Rhullyt Azevedo (à esquerda), o "Budião", deu um show na última seletiva do Volta do Mundo(Foto: Divulgação)
Natural de Manguinhos, balneário de forte apelo turístico no município de Serra (ES), o atleta chegou à Capoeira a partir do projeto social hoje chamado Rasteira nos Descaminhos. Discípulo do Mestre Capixaba - fundador do grupo A.C.A.P.O.E.I.R.A. e corda marrom na modalidade -, ele contou como o título mudou a percepção das pessoas até mesmo sobre a Capoeira enquanto esporte:
“Cheguei nos projetos onde dou aula com uma recepção diferenciada, pais de alunos cruzando a quadra para falar comigo, outros grandes capoeiristas, amigos e parceiros de treinos me abraçando, me elogiando… É um passo dado inclusive diante de pessoas que não acreditavam nessa vertente da Capoeira, nesse potencial esportivo, que pensavam que era só rodas com pessoas em volta jogando. Os alunos, por exemplo, passam a pensar: ‘se meu professor chegou, eu também posso chegar`”.
Ensino a partir da própria vivência na Capoeira
Conduzido à Capoeira há 24 anos por seu tio, então Instrutor (hoje Mestre) Manguinhos, Rhullyt começou na modalidade acompanhado por primos e irmãos, e teve ali uma aliada diante de seus primeiros adversários, ainda na fase inicial da vida.
“Tive uma infância um pouco difícil, perdi meu pai cedo e fui criado com a força de várias pessoas da minha família, como minha mãe, avó paterna, tios e tias. Não fui uma criança fácil, era um tanto rebelde, brigão. Quando entrei para a Capoeira, a disciplina me foi imposta. Muitas vezes eu reagia, mas era logo corrigido pelo meu tio. A Capoeira transforma ao ensinar sobre hierarquia, respeito, inclusão social. Como todo esporte ministrado com excelência, traz disciplina, ocupa o tempo e apresenta possibilidades, oportunidades e caminhos”, analisou o atleta.
Os ensinamentos que recebeu sobre disciplina, obediência e respeito à hierarquia são o modelo de aprendizado que aplica com cerca de 260 alunos que estão sob a liderança sua e de sua esposa na instituição COM MANGUINHOS, no Centro Cultural de Manguinhos e em escolas da região. Na convivência com suas turmas, Budião enxerga nos meninos e meninas aspectos que ele mesmo vivenciou em sua infância e adolescência.
"Eu passei por todas essas etapas e sei como as crianças precisam de atenção, cada uma de forma específica, a gente sabe a melhor condução para cada momento, seja uma aula, uma conversa, um momento em que elas possam se expressar. Como eu já fiz parte disso, tenho uma linguagem bem próxima, familiar a eles”, avaliou o capoeirista, que demonstra nas palavras a identificação com seus alunos.
“Vejo tudo que passei no rostinho deles, vejo como cada um começou no primeiro dia e como apresentaram mudanças comportamentais em poucos meses. Ver o respeito, o carinho que cada criança dessa tem por mim é o melhor dos retornos, é revigorante. Fico muito feliz em poder retribuir o que já fizeram por mim”.
Um olhar próprio sobre as competições
Acumulando experiência e bons resultados em competições que o credenciam à participação na terceira edição do VMB, ele conta que sua preparação inclui uma estratégia particular no local onde compete. Budião admite gostar de observar os jogos dos demais atletas participantes, algo que percebe que nem todos optam por fazer:
"Tem gente que chega, fica no canto, põe o fone de ouvido e fica quietinho, mas eu gosto de acompanhar todos os jogos para ver as estratégias que posso montar, porque sei que dali sairão meus próximos adversários. Bate aquele frio na barriga quando você vê alguém jogando bem, fazendo movimentos que não são do seu repertório", admitiu, sempre atento à atmosfera do evento.
O título rendeu a ele a premiação financeira do evento e uma vaga garantida na terceira edição do Volta do Mundo – Bambas, compondo o card masculino com outros sete atletas que jogarão pelo posto de próximo desafiante pelo cinturão, que será disputado por Erick Maia, campeão do primeiro VMB e dono do cinturão nesse momento, e Arthur Fiu, vencedor da segunda edição.
A preparação para o Bambas vai exigir organização por parte do atleta, que reconhece a intensidade de sua rotina, com “Capoeira todo dia e toda hora”, em suas próprias palavras. Ele concilia aulas em três turnos ministradas em diferentes locais, treinos com o Mestre Capixaba duas vezes por semana e treinos de mobilidade e na academia com as responsabilidades de um pai de dois filhos – também capoeiristas – e a presença em eventos como integrante de outras manifestações tradicionais de Manguinhos: o congo, a batucada e o samba.
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