ainda de acordo com dados do Disque 100, 95% das vítimas de intolerância religiosa são pessoas negras ou pardas. Destas, 60,5% são mulheres e 32,4% são homens, como foi o caso de Pai Dário.