O artista Eduardo Kobra em frente a obra Divulgação / Globo
Eduardo Kobra homenageia Gloria Maria em obra exposta no Museu de Cultura Afro-Brasileira
A tela que demorou 15 horas para ser feita chega ao museu, no Rio, neste sábado (11)
Rio - Vizinho ao Cais do Valongo, na Gamboa, o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab) recebe uma tela com a imagem de Gloria Maria, feita pelo muralista Eduardo Kobra. Criado em 2017, o Muhcab abriu as portas para o público em novembro de 2021 e, neste sábado (11), expõe a tela de quatro metros de altura por três metros de largura.
A obra pode ser vista no saguão principal do museu de quarta a sábado, das 10h às 17h, até o dia 11 de março. O artista Kobra estará no museu para a abertura da visitação às 10h30 de hoje. Segundo o artista, foram cem latas de spray na composição da obra, que foi realizada em seu ateliê em Itu, São Paulo, no tempo recorde de 15 horas.
A tela, feita em tecido, retrata a jornalista, que aparece toda colorida, cercada de borboletas e segurando o globo terrestre. Em entrevista ao DIA, Kobra ressaltou a importância de Gloria Maria e explicou a escolha de pintar o mundo nas mãos da jornalista. "Ela tinha o planeta nas mãos e trouxe toda a beleza, toda a história e todo o mundo para dentro das nossas casas", disse o artista.
O muralista Eduardo Kobra se diz inspirado pela jornalista e demonstra identificações. "As matérias que ela fez viajando pelo mundo me inspiraram. Nós temos conexões: ela viajou muito e eu já fui para mais de 30 países, ela sempre foi a trabalho e eu também. Eu sou pequeno, mas tive essa inspiração", finalizou Kobra.
"A ideia de levar para o Muhcab foi do ‘Fantástico’, entendendo ser este um local de relevância identitária para receber a homenagem de uma figura tão representativa para mulheres e homens pretos, sobretudo na área da comunicação”, conta Leandro Santanna, diretor do museu, que recebeu mais de 40 mil visitantes em 2022.
Kobra disse que além de Gloria Maria ser uma excelente profissional, ela quebrou barreiras e paradigmas. "Pela sua origem, pela sua força, pela sua resiliência, ela nos mostrou como vale a pena sonhar e acreditar nos nossos objetivos", concluiu o muralista.
O artista
Aos 48 anos, Eduardo Kobra tem três mil murais em cerca de 35 países. Algumas das obras de destaque são: "Etnias – Todos Somos Um", no Rio de Janeiro; "Oscar Niemeyer", em São Paulo; "The Times They Are A-Changin" (sobre Bob Dylan), em Minneapolis; "Let me be Myself" (sobre Anne Frank), em Amsterdã; "A Bailarina" (Maya Plisetskaia), em Moscou; "Fight For Street Art" (a Basquiat e Andy Warhol), em Nova York; e "David", nas montanhas de Carrara, na Toscana, região da Itália.
Em todos os trabalhos, o artista busca democratizar a arte e transformar as ruas, avenidas, estradas e até montanhas em galerias e museus a céu aberto. Dois desses murais entraram no Guinness World Record, como o “maior mural do mundo”. Primeiro “Etnias – Todos Somos Um”, no Rio, com cerca de três mil metros quadrados e, depois, o “Mural do Chocolate”, localizado na rodovia Castello Branco, em Itapevi, em São Paulo, com 5.742 metros quadrados. Em 2018, pintou 20 murais nos EUA, 18 deles em Nova York.
O museu
O Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab) é um dos 15 pontos de memória que compõem a Pequena África, na Região Portuária, no Rio de Janeiro. Mantido pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio, o Muhcab foi criado em 2017, por decreto, mas só foi aberto para o público em 2021. Além da tela de Eduardo Kobra, é possível visitar a exposição dos materiais arqueológicos achados na região do Cais do Valongo. Durante as obras do Porto Maravilha, que começou em 2011, foram encontrados mais de 1,2 milhão de itens com interesse arqueológico dos quais 262 mil estavam na região do Cais.
O acervo do museu guarda aproximadamente 2,5 mil itens, entre pinturas, esculturas e fotografias. A atual gestão executou a limpeza e o restauro das calhas para impedir vazamentos e as peças passaram por higienização, algumas também por pequenos restauros ou ganharam uma nova moldura.
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Bernardo Costa