Nascido e criado no bairro de Olaria, Joel Natalino Santana se tornou uma das figuras mais carismáticas e marcantes do futebol carioca.Divulgação

Nascido e criado no bairro de Olaria, Joel Natalino Santana se tornou uma das figuras mais carismáticas e marcantes do futebol carioca. Não é à toa que passou a ser conhecido como o 'Rei do Rio' por causa de todas as conquistas nos quatro grandes clubes. Com passagens emblemáticas no Flu e no Fla, o agora youtuber Papai Joel falou ao Contra-Ataque e analisou o momento das equipes para o clássico de logo mais.
Flamengo
"O Flamengo é uma equipe que tem um grupo de jogadores equilibrados, experientes, e vem disputando títulos, vem vivendo com mais tranquilidade, com mais competência no Brasileirão. Apesar de ter muitos jogadores nas seleções, tem um grupo competente, onde qualquer jogador que entrar vai dar certo. Tem boas peças de reposição."
Fluminense
"Que o Fluminense consiga botar uma equipe à altura de suas tradições, só está demorando para definir o miolo de zaga. Eles perderam os dois jogadores de contenção de defesa que ao mesmo tempo saíam para jogar, que são André (lesionado) e Nino (transferido). No nosso canal no YouTube eu já havia falado que o Diniz ia sofrer com isso. O Diniz não pensou nisso e quis manter a mesma situação. Ele teve sucesso, ganhou uma Libertadores, mas os caras iam passar a estudá-lo. Ele manteve e está sofrendo."
Joel comentou a situação de Diniz, que vem pressionado pela campanha ruim no Brasileirão. "Agora, se deve trocar o Diniz ou não, eu sou contra. Porque é um técnico competente, apesar de ser um pouco nervoso na beira do campo, ele precisa consertar isso, ter mais equilíbrio emocional, mas é um bom treinador. Não vai ser fácil encontrar um treinador dessa competência."
Eternizado na Calçada da Fama do Maracanã
Em abril deste ano, merecidamente, Joel foi eternizado na Calçada da Fama do Maracanã. Querido por todas as torcidas, ele é o segundo treinador mais vencedor do Cariocão na história, com sete títulos. Emocionado, Papai Joel lembrou desse momento especial. A cerimônia foi organizada pela Suderj.
"Eu não esperava. Sou do tempo da geral, não tinha dinheiro. Eu saía de Olaria, pegava o trem para ir ao Maracanã ver as grandes equipes, principalmente o Santos, com aquele time fabuloso de Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Era demais", recorda Joel sobre sua juventude.
"Então, eu sou uma pessoa que nasceu dentro do esporte. E aqui no nosso país você geralmente é lembrado quando não existe mais. Ser lembrado em vida, no maior estádio do mundo, onde construí a minha história, onde meu pai, minha mãe, meu tio me viram me tornar treinador e ser campeão, e ser reconhecido pelo trabalho", diz.
"Não foi só o Joel, foram todos que trabalharam comigo. Jamais vou esquecer. Vai ficar gravado na minha mente", completa o primeiro treinador a colocar os pés na Calçada da Fama.
Papai tá on
Depois de comandar times no mundo árabe, no Japão, nos EUA, em diversas partes do Brasil, além da Seleção da África do Sul, Papai Joel iniciou sua carreira nas redes sociais em 2019. Desde então, ele, junto com Adry Santos, tem o Canal do Joel no YouTube e no Instagram (@canaldojoeloficial), onde comenta sobre futebol.
Passagem histórica pelo time das Laranjeiras
Quando falamos do clássico, um título que não sai da cabeça do torcedor tricolor é o de 1995, com o famoso gol de barriga. Joel era o comandante da equipe campeã. Ele volta no tempo, naquele dia 25 de junho, para relembrar o momento.
"Quando me deparei comigo eu estava dentro de campo. Foi um gol inesquecível para o cenário futebolístico, não só pelo Fluminense, pelas outras equipes, quem acompanhou o jogo viu", conta, lembrando a temporada que teve.
"O Fluminense estava num ano difícil, fizemos uma equipe praticamente em cima do campeonato, e conseguimos armar um time que realmente ficou quase que imbatível", diz Joel, se referindo aos confrontos contra o Fla. Naquele ano foram cinco partidas, com três vitórias do Flu e dois empates.
"E o Carioca terminou com aquele gol inesquecível do Renato Gaúcho. Uns dizem que foi do Aílton, outros dizem que foi do Renato, mas eu não queria saber. O Flamengo era o franco favorito, jogava pelo empate, o Fluminense estava há 10, 12 anos sem ser campeão. Enfim, tem coisas na vida que a gente não esquece. E essa eu vou não vou esquecer jamais."
Com mais de 110 mil pessoas no Maracanã, o Fluminense fez 3 a 2 sobre o Fla no ano do centenário do rival.
Maior desafio da carreira foi na equipe da Gávea
Tá ruim? Chama o Joel. Foi isso que fez o vice-presidente do Flamengo, Kleber Leite, em 2005. Na zona de rebaixamento do Brasileirão e com uma probabilidade alta de cair, a direção rubro-negra fechou com o treinador para salvar o time. Ele conseguiu.
Joel conta que tirar o Flamengo daquela situação foi um dos maiores desafios de sua vida. "O clube estava praticamente declinado. Chegamos faltando nove jogos, eram cinco fora e quatro em casa. Nós conseguimos, principalmente, com a ajuda do torcedor, porque nós não tínhamos o Maracanã. Jogamos no campo da Portuguesa. Não foi mole, não", recorda.
"Os desafios acontecem se a gente sentir. Agora que estou num momento mais saudosista, eu estou lembrando dessas histórias. Foi um momento muito difícil", diz Joel, que também revela a impotência dos dirigentes, que aceitaram a proposta do treinador de levar o grupo para treinar em Teresópolis.
Joel assumiu contra o Juventude, em Caxias do Sul (RS). Lá, o Fla ficou no empate por 2 a 2. "Ali começou a transformação da equipe, os jogadores começaram a acreditar e nós tínhamos um sentimento muito grande um pelo outro. A torcida começou meio desconfiada, mas depois apoiou. Foi muito gratificante e o sentimento foi igual ou até melhor do que ter conquistado um título. Também vai ficar gravado para sempre."
Depois, o Mengão venceu o Coritiba (2x1), Palmeiras (1x0) e Botafogo (3x1). Empatou com a Ponte Preta (2x2). Conquistou os três pontos diante do Paraná (1x0), empatou com o Goiás (0x0) e encerrou o Brasileirão goleando o Paysandu (4x1).
Carinho dos atletas
Poucos treinadores conseguiram ter o grupo na mão como Joel. O apelido de papai não foi de graça. Na atualidade, dois jogadores causaram polêmicas por suas atitudes dentro e fora de campo. Longe das quatro linhas, Gabigol apareceu vestindo a camisa do Corinthians. Do outro lado, Felipe Melo foi expulso por perder a cabeça contra o Atlético-GO. Como administrar essas situações?
"Eu acho que tudo na vida tem conversa. Quando você é técnico, o que fala fica gravado na mente dos jogadores. Até hoje tem atletas que trabalharam comigo há mais de 15 anos que têm guardado o que eu falava. A minha mensagem era para tomar conta do meu ninho e transformá-los em pessoas bem sucedidas. Esses dois merecem carinho. Um filho quando erra, você não bate nele. Você senta e conversa, mostrando o que é preciso fazer para melhorar. Todo mundo erra."